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Veteranos do mercado criam gestora de patrimônio

Terça, 29 Outubro 2019

Em 9 de junho de 1989, quando a bolsa de valores do Rio de Janeiro quebrou em meio a uma crise deflagrada por cheques sem fundo no valor de dezenas de milhões do megainvestidor Naji Nahas, que foram emitidos para cobrir operações no mercado acionário, Robert van Djik e Reinaldo Lacerda já eram jovens veteranos de mercados financeiro e de capitais, com uma década de carreira. “Naquela época, as bolsas tinham giros modestos, de apenas algumas dezenas de milhões por dia”, lembra van Dijk, que, junto com Lacerda, acaba de abrir as portas de sua própria gestora de patrimônio, a Hieron.

O “crash” de 1989, que marcou o início do declínio do pregão carioca, incorporado posteriormente pela Bovespa, atual B3, em 2002, é uma das muitas memórias colecionadas pelos dois em 40 anos de carreira. Os executivos sempre atuaram em instituições financeiras, como Bradesco, Santander e, mais recentemente, no Votorantim.

Por isso, uma questão tem sido recorrente quando van Dijk e Lacerda apresentam sua nova casa: por que, após décadas em grandes bancos, começar a empreender agora? Os gestores são taxativos: “sentimos que era hora e vimos a grande oportunidade de levar adiante um negócio como a Hieron”.

A oportunidade, no caso, é um momento singular na história dos mercados. Para o gestor, existe hoje globalmente uma conjuntura muito favorável à gestão independente de patrimônio, com alta liquidez, juros baixos e demanda por diversificação.

Some-se a isso um ambiente inédito no Brasil, de juros na mínima histórica, com perspectiva de se manter em um dígito por alguns anos e a substituição do crédito subsidiado público pelo financiamento por meio do mercado de capitais.

O momento do país também favorece, porque, diz Lacerda, existe perspectiva de aceleração das operações de fusões e aquisições, o que tende a ampliar a liquidez para muitas famílias abastadas. Trata-se de cenário no qual a significativa bagagem acumulada fará toda a diferença. “É um momento de busca por retornos de longo prazo, com juros baixos, que vai exigir muita qualidade de gestão.”

Nos 40 anos de carreira, a dupla participou ativamente da história da indústria que chega a 2019 com marcas expressivas, como um giro de R$ 12,5 bilhões diários apenas nas ações do Índice Bovespa, e os R$ 5,2 trilhões de patrimônio nos fundos de investimentos.

Como representantes de instituições financeiras, os profissionais integraram por vários anos a Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Mais recentemente, ocuparam as funções de presidente, no caso de van Dijk, entre 2016 e 2018, e diretor, cargo que Lacerda deixou neste ano.

A nova casa é, por definição, um “family office”, ou seja, uma gestora de fortunas. Mas o grupo também criou uma asset, um braço de gestão de recursos, que vai estruturar fundos e produtos de investimento tanto aos próprios clientes quanto abertos ao mercado. O nome da empreitada, de origem grega, incorpora vários significados, entre os quais “templo” ou “santuário”.

A gestora já nasce com mais de R$ 1 bilhão em ativos sob gestão e “a caminho do segundo bilhão”, atesta van Dijk. Atentos também à cada vez maior demanda por diversificação internacional, a Hieron também já traz uma atuação global.

Com um pé lá fora

Os gestores agregaram como sócio no negócio a CdR Hollander, fundada pelo brasileiro Carlos Hollander, mas que atua nos EUA, em Londres, no Reino Unido, Dubai e Genebra, na Suíça.

Segundo van Dijk, mais do que “investir a parte líquida do patrimônio” para as famílias, a nova casa se propõe a preservá-lo no longo prazo, além de buscar formas de criar riqueza. Nesse objetivo, a asset do grupo se revela um trunfo.

O braço de produtos da Hieron permite estruturar veículos de investimento sob medida para as famílias, bem como abre a possibilidade de formatar produtos híbridos, com parte dos recursos de clientes e outra fatia captada no mercado, além de produtos “puros”, abertos aos investidores em geral.

Lacerda cita, como exemplo, a criação de um fundo de participações a uma família que tinha acabado de vender sua empresa e usar a liquidez recém-adquirida para investir em projetos de energias renováveis, como parques eólicos. Com meta de captação de R$ 600 milhões, parte dos recursos foram integralizados pelo cliente. Mas o restante veio por meio da listagem do fundo, com entrada de mais de mil cotistas. “A família se entregou a esse projeto como parte de seu próprio patrimônio”, diz.

A gestora também aponta o setor de imóveis como aposta. “O fundo imobiliário hoje é uma realidade que não era há seis anos”, aponta Lacerda. “Estamos lançando um FII para comprar oportunidades em estoque, sejam comerciais ou até residenciais”, explica o sócio da Hieron.

“Nossa missão maior é levar bem-estar financeiro, patrimonial e familiar” aos clientes, considera van Dijk. “É um processo que envolve educação e planejamento sucessório”, resume.

 

Fonte: Folha Investe