Os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos devem reduzir a taxa básica de juros de seus países, nesta quarta-feira (31). Essa possibilidade tem trazido volatilidade para os mercados financeiros, que têm chamado o dia de Super Quarta. Não é para menos.
Se a expectativa se confirmar, os brasileiros vão conviver com a menor taxa de juros desde que o Comitê de Política Monetária (Copom) foi criado, em 1996. Hoje, ela já está no piso histórico, a 6,5%. Já os americanos não veem uma queda nos juros há 11 anos.
Esse fato, inclusive, tem sido alvo de críticas por parte do presidente Donald Trump, que culpa a autoridade monetária (Federal Reserve ou simplesmente Fed) pela redução no ritmo de crescimento da maior economia do mundo.
O Fed já deu indícios de que a combinação entre incertezas comerciais, o fraco crescimento global e o baixo nível da inflação americana (que ficou em 1,5% em maio) pode ser o gatilho para o início de um ciclo de cortes de juros, que atualmente estão entre 2,25% e 2,5% ao ano.
Quase 80% dos agentes de mercado consultados pela bolsa de Chicago disseram que esperam uma redução de 0,25 ponto percentual (p.p.), nesta quarta. A base do argumento é que uma inflação tão baixa possa levar a uma recessão da economia.
Durante o ápice da crise econômica, que teve como estopim a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008, o Comitê Monetário dos Estados Unidos (Fomc) manteve os juros próximos de zero até 2015. A partir daí, subiu a taxa nove vezes para os atuais 2,25% a 2,50%.
No Brasil, o Copom tem mantido os juros em 6,5% nas últimas 10 reuniões, à espera de possíveis mudanças na trajetória da inflação. Como o índice de preços tem se mantido controlado e a economia, fraca, investidores, economistas e palpiteiros veem uma oportunidade para a autoridade monetária cortar a Selic. A dúvida é com qual intensidade.
Se for analisar os contratos futuros de juros, que são negociados diariamente na bolsa, a principal aposta é de um corte de 0,5 p.p., que levaria a Selic para 6% ao ano.
Em sua reunião de junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC já havia indicado que, caso a Previdência avançasse na Câmara, a Selic poderia cair. Isso porque a aprovação da reforma abre espaço para um reequilíbrio das contas públicas, reduzindo o risco de a inflação voltar a acelerar.
O Copom se reúne a cada 45 dias para definir a Selic com o objetivo de buscar o cumprimento da meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional. Para 2019, a meta de inflação é 4 25%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo (ou seja, o índice pode ficar entre 2,75% e 5,75%). Quando a inflação está alta ou indica que vai ficar acima da meta, o Copom eleva a Selic. Com isso, os juros bancários tendem a subir freando o crédito e o consumo. Assim, a inflação costuma cair.
Os dados mais recentes, porém, mostram que a inflação segue acomodada no Brasil. Para completar, a atividade econômica continua fraca. Em junho, o BC já havia alertado que o processo de recuperação da atividade foi interrompido.
Tamanho do corte
Não há, entretanto, consenso entre especialistas. Levantamento da Bloomberg com 31 casas mostra 16 projeções de corte de 0,25 p.p., 12 analistas que esperam redução de 0,50 p.p. e outros três que acreditam que o Copom vai manter a Selic em 6,5% ao ano.
Em outro levantamento, feito pelo Projeções Broadcast com 55 instituições financeiras, 51 esperam pelo corte dos juros na noite de hoje e apenas 4 projetam estabilidade. Entre aquelas que preveem juros menores, 27 aguardam corte de 0,25 ponto porcentual (6,25% ao ano) e 24 apostam em 0,50 ponto (6%).
“Em geral, os bancos centrais começam novos ciclos de corte com medidas mais conservadoras. Acredito em corte de 0,25, e não de 0,50”, disse o economista-chefe do Haitong Banco de Investimento Brasil Flávio Serrano.
Para ele, o BC tende a adotar um corte total de 1 ponto porcentual dos juros nos próximos meses, até 5,50% ao ano, o que conduziria a inflação em 2020 para perto de 4%.
“Acho que é hora de cortar juros”, avalia o ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Langoni. “A inflação corrente está baixa e a atividade econômica está rodando abaixo das expectativas. E o mais importante: a reforma da Previdência está praticamente definida”, justifica.
Economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast afirmaram que, embora o projeto de reforma ainda possa ser alterado, a percepção é de será aprovado e algum ajuste será feito nas contas públicas. Pelo texto atual, a economia com a reforma seria de R$ 933,5 bilhões em dez anos.
A redução dos juros não tem efeito imediato na economia. “Do começo da crise até agora o Brasil já derrubou a Selic de 14,25% para 6,5% ao ano e a economia está praticamente parada. E 0,25 ponto ou 0,50 ponto não vão mudar as coisas”, afirma a economista-chefe do XP Investimentos, Zeina Latif.
Fonte: Exame