O mercado trocou o entusiasmo com o governo Bolsonaro, que gerou ganhos expressivos aos ativos brasileiros até o início do ano, por uma postura mais realista. O real, que foi a 3ª melhor moeda emergente em janeiro, esteve entre as piores nos três meses seguintes, enquanto o Ibovespa perdeu força após bater os 100.000 pontos em março.
O otimismo foi substituído mais recentemente pelo ceticismo tanto sobre o impacto da reforma da Previdência, que pode ficar em cerca da metade da projeção oficial de mais de R$ 1 trilhão, quanto sobre o prazo de aprovação, que deve ficar para mais perto do final do ano.
O aspecto positivo é que as dificuldades do governo, explicitadas no atraso de cerca de um mês na aprovação da reforma pela Comissão de Constituição e Justiça, estão precificadas. Novas perdas dos ativos brasileiros só ocorreriam, portanto, em caso de uma desidratação muito maior da reforma ou de a aprovação ficar para o próximo ano.
Para Vladimir do Vale, estrategista do Credit Agricole no Brasil, uma reforma com cerca de R$ 600 bilhões de economia e aprovada no terceiro trimestre já está no preço e pode até trazer uma “pequena celebração” quando for confirmada. “O problema é se evoluir para uma situação de diluição ainda maior e adiamento da aprovação para 2020.”
Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria, prevê R$ 640 bilhões de economia com a reforma, um valor que “não frustra o mercado, pois já é esperado, mas tampouco gera entusiasmo”. A dificuldade maior que o previsto na tramitação da Previdência também leva o mercado a ficar mais cético sobre o restante da agenda econômica, que inclui a reforma tributária e privatizações.
O Congresso tende a votar os temas, mas não na profundidade e no prazo que pretende o governo, que tem enfrentando dificuldades em sua articulação não-tradicional com o Congresso, diz Cortez.
Fonte: Bloomberg