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Brasileiro usa mais fintech de investimento e gestão financeira do que a média mundial

Sexta, 04 Outubro 2019

Basta uma passeada num centro comercial de grandes cidades para ver que a tecnologia está muito mais presente hoje na nossa vida financeira do que poucos anos atrás. As ‘maquinhas’ de cartão se popularizaram até entre pequenos comerciantes e camelôs. Já tem até gente oferecendo pagamento rápido via leitura de QR Code (aquele quadrado que parece um código de barras). A maioria já consegue pagar conta sem ir na agência ou lotérica. Até para fazer gestão do dinheiro e investir tem opções digitais.

Um estudo da consultoria internacional EY veio para corroborar o que já dava para perceber nas ruas e nos bytes: os brasileiros estão mais digitais financeiramente e consumindo mais serviços de produtos das fintechs, startups que atuam na área.

Quatro em cada dez brasileiros entrevistados para a pesquisa “Global FinTech Adoption Index 2019” usam serviços de fintechs de planejamento financeiro (41%) e investimentos (40%). Isso é mais do que a média global (29% e 34%, respectivamente). Esses serviços são mais usados entre os mais jovens, que tem entre 18 e 34 anos, e pessoas mais velhas, de 55 a 64 anos.

”Vale um destaque para a forte adesão de fintechs de planejamento financeiro entre os mais jovens, com menos de 25 anos, que estão começando a ter vida financeira e gostam de ter o controle das próprias contas. Não é algo só do Brasil, é uma tendência mundial”, comenta Chen Wei Chi, sócio de consultoria em Serviços Financeiros para Transformação Digital e Inovação da consultoria EY.

Algumas fintechs brasileiras expoentes nesta área são o Guiabolso e a Mobills – ambos têm um aplicativo que permite visualizar para onde está indo o dinheiro, classificar gastos e identificar deslizes no orçamento. O Guiabolso oferece a sincronização automática com as contas bancárias. Um concorrente de peso, porém, o Olivia, acaba de chegar no Brasil, esquentando este mercado.

Com relação à procura dos brasileiros por fintechs de investimentos, para Chen Wei Chi, ela está relacionada ao próprio aumento da oferta de opções na área.

“A oferta aumentou muito há dois anos. Isso ganhou força inclusive com o crescimento da própria XP, o advento de outras plataformas como a Pi do Santander e os robôs advisors”, explica Chen Wei Chi.
Além da consolidação das plataformas de investimento como XP, Órama, BTG Digital, e da ascensão de gestoras digitais (robôs, como o Warren, Magnetis, Vérios e Monetus), também cresceu o oferecimento de investimentos em contas de bancos digitais (Banco Inter, Neon, Nuconta, C6 Bank, entre outros).

Esses dois serviços estão crescendo, segundo o executivo, mas a grande popularização das fintechs está mesmo é na área de pagamentos e transferência de dinheiro. Quase oito entre dez brasileiros (77%) usam algum tipo de fintechs dessas, seja para pagar boletos, transferir dinheiro para o amigo, cartão de crédito ou oferecer o pagamento pelas maquininhas de cartão. Neste quesito, estamos próximos à média global (75%).

“A China é um grande case mundial em questão de transferência de dinheiro por meio digital. Por lá, é difícil achar quem ande com dinheiro físico e nem os comércios de rua têm troco fácil, tudo é transferência pelo celular; eles pularam a fase de cartão de crédito”, conta Chen Wei Chi, responsável pelo estudo.

No Brasil, os grandes exemplos de fintechs na área de meios de pagamentos são Nubank (cartão de crédito e agora conta digital) e a dupla PagSeguro e Stone em maquininhas. Segundo a 8ª edição do relatório do FintechLab, é o segmento (meios de pagamento) que mais tem iniciativas: são mais de 150 startups mapeadas, o que representa 29% do total.

Digitalização

O estudo Global FinTech Adoption Index da EY é feito duas vezes ao ano desde 2015. Na edição deste ano, foram ouvidas mais de 26 mil pessoas, em 27 países, sendo 10 emergentes. A amostra incluiu pessoas adultas consideradas "ativas digitalmente", o que significa que não representa toda a população de cada país. É interessante notar que, em relação a si mesmo, o Brasil registrou aumento na "adoção de fintechs", mas a média global cresceu mais rápido.

Em 2017, 40% dos entrevistados brasileiros disseram que acessavam funcionalidades dessas startups. Esta fatia subiu para 64% em 2019. O Brasil cresceu, mas o mundo deu um salto ainda maior: de 16% em 2015, para 33% em 2017 e 64% em 2019.
Em relação a seus pares internacionais, no estudo deste ano, o Brasil é o 16º. Em 2017 era o quarto, atrás de China, Índia e Reino Unido.

É interessante notar que, em questão de faixa etária, muitos brasileiros com mais de 55 anos estão antenados. Entre os serviços digitais de fintechs que eles mais usam estão, em primeiro lugar, as transferências de dinheiro e pagamento de contas e, em segundo, os investimentos.

Isso tem muita relação com dois fenômenos: o da propagação de celulares entre as pessoas mais velhas, que já usam outros aplicativos para se comunicar e realizar outros serviços, e a maior confiança para passar os dados.

Mesmo assim, a pesquisa da EY mostrou que os bancões ainda são os primeiros que metade dos entrevistados pensam na hora que querem contratar um novo serviço financeiro. Apenas 13% citam, como primeira opção, nas fintechs que já tem relacionamento.

Os custos e taxas, contudo, são o grande ‘calcanhar de Aquiles’ das grandes instituições – é a principal razão apontada por 30% dos brasileiros para usarem fintechs.

Para Chen Wei Chi, isso não quer dizer que um ou o outro vai sair vencedor. Os dois atraem públicos distintos e têm suas vantagens e desvantagens. Muitos jovens, por exemplo, não querem nem ouvir falar de Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, Caixa e Santander. Os mais velhos, por outro lado, confiam mais nessas instituições do que nas startups. Mas, uma coisa é certa. A ascensão das fintechs forçou todo o setor financeiro a mudar e, no fim, quem sai ganhando, é o cliente final.

 

Fonte: Valor Investe