São Paulo — Qual será a reação dos investidores à naufragada tentativa de fusão entre as fabricantes de alimentos BRF e Marfrig? Esta é a grande questão do pregão desta sexta-feira (12).
As duas empresas anunciaram na noite de ontem que haviam encerrado as negociações para unir suas operações por falta de consenso em relação “à governança da sociedade”.
As empresas anunciaram no fim de maio que estavam discutindo a eventual fusão e que seus conselhos de administração haviam aprovado a assinatura de um memorando que previa um período de exclusividade de 90 dias. A união criaria um gigante com faturamento anual de 76 bilhões de reais.
Segundo relataram a EXAME fontes próximas à negociação, a transação empacou quando Marcos Molina, fundador e maior acionista da Marfrig, discordou do tamanho da participação que teria na companhia resultante da fusão.
O desenho inicial previa que os acionistas da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, ficariam com 85% da nova empresa e os da Marfrig, com 15%. Molina, com 36% da Marfrig, teria cerca de 6%.
Desde o anúncio das negociações, as ações da BRF subiram 17% e as da Marfrig se mantiveram estáveis. Juntas, as empresas teriam cerca de 32 bilhões de reais de valor combinado. As ações da BRF voltarão ao preço anterior às negociações, de 29 reais?
O baque pode ser reduzido porque investidores e analistas não chegaram a se entusiasmar com a união, que tinha como maior mérito reduzir o pesado endividamento da dona das marcas Sadia e Perdigão.
As fábricas de BRF e Marfrig deveriam se manter independentes, em virtude das diferenças de processos nas cadeias bovina, de um lado, e de aves e suínos, de outro.
A nova empresa também uniria companhias em dificuldades. A BRF acumulou 5,5 bilhões de reais de prejuízos entre 2017 e 2018 e enfrenta uma enorme crise de personalidade desde a gestão liderada pelo fundo Tarpon e pelo empresário Abilio Diniz, em 2016.
Há um ano, a companhia passou a ser liderada por Pedro Parente, com resultados decepcionantes até aqui. A Marfrig ainda tenta se reencontrar após a venda de uma série de negócios nos últimos anos.
Quem comemora a falta de direção dos concorrentes é a JBS. O valor de mercado do frigorífico dos irmãos Joesley e Wesley Batista dobrou de valor em 2019, impulsionado por uma grave onda de peste suína que dizimou o estoque chinês.
A onda favorável puxada pela crise chinesa vai continuar. Há mais boas notícias a caminho.
A provável melhora da economia no segundo semestre e em 2020 devem favorecer o consumo doméstico. Os juros mais baixos reduzem a pressão sobre o endividamento.
Neste contexto, falta à BRF e à Marfrig se ajudarem — juntas ou separadas.
Fonte: Exame