Em meio a uma alta histórica no volume de ofertas de empresas brasileiras no mercado de capitais nos primeiros nove meses de 2019, um dado chamou a atenção: pessoas físicas estão participando proporcionalmente mais das subscrições de renda fixa, mas estão menos presentes em algumas das modalidades de renda variável.
Segundo dados divulgados nesta quinta-feira (10) pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a proporção de pessoas físicas em ofertas de ações caiu de 8,5% em 2018 para 5,8% em 2019.
O principal motivo para a queda está no uso crescente das ofertas em que as pessoas físicas não são chamadas a participar (baseadas na Instrução 476 da CVM), e que acabam sendo usadas pela velocidade na captação.
Mas como houve forte aumento no volume de ofertas de ações em si, em termos absolutos o valor aplicado pelas pessoas físicas nessas operações saltou de R$ 586 milhões para R$ 3,34 bilhões. Essa última cifra representa 14,6% do valor das ofertas públicas amplas, em que o público de varejo participa (reguladas pela Instrução CVM 400).
Por outro lado, a participação das pessoas físicas cresceu em alguns produtos de renda fixa, como os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio; alta de 71,1% em 2018 para 81,2% em 2019).
Também houve leve crescimento na participação das pessoas físicas nas subscrições de debêntures (de 3,1% em 2018 para 3,9% em 2019), e grande alta na proporção das pessoas físicas no recorte específico de lançamentos de debêntures incentivadas (de 19,8% em 2018 para 29,9% em 2019).
"Esse crescimento da proporção de pessoas físicas em algumas modalidades do mercado de capitais tem a ver com o maior acesso que elas estão tendo aos títulos, devido ao crescimento das plataformas de investimento, que promovem a desintermediação financeira", explica o consultor financeiro Marcelo D'Agosto, colunista do Valor Investe.
Já nos CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), essa participação caiu de 45,6% em 2018 para 28,1% em 2019.
E também houve queda na proporção que tomou parte dos FIIs (Fundos de Investimento Imobiliário), de 63,8% em 2018 para 49,4% em 2019.
D'Agosto aponta uma curiosidade com relação à diminuição da participação das pessoas físicas nos lançamentos de FIIs; embora tenha havido queda nessa proporção no que diz respeito às emissões de novas cotas, a B3 identificou recentemente um crescimento no número de pessoas físicas que investem em fundos imobiliários negociados na bolsa.
"Ou seja", comenta D'Agosto, "aparentemente o investidor está dando preferência para comprar os fundos negociados em bolsa, em detrimento daqueles ofertados no mercado primário".
Já a queda na participação das pessoas físicas nos CRIs pode ser creditada, segundo o especialista, ao desaquecimento recente nesse segmento, que agora almeja um ciclo de recuperação.
Entidade celebra volume recorde de ofertas
A despeito das flutuações nas pessoas físicas, o clima geral é de celebração; o volume total de ofertas de empresas brasileiras no mercado de capitais de janeiro a setembro deste ano alcançou R$ 335,1 bilhões, informou a Anbima. Em relação aos R$ 237,7 bilhões alcançados no igual intervalo de 2018, o crescimento foi de 41%.
Os números incluem ofertas de ações, renda fixa e híbridos (notas promissórias, CRAs, CRIs e fundos imobiliários) e bonds vendidos no mercado externo.
A principal razão para o crescimento foi a retomada das ofertas de ações. Elas passaram de R$ 6,9 bilhões de janeiro a setembro de 2018 para R$ 57,6 bilhões, volume cerca de 8 vezes superior, no mesmo período deste ano.
“Acho que estamos num momento realmente muito bom. Os bancos estão recebendo clientes com frequência e há um pipeline bastante grande de empresas que estão em conversas, escolhendo o melhor formato e o melhor momento para virem ao mercado”, comentou José Eduardo Laloni, vice-presidente da entidade, durante teleconferência com jornalistas.
Segundo ele, há uma demanda por mais opções de papéis de empresas, consequência do cenário de juros baixos e do apetite dos fundos diante do bom desempenho do Ibovespa.
“Com a dinâmica do mercado de capitais local comprando bastante uma parte das emissões, os fundos de ações brasileiros estão crescendo. E, à medida em que a bolsa vai performando, os fundos precisam de empresas novas para compor seu portfólio e gerar valor. Isso tem motivado essas conversas que mencionei, já estamos vendo os IPOs voltando e os follow-ons crescendo”, completou.
Fonte: Folha Investe