Apesar da economia fraca, com um crescimento estimado em 0,8% neste ano e talvez 2% no ano que vem, as operações de fusões e aquisições de empresas, reestruturações e emissões de ações devem continuar aquecidas, afirma Alexandre Pierantoni, responsável pela área de Finanças Corporativas no Brasil da consultoria Duff & Phelps.
Segundo ele, mesmo com a guerra comercial entre Estados Unidos e China complicando o cenário externo e a economia fraca, as operações devem crescer e mudar de patamar nos próximos meses. “Mesmo com as crises, o Brasil apresenta uma média de 700 operações de fusão e aquisição por ano, e isso tende a mudar de patamar com a reforma da Previdência, que garante maior previsibilidade para a economia, e a agenda positiva do governo, com a reforma tributária”, diz.
Há um grande espaço também para reestruturação de empresas, pois a redução das taxas de juros no Brasil permitirá às companhias trocar dívidas caras por papéis mais baratos e longos. “Há uma maior demanda por papéis de empresas, já que, com o juro baixo, o dinheiro sai dos títulos do Tesouro e vem para a economia real”, diz.
Pierantoni detecta um movimento de gestores de recursos de famílias ricas, os family offices, de buscar oportunidades em empresas, comprando títulos que podem depois dar direito a participações nessas companhias ou ações diretamente. “As famílias estão realocando os recursos de papéis públicos para a economia real e concorrendo com fundos de private equity, mostrando uma visão mais positiva para a economia no longo prazo”, afirma.
Segundo o executivo, hoje o investidor estrangeiro está mais cauteloso que o local, que está mais acostumado às turbulências políticas. O estrangeiro, diz, estava esperando para ver se a reforma da Previdência ia passar mesmo, e pode esperar um pouco mais para conferir os próximos passos do governo.
“Mas também há estrangeiros que são investidores estratégicos buscando oportunidades nos setores de empresas de agronegócio, tecnologia, e consumo” explica, lembrando que o setor de consumo deve ser beneficiado pela queda dos juros, especialmente o segmento de bens de consumo durável. “Estão todos apostando em colher os frutos desses investimentos daqui cinco ou seis anos”, afirma.
Os estrangeiros voltados para o mercado financeiro, porém, seguem mais cautelosos, como mostra o saldo negativo desses investidores no mercado acionário.
Pierantoni observa que muitas operações de fusão e aquisição nem exigem grandes volumes de investimento. Com as melhoras de governança e profissionalismo, a produtividade aumenta e a própria geração de caixa é suficiente para financiar o crescimento do negócio.
A expectativa também é de aumento nas ofertas de ações, que no primeiro semestre alcançaram R$ 29,2 bilhões. A Duff & Phelps espera 20 aberturas de capital entre o segundo semestre deste ano e o primeiro trimestre do ano que vem. “No primeiro semestre, foram feitos muitos follow-ons (emissão de ações de empresas que já estão no mercado) pois ainda havia algumas incertezas sobre a economia e o investidor tem mais segurança em comprar papéis de uma empresa já conhecida do que de uma que está chegando agora ao mercado”, diz.
Ele espera também um aumento dos negócios com as privatizações programadas pelo governo, e que devem envolver o setor de infraestrutura. “É o primeiro setor a reagir quando a economia se recupera pois todos os demais dependem de infraestrutura”, diz.
Os setores que devem apresentar mais operações de fusões e aquisições nos próximos meses devem ser os de saúde, educação e consumo em geral. No caso de saúde e educação, a movimentação se justifica porque são setores que apresentam déficits estruturais e o governo não deverá resolvê-los.
Já consumo deve se aquecer com a redução dos juros. Há ainda os setores ligados à infraestrutura, que vão se movimentar com as privatizações, e a reestruturação de grandes grupos como Odebrecht e outras empreiteiras, que serão obrigadas a vender ativos para pagar credores ou evitar que as controladas percam valor.
O setor de tecnologia também continuará atraindo o interesse dos compradores, assim como o do agronegócio, até pela importância do setor na economia brasileira. “Tudo no agronegócio deve atrair investidores, incluindo os ligados, como os de insumos agrícolas”, afirma Pierantoni.
Fonte: Exame