O enredo de um golpe financeiro é sempre o mesmo: os ganhos prometidos são tentadores, os retornos podem aumentar caso o participante indique novos investidores de indicações e os líderes da empresa ostentam carros e acessórios de luxo.
E, de fato, quem é atraído pelo esquema recebe, inicialmente, grandes retornos. Até que um dia “a casa cai”: a empresa começa a alegar que está com problemas para realizar pagamentos, ou que foi vítima de fraudes.
Essas características são típicas de uma pirâmide financeira e foi dessa forma que atuou a Unick Forex, o mais recente caso de suspeita de pirâmide financeira divulgado no país.
Ao vender cursos sobre a aplicação financeira Forex, que consiste em apostar na valorização ou queda de uma moeda sobre outra e não é regulado no Brasil, a Unick prometia aos investidores uma comissão como participação nas vendas dos pacotes educacionais.
A empresa chegou a ter 1 milhão de investidores até que a Polícia Federal, com o apoio da Receita, chegou a identificar captações de 40 milhões de reais em um dia pelo que chamaram de “organização criminosa”. A Unick parou de pagar seus investidores em agosto.
Veja abaixo cinco dicas para não cair em esquemas como o da Unick Forex que valem para qualquer golpe financeiro:
Fuja de ganhos rápidos e exorbitantes
A Unick Forex prometia aos seus investidores dobrar retornos em apenas seis meses. Ou seja, um rendimento de 100% em menos de um ano. A poupança rende, com a Selic a 5,5%, menos de 4% em seis meses.
Fundos multimercados, em torno de 6,43%. E mesmo investimentos em fundos passivos (ETFs) na bolsa, que são mais arriscados, podem render menos de 12% no mesmo período, já descontado impostos e taxas, segundo cálculos do professor do Insper, Michael Viriato.
Desconfie de comissão para recomendar outros investidores
Essa é a regra clássica de uma pirâmide financeira. O objetivo é incentivar a entrada de novas pessoas no esquema é que os valores investidos por elas subsidiem o retorno de quem já está no esquema há mais tempo.
Esse arranjo não se sustenta por muito tempo, à medida em que menos pessoas topam participar dele e os proprietários dão um jeito de fugirem de uma eventual batida policial. Como resultado, os novos entrantes ficam sem o dinheiro prometido.
Não se iluda com líderes que ostentam artigos de luxo ou garotos-propagandas famosos
O ego, quando se trata de pirâmides financeiras, é um inimigo, diz Rudá Pellini, diretor da startup Wise Trust. “O chamariz desses golpes é mostrar pessoas que tiveram resultados e adquiriram carros caros e viagens internacionais. Talvez essa pessoa seja até alguém próximo que vai tentar te convencer a não perder a oportunidade. Não caia nessa”.
Garotos propagandas famosos também não devem iludir o investidor. A Unick Forex, por exemplo, chegou a publicar depoimentos de Dedé Santana, ex-Trapalhões, e da cantora Simoni para atrair usuários para o esquema.
Pesquise se a empresa ou os produtos que vendem têm histórico no mercado
Pesquise sempre sobre a empresa (busque dados como CNPJ e endereço), o vendedor, produto vendido e executivos que estão à frente do negócio. “Provavelmente, na primeira busca, você já encontrará informações para desmascarar o golpe”, diz Pellini.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Reclame Aqui são boas fontes de consulta. No site da CVM, é possível checar o CNPJ das empresas que oferecem serviços relacionados a investimentos, como fundos, gestoras, consultorias e corretoras.
A Unick Forex tinha CNPJ em nome de outra empresa e dinheiro em paraísos fiscais. A CVM divulgou três comunicados públicos sobre a empresa, um deles apontando que havia indícios de pirâmide financeira em sua atuação.
Investimentos “da moda”, com risco e sem regulação no país, são foco
As criptomoedas, como a bitcoin, e o mercado Forex costumam ser o foco de esquemas de pirâmides financeiras. Isso porque unem características como maior complexidade, alto risco, potencial de ganhos.
Dessa forma, esquemas de pirâmides financeiras instigam a curiosidade de investidores que, por desconhecimento, ficam mais suscetíveis a cair nessas ciladas.
Além disso, os investimentos têm em comum a falta de regulação no país. Portanto, não há mecanismos de proteção ao investidor contra fraudes ou quebra da empresa
Esses “investimentos” podem até ser oferecidos por quem se autointitula como corretora ou consultor de investimentos. Nesse caso, é possível checar o registro da entidade e profissional na CVM, que é necessário para que atuem no mercado financeiro.
Pellini aconselha a sempre perguntar sobre os riscos da aplicação. “Geralmente os golpistas tentam persuadir com falsas garantias, como imóveis que não existem. Empresas legítimas são transparentes sobre os riscos envolvidos e prometem garantias palpáveis”.
Fonte: Exame