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Carta de Conjuntura - IPEA - Mercado de Trabalho

Quarta, 19 Junho 2019

Os dados mais recentes mostram que, apesar de alguns indicativos de uma dinâmica recente mais favorável (com geração de empregos apesar dos indicadores ruins de atividade econômica), o mercado de trabalho brasileiro segue bastante deteriorado, permeado por altos contingentes de desocupados, desalentados e subocupados.
No que diz respeito à desocupação, nota-se que vem crescendo o número de desempregados que estão nesta situação há mais de dois anos. Se, no primeiro trimestre de 2015, 17,4% dos desocupados estavam nessa situação, no mesmo período de 2019, essa porcentagem avançou para 24,8%, o que corresponde a 3,3 milhões de pessoas. A desagregação dessas informações, feita com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, mostra que, no primeiro trimestre de 2019, a proporção de desempregados há mais de dois anos era maior entre as mulheres (28,8%), entre os adultos com mais de 40 anos (27,3%) e entre os trabalhadores com ensino médio completo (27,4%). Entretanto a análise dinâmica dos dados revela que, na comparação com o primeiro trimestre de 2015, os grupos que apresentaram maior incremento nas suas populações desocupadas há mais de dois anos foram os homens, os trabalhadores mais jovens e os com ensino médio completo, cujas proporções saltaram de 11,3%, 15% e 18,5%, respectivamente, para 20,3%, 23,6% e 27,4%, no período em questão. No caso dos trabalhadores mais jovens, esse resultado acaba por corroborar um cenário de emprego ainda mais adverso, que combina desemprego elevado (27,3%), baixo crescimento da ocupação (0,4%) e queda de rendimento real (-0,8%).

Em linha com este cenário de desemprego persistente e elevado, a PNAD Contínua mostra que a proporção dos domicílios sem renda do trabalho voltou a crescer, passando de 22,2%, no último trimestre de 2018, para 22,7%, no primeiro trimestre de 2019. Em relação aos demais domicílios, os dados desagregados de rendimentos (deflacionados pelo Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda) indicam que, no primeiro trimestre de 2019, a desigualdade salarial entre os segmentos pesquisados recuou, ainda que de forma modesta e possibilitada pelo maior aumento da renda das faixas intermediárias, tendo em vista que a disparidade entre os extremos de renda não diminuiu. De fato, enquanto a faixa de renda domiciliar muito baixa e baixa apresentaram taxas de crescimento interanual de 0,10% e 0,44%, respectivamente, a faixa de renda domiciliar mais alta registrou variação de 2,5%. Já as faixas de renda domiciliar média-baixa, média e média alta apontaram incrementos de 2,4%, 5,3% e 3,0%, nesta ordem. A partir desses resultados, evidencia-se que a renda domiciliar da classe mais alta é cerca de trinta vezes maior que observada na faixa mais baixa.

Para o restante do ano, a expectativa é de que essa trajetória de recuperação gradual da ocupação e da renda média se mantenha. Entretanto, uma queda mais expressiva da taxa de desemprego, das demais formas de subutilização e, consequentemente, da desigualdade só deve ocorrer ao longo de 2020, a partir de uma retomada mais forte do nível de atividade, que por sua vez está condicionada à aprovação da reforma previdenciária, no segundo semestre. 

 

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA