A ofensiva do mercado de juros, que passou a precificar corte da Selic ao longo do segundo semestre, pode ganhar um novo aliado: a deflação.
Economistas começam a ver a possibilidade de que o IPCA de junho desacelere mais fortemente, mostrando ligeira queda, após o corte do preço dos combustíveis e a mudança na bandeira tarifária da energia. “Medidas de combustível e energia só reforçam que inflação vai fechar abaixo do centro da meta. Isso favorece a sustentação da inflação em linha com a meta traçada pelo BC nos próximos anos”, disse Newton Rosa, economista-chefe da Sul America Investimentos.
Rosa revisou cenário para IPCA junho de +0,17% para -0,07% e lembra que, num quadro de atividade muito fraca, não há inflação. Ele também cortou a projeção para o PIB deste de 1,1% para 0,9%, após dados do 1º trimestre e indicadores mais fracos, além da redução dos indicadores de confiança.
O recente rali das taxas de juros, que já completa 11 sessões sem registrar altas, reflete as apostas em corte da Selic em função da fraqueza da atividade doméstica e do risco de recessão global — que afundou o yield dos títulos soberanos globalmente. A melhor coordenação política do governo Jair Bolsonaro também contribuiu para o movimento.
A inflação, portanto, se soma a esse cenário com os dados recentes surpreendendo positivamente. Flavio Serrano, economista-sênior do Haitong Bank, também vê chance de o IPCA ficar negativo em junho, principalmente por conta de alimentação, que está desacelerando bastante rápido e, combustíveis, com a redução recente dos preços da gasolina.
No acumulado em doze meses, “muito provavelmente” o IPCA voltará em junho para abaixo do centro da meta, uma vez que sairá o efeito da greve dos caminhoneiros do ano passado, que elevou o indicador para 1,26%.
O IBGE divulga os números da inflação de maio nesta sexta-feira, com previsão de desaceleração de 0,57% para 0,20%, segundo estimativa mediana de 20 analistas. Para junho, a pesquisa Focus do Banco Central mostra mediana de 0,24%.
Nesta terça-feira, sai o dado de produção industrial que pode corroborar essa visão. Na segunda-feira, os DIs aprofundaram a queda à tarde, após o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, dizer que a instituição pode precisar cortar as taxas de juros em breve para sustentar a inflação e reduzir os riscos econômicos de uma crescente guerra comercial.
Se o Fed cortar juros para evitar uma recessão, o Banco Central do Brasil poderá adotar a mesma estratégia mesmo antes da aprovação da reforma da Previdência, diz Vladimir Miklashevsky, economista-sênior do Danske Bank.
Fonte: Exame