O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu por unanimidade manter a Selic — taxa usada como referência para outros juros da economia — em 6,5% pela nona vez consecutiva. O anúncio foi feito no início da noite desta quarta-feira, 08, pelo Banco Central (BC).
A decisão confirma a ampla expectativa do mercado sobre o ritmo da política monetária, sob o comando de Roberto Campos Neto desde março.
Em comunicado oficial divulgado com a decisão, o comitê diz que “julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, livre dos efeitos remanescentes dos diversos choques a que foi submetida no ano passado e, em especial, com redução do grau de incerteza a que a economia brasileira continua exposta. O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo.”
Segundo André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, “parece que a autoridade monetária está tentando dissipar as leituras que haveria corte de juros depois dos resultados pífios da economia real (em especial os dados recentes da indústria e as revisões reiteradas para baixo do PIB)”.
O BC diz ainda que “a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes”.
Especialistas consultados na última pesquisa Focus, usada pelo BC para medir a expectativa do mercado em relação à economia, traz a previsão de que a Selic terminará este ano no atual piso histórico de 6,5%, indo a 7,50% em 2020.
Inflação
A política de juros é a arma mais importante contra o aumento generalizado de preços. E o fato de o BC ter decidido manter o nível da Selic significa que a instituição acha que a inflação está sob controle.
Em março, a inflação oficial, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), teve a maior taxa para o mês desde 2015, de 0,75%.
Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 4,58%, acima do centro da meta estipulada pelo pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,25%, mas ainda dentro do intervalo de tolerância, que vai de 2,75% a 5,75%.
Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga a taxa referente ao mês de abril.
Na pesquisa Focus, o cenário para a inflação neste ano piorou ligeiramente, com as contas para a alta do IPCA chegando a 4,04%, uma alta de 0,03 ponto percentual em relação à semana anterior.
Para 2020 a expectativa ainda é de uma inflação de 4%.
Histórico
A Selic tem sido mantida no nível mais baixo da história desde março de 2018. A taxa básica chegou a ser de 14,25% em julho de 2015. O ciclo de cortes começou em outubro de 2016.
Veja o comunicado completo do BC:
O Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 6,50% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
Indicadores recentes da atividade econômica sugerem que o arrefecimento observado no final de 2018 teve continuidade no início de 2019. O cenário do Copom contempla retomada do processo de recuperação gradual da atividade econômica;
O cenário externo permanece desafiador. Por um lado, os riscos associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas mostram-se reduzidos no curto e médio prazos. Por outro lado, os riscos associados a uma desaceleração da economia global permanecem;
O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis apropriados, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;
As expectativas de inflação para 2019, 2020 e 2021 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,0%, 4,0% e 3,75%, respectivamente; e
No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 4,1% para 2019 e 3,8% para 2020. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 6,5% a.a. e se eleva a 7,50% a.a. em 2020. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$/US$ 3,75 e 2020 em R$/US$ 3,80. No cenário com juros constantes a 6,50% a.a. e taxa de câmbio constante a R$/US$ 3,95*, as projeções situam-se em torno de 4,3% para 2019 e 4,0% para 2020.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco (ii) se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes. O Comitê avalia que, embora o risco associado à ociosidade dos fatores de produção tenha se elevado na margem, o balanço de riscos para a inflação mostra-se simétrico.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros em 6,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019 e, em maior grau, de 2020.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Comitê enfatiza que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente. O Comitê julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, livre dos efeitos remanescentes dos diversos choques a que foi submetida no ano passado e, em especial, com redução do grau de incerteza a que a economia brasileira continua exposta. O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo. O Comitê ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
O Copom avalia que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (Presidente), Bruno Serra Fernandes, Carlos Viana de Carvalho, Carolina de Assis Barros, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Tiago Couto Berriel.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.
Fonte: Exame