Agendada para a próxima segunda-feira (28), a oferta pública inicial de ações (IPO) do banco BMG alimenta expectativa entre investidores, após o sucesso da abertura de capital de outro banco mineiro, o Inter. No entanto, casas de análise de investimentos têm desaconselhado a participação de clientes na operação.
Entre os principais motivos estaria o preço da ação, fixado entre 11,60 reais e 13,40 reais. A faixa indicativa foi considerada elevada demais. Outro motivo seria a alta concentração do negócio em um só segmento, o de crédito consignado, que desconta os valores diretamente do pagamento de salários ou benefícios, como aposentadoria.
Controlado pela família Pentagna Guimarães desde sua fundação, em 1930, o banco não emitirá ações ordinárias, que dão direito a voto ao acionista. Ao todo, serão emitidas cerca de 120 milhões de ações preferenciais, sendo 86% no mercado primário e 14% no secundário.
Considerando o valor médio da faixa indicativa, de 12,50 reais por ação, a oferta poderá movimentar cerca de 1,5 bilhão de reais. A Levante Investimentos prevê potencial de valorização de “apenas” 18%, caso no próximo ano a companhia atinja 13,7% de retorno sobre o patrimônio líquido (ROE), um dos principais indicadores de rentabilidade de uma empresa.
O foco do BMG em crédito consignado, menos rentável se comparado a outros produtos financeiros, é um fator limitante para o crescimento do ROE. “Acreditamos que a relação risco e retorno das ações do banco BMG não é favorável pelo baixo potencial de retorno”, escreveu a Levante em relatório sobre o IPO.
Já o sócio-fundador da Nord Research, Bruce Barbosa, é mais veemente e, em boletim a clientes, sugere: “fuja do IPO do BMG”. Ele argumenta que o ROE do BMG está abaixo dos 9% enquanto grandes bancos, como Itaú, Santander, Bradesco e Banco do Brasil superam os 15%. De acordo com ele, o maior custo de captação do BMG, se comparado aos gigantes do setor, é um dos fatores que explicam a discrepância.
Preço caro por ação
Para Barbosa, é na hora de analisar o custo por ação “que a coisa complica ainda mais”. “O banco das pastinhas quer ser negociado a preço de banco digital”, afirma em relatório. “Pastinhas” porque, segundo ele, o BMG tenta se vender como digital, mas ainda alimenta hábitos do passado, como “bater à porta para oferecer serviços”.
Em sua análise, as relações entre preço e valor patrimonial (P/VPA) e preço e lucro (P/L) do BMG só não são superiores às do Banco Inter. Os indicadores são utilizados para avaliar se a ação está supervalorizada.
Já a Suno Research, que também não recomenda a compra de ações do BMG no IPO, vê a relação entre preço e valor patrimonial da empresa apenas inferior à do Itaú e do Banco Pan. Isso se justifica, diz a casa, já que tanto o Itaú como o Pan apresentam ROE com mais de 6 pontos percentuais superiores aos do banco de Minas Gerais.
Dos 10,3 bilhões de reais da carteira de crédito total do BMG, 7,5 bilhões de reais provêm de cartões de crédito consignado, serviço encarado pela Suno como de risco potencial para os acionistas, “visto o histórico de mudanças regulatórias” no país.
“Por exemplo, caso o Banco Central venha a aumentar significativamente o limite de consignado para aposentados, os bancos que operam esse tipo de crédito ficariam, quase que instantaneamente, descapitalizados”, escreveram analistas da Suno em relatório.
Outro ponto que, para a Suno, pode pesar no futuro desempenho da ação na Bolsa, é a intensificação da concorrência no setor de crédito consignado, já bastante competitivo. Segundo a casa, novos participantes como fintechs e bancos digitais podem levar os spreads a patamares menores nos próximos anos.
Quem quiser comprar as ações do BMG no IPO deve fazer reserva até quarta-feira (23). O valor mínimo para participar é de 3 mil reais e o máximo é de 1 milhão de reais por pessoa física, jurídica ou clube de investimento. O período de precificação termina na quinta-feira (24).
Fonte: Exame