O banco de investimentos BTG Pactual fez uma análise da corretora XP Investimentos, que pretende abrir seu capital, e os impactos da operação para o sócio, Itaú Unibanco, que tem 50% do negócio. Nas estimativas do BTG, usando um múltiplo de 30 vezes o lucro líquido estimado em 2 bilhões de reais para 2020, a XP valeria R$ 60 bilhões. Nesse caso, uma participação de 50% do Itaú seria avaliada em 30 bilhões de reais, ou 10% do valor de mercado do Itaú. “Alguém ainda duvida que o Itaú fez um bom negócio?”, concluem os analistas Edurado Rosman e Thomas Peredo.
O BTG observa que a receita bruta da XP atingiu 2,25 bilhões de reais no primeiro semestre deste ano, um aumento de 51% ao ano, um ritmo semelhante ao entregue em 2017-18. Depois de crescer “apenas” 10% em 2018, devido aos pesados investimentos (por exemplo, marketing e mudança para nova sede), o lucro líquido foi de 439 milhões de reais no primeiro semestre (+ 60% a/a).
O relatório do BTG cita o site Brazil Journal, que diz que a XP Inc, novo nome da XP Investimentos, está pronta para abertura de capital nos EUA em breve em uma oferta principalmente primária, e as expectativas são de que o lucro líquido atinja 1 bilhão de reais em 2019. “A XP parece claramente estar no caminho certo…”, dizem os analistas do BTG.
As receitas de serviços aumentam 40% ao ano; as receitas de instrumentos financeiros aumentaram 80% ao ano.
O banco lamenta, porém que a XP mudou a maneira como informa seus números. Também reclassificou os números de 2018, o que dificulta muito as comparações com dados históricos. Independentemente disso, as receitas de serviços totalizaram 1,55 bilhão de reais no primeiro semestre, 40% ao ano a mais, impulsionadas principalmente pelas taxas de corretagem (+39%) e gestão de ativos (+63%). Embora menos representativas, os serviços educacionais aumentaram 166% ao ano e atingiram R$ 43 milhões no primeiro semestre. Curiosamente, as receitas com instrumentos financeiros aumentaram 80% ao ano, atingindo 31% da receita total (ante 26% no primeiro semestre de 2018).
As despesas de comissões e pessoal aumentaram 60% ao ano, reduzindo as margens. Os custos com comissões cresceram 68%, superando o crescimento da receita de serviços (que o BTG considera a única receita comissionável), resultando em uma queda de 5,56 pontos percentuais na receita líquida de serviços após a margem de comissão, para 66% no primeiro semestre deste ano, ante 72% em 1S18. O ROA (ou seja, a receita líquida anualizada acima dos ativos sob custódia, ou AuC, média) mal mudou de um ano para outro, enquanto as pós-comissões do ROA caíram 0,05 ponto. As despesas gerais com vendas e administrativas (SG&A) aumentaram 62% em 12 meses, à medida que a participação nos lucros e despesas com pessoal aumentou 75%, enquanto outras linhas de SG&A cresceram mais próximas das receitas. Finalmente, a margem do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida ou Ebitda) caiu 1,80 ponto percentual, para 32,4%, ante 34,2% no primeiro semestre de 2018.
Ativos sob custódia de R$ 300 bilhões, 50% mais no ano
A XP não divulgou seu mais recente dado de ativos sob custódia (AuC), mas, de acordo com o Brazil Journal, o valor já ultrapassava 300 bilhões de reais em setembro, um desempenho impressionante em comparação com os R$ 200 bilhões divulgados pela XP em 2018 (+ 50% no acumulado do ano). A XP também alcançou mais de 1,3 milhão de clientes ativos. De acordo com o InfoMoney, site de notícias da XP, no fim de agosto, a plataforma de fundos totalizava R$ 100 bilhões, com uma média de captação de 4 bilhões de reais nos três meses anteriores. Os atuais números são impressionantes, diz o BTG, pois se comparam com 400 mi clientes e R$ 80 bilhões em ativos sob custódia no início de 2017, quando a XP tentou fazer um IPO pela primeira vez, mas foi bloqueada pelo Itaú.
Avaliação da XP
O Itaú comprou 49,9% da XP por 6 bilhões de reais em maio de 2017 (avaliação implícita de 100% da XP de R$ 12 bilhões, ou 30 vezes seu lucro. Em algum momento, o banco esperava obter o controle do XP, mas os órgãos reguladores bloquearam a transação, permitindo apenas ao Itaú manter a participação minoritária de 49,9%. O XP já estava indo muito bem por conta própria, observa o BTG. E parece que, com o Itaú como parceiro estratégico, o negócio disparou. O Brazil Journal diz que aqueles próximos ao processo de IPO descrevem o XP como uma fintech lucrativa, com rápido crescimento da receita líquida e um modelo de negócios disruptivo.
Dito isto, um múltiplo de 30x sobre o lucro líquido estimado em 2 bilhões de reais para 2020 implicaria uma avaliação de 60 bilhões de reais. Nesse caso, uma participação de 50% seria avaliada em 30 bilhões de reais, ou 10% do valor de mercado do Itaú. Alguém ainda duvida que o Itaú fez muita coisa?
Fonte: Exame