Antes dona absoluta do mercado de pagamentos no Brasil, a empresa de pagamentos Cielo vive dias difíceis. No segundo trimestre de 2019, período sobre o qual reporta resultados nesta terça-feira, 23 (após o fechamento do mercado), a empresa viu a concorrente Rede, do Itaú, zerar em abril sua taxa de antecipação de recebíveis e acirrar ainda mais a competição na chamada “guerra das maquininhas”.
Controlada por Bradesco e Branco do Brasil, a Cielo vai ser a primeira do setor a mostrar os potenciais estragos dessa concorrência galopante. (Concorrentes como Stone e PagSeguro só reportam resultados em agosto.)
Os analistas estão pouco otimistas. No meio da guerra, a Cielo é uma das que mais têm a perder — para além do que já perdeu.
O lucro caiu de 4 bilhões de reais em 2017 para o que pode chegar a menos de 2 bilhões neste ano, e a margem Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que já foi de mais de 40%, pode terminar 2019 na casa dos 20%.
Os resultados do primeiro trimestre já mostraram queda na margem em relação a 2018 e faturamento apenas estável, ao mesmo tempo em que os gastos cresceram mais de 40%.
Enquanto isso, a Cielo tem de continuar investindo pesado em marketing e redução de taxas para aumentar sua fatia de mercado, sobretudo entre pequenos negócios, segmento no qual a rival PagSeguro tem metade dos lojistas.
Além das maquininhas, serviços de pagamento digital também podem, no médio prazo, morder fatia da Cielo, que só há duas semanas fez seu primeiro pagamento por QR Code, enquanto as concorrentes PagSeguro e Itaú lançaram neste trimestre os serviços de carteira digital PagBank e iti, respectivamente.
Analistas apontam a PagSeguro e outras empresas que já nasceram com serviços digitais como as mais preparadas para o futuro. O banco Credit Suisse afirmou em relatório que o histórico fraco de tecnologia da Cielo e até a relação com os bancos controladores podem “impedir que a empresa entre mais agressivamente nos segmentos de banco digital e serviços financeiros”.
Neste cenário, a Cielo anunciou na semana passada a contratação de uma consultoria para um projeto de corte de custos, que pretende liberar caixa para continuar investimentos em novos produtos.
Há quem esteja pagando para ver: a empresa teve a maior alta do Ibovespa na segunda-feira, com a ação subindo 4,79% e fechando a 7 reais. Desde o início de 2018, quando a guerra se acentuou, a Cielo perdeu 70% do valor de mercado.
Fonte: Exame