Os clientes de instituições financeiras que caíram no rotativo do cartão de crédito ou usaram cheque especial pagaram juros mais caros em fevereiro, de acordo com dados do Banco Central (BC), divulgados nesta quarta-feira, 27. A taxa de juros do cheque especial subiu 2,3 pontos percentuais, em relação a janeiro, ao chegar em 317,9% ao ano no mês passado.
As regras do cheque especial mudaram no ano passado. Os clientes que usam mais de 15% do limite do cheque durante 30 dias consecutivos passaram a receber a oferta de um parcelamento, com taxa de juros menores que a do cheque especial definida pela instituição financeira. A opção vale para débitos superiores a R$ 200.
A expectativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) era a de que essa migração do cheque especial para linhas mais baratas acelerasse a tendência de queda do juro cobrado ao consumidor. Em junho de 2018, antes do início da nova dinâmica, a taxa do cheque especial estava em 304,9% ao ano.
Rotativo do cartão
A taxa média do rotativo do cartão de crédito subiu 8,6 pontos percentuais em relação a janeiro, chegando a 295,5% ao ano em fevereiro. A taxa média é formada com base nos dados de consumidores adimplentes e inadimplentes. No caso do consumidor adimplente, que paga pelo menos o valor mínimo da fatura do cartão em dia, a taxa chegou a 274,8% ao ano, com aumento de 11,7 pontos percentuais.
A taxa cobrada dos consumidores que não pagaram ou atrasaram o pagamento mínimo da fatura (rotativo não regular) subiu 8 pontos percentuais para 310,9% ao ano.
O rotativo é o crédito tomado pelo consumidor quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão. O crédito rotativo dura 30 dias. Após esse prazo, as instituições financeiras parcelam a dívida.
Em abril de 2018, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu que clientes inadimplentes no rotativo do cartão de crédito passem a pagar a mesma taxa de juros dos consumidores regulares. Essa regra entrou em vigor em junho deste ano. Mesmo assim, a taxa final cobrada de adimplentes e inadimplentes não será igual porque os bancos acrescentam à cobrança os juros pelo atraso e multa.
Modalidades caras
As taxas do cheque especial e do rotativo do cartão são as mais caras entre as modalidades oferecidas pelos bancos. A do crédito pessoal, por exemplo, ficou em 122,5% ao ano em fevereiro, mas subiu 6,2 pontos percentuais em relação a janeiro. A taxa do crédito consignado (com desconto em folha de pagamento) permaneceu em 24,2% ao ano.
A taxa média de juros para as famílias subiu 1,9 ponto percentual para 52,2% ao ano. A taxa média das empresas caiu 0,7 ponto percentual, atingindo 19,7% ao ano.
A inadimplência do crédito, considerados atrasos acima de 90 dias, caiu 0,1 ponto percentual tanto para empresas quanto para pessoas físicas e ficou, respectivamente, em 2,8% e 4,7%. Os dados são do crédito livre em que os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado.
No caso do crédito direcionado, que são empréstimos com regras definidas pelo governo, destinados basicamente aos setores habitacional, rural e de infraestrutura, os juros para as pessoas físicas caíram 0,5 ponto percentual para 7,5% ao ano. A taxa cobrada das empresas caiu 0,1 ponto percentual para 10% ao ano. A inadimplência ficou estável em 1,7% para as pessoas físicas e caiu 0,1 ponto percentual para as empresas, chegando a 1,8%.
O saldo das operações de crédito totalizou R$ 3,241 trilhões, em fevereiro, com aumento de 0,3% no mês e queda de 0,5%, no ano. Em relação a tudo o que o país produz – Produto Interno Bruto (PIB), o estoque de crédito caiu 0,1 ponto percentual de janeiro para fevereiro, quando ficou em 47%.
Spread
O spread bancário médio no crédito livre subiu de 30,2 pontos porcentuais, em janeiro, para 31,3 pontos porcentuais em fevereiro, de acordo com o Banco Central.
O spread médio da pessoa física no crédito livre foi de 43,4 para 45,4 pontos porcentuais no período. Para pessoa jurídica, o spread médio passou de 13,4 para 13,2 pontos porcentuais.
O spread médio do crédito direcionado foi de 4,3 para 4,0 pontos porcentuais de janeiro para fevereiro.
Já o spread médio no crédito total (livre e direcionado) passou de 18,6 para 19,0 pontos porcentuais no período.
Inadimplência
Segundo o BC, a taxa de inadimplência no crédito livre passou de 4,0% em janeiro para 3,9% em fevereiro. Em fevereiro de 2018, a taxa estava em 5,0%.
Para pessoa física, a taxa de inadimplência passou de 4,8% para 4,7%. Para as empresas, a taxa foi de 2,9% para 2,8%.
A inadimplência do crédito direcionado seguiu em 1,8% na passagem de janeiro para fevereiro.
Já o dado que considera o crédito livre mais o direcionado mostra que a taxa de inadimplência permaneceu em 2,9%.
Endividamento
O endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro ficou em 42,9% em janeiro, ante 42,7% em dezembro, informou o Banco Central. Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento foi de 24,3% em janeiro, ante 24,1% em dezembro.
O cálculo do BC leva em conta o total das dívidas dividido pela renda no período de 12 meses. Além disso, incorpora os dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (Pnad) contínua e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do IBGE.
Segundo o BC, o comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) atingiu 19,8% em janeiro, igual ao visto em dezembro. Descontados os empréstimos imobiliários, o comprometimento da renda foi de 17,4% em janeiro, também igual a dezembro.
Fonte: Exame