Os fundos com estratégia quantitativa, definida por robôs e algoritmos, costumam ter a fama de surfar bem períodos difíceis da economia. E de fato isso aconteceu no Brasil no ano passado.
Em 2018, os três principais fundos do segmento no Brasil, o Zarathustra, da Visia Investimentos; o Murano, da Murano Investimentos; e o Kadima, da Kadima Investimentos, registraram alta de 15%. A performance ficou bem acima do índice da categoria de hedge funds da Anbima, que subiu 7,09%, e do CDI, que registrou alta de 6,42% no período.
Nos últimos cinco anos, os três fundos renderam de 120% a 143% do CDI, acima de fundos de gestores renomados, como Verde e SPX Nimitz. Ambos os fundos tiveram rentabilidade de 112% e 127% do CDI no mesmo período, respectivamente.
Apesar de estar longe de ter o tamanho do mercado dos Estados Unidos, os fundos quantitativos vêm sendo mais conhecidos pelos investidores nacionais. Além de sua boa performance recente, juros no menor patamar histórico são outro incentivo para a aquisição de cotas desses fundos, pois forçam os investidores a diversificarem mais a carteira para obter a mesma rentabilidade dos tempos de Selic a dois dígitos. Uma das categorias que se beneficiam desse movimento é a de multimercados, onde se enquadram os fundos quantitativos.
Recentemente, a Visia passou a distribuir seus fundos em grandes plataformas de varejo, a XP e o BTG Digital. Também resolveu criar mais um fundo, o Darius. O produto é um espelho do Zarathustra, mas com a metade da sua volatilidade. Sua taxa de administração é de 2%, e, de performance, 20% sobre o que exceder o CDI. Usa diversos estilos de algoritmos, dentre eles os de machine learning, mais inovadores.
Uma das razões pelas quais o mercado demorou a engrenar por aqui é que quando esse tipo de produto chegou ao país, há uma década, alguns fundos tiveram uma performance pífia. “Esse episódio acabou manchando o mercado”, conta Favio Terni, co-fundador da Visia, que tem 780 milhões de reais sob gestão e foi fundada em 2014. “A tecnologia utilizada nos fundos exige investimentos. E o mercado era muito incipiente, não tinha estrutura e maturidade suficientes”.
Como funciona
Em fundos com estratégia quantitativa, o gestor do fundo cria uma tese de investimento e a testa na base de dados da gestora. O robô irá puxar o preço do ativo nos últimos trinta anos, por exemplo, descobrir um padrão e segui-lo.
Tomando como base esse padrão, quando acreditar que o preço de algum ativo irá subir, irá comprá-lo. Quando prever que irá cair, vai vendê-lo.
O fundo quantitativo é classificado como um fundo multimercado, já que investe em diversas classes de ativos, como juros, câmbio, bolsa e commodities.
Vale a pena?
O professor de finanças da PUC-SP, Fábio Gallo, também faz ressalvas em relação a limitações do algoritmo utilizado para análise nos fundos. “O robô vai buscar um padrão. Não vai conseguir absorver eventos recentes e pontuais. Um exemplo é a tragédia de Brumadinho, que teve grande impacto sobre as ações da Vale e mexeu com o mercado de ações brasileiro. A impressão é que o algoritmo resolve tudo, mas tem muita gente tomando decisões e fazendo burradas nas empresas, que são difíceis de prever”.
Como aplicações no fundo são indicadas como complemento de carteira, os fundos quantitativos também são indicados para investidores mais sofisticados, explica Terni. Em geral, a aplicação mínima exigida nesses fundos é de 10 mil reais.
Além disso, os fundos costumam ter volatilidade de cerca de 13%, acima da média do mercado. Ou seja, são mais recomendados para horizonte de longo prazo.
Como não tem um gestor dedicado a monitorar os ativos, a taxa de administração dos fundos quantitativos costuma ser menor, o que acaba sendo um atrativo. O Murano tem taxa de 2%, mas o Axis, da Visia, cobra apenas 0,6% ao ano. “Essa é a grande vantagem do fundo quantitativo”, diz William Eid, professor da FGV.
Fonte: Exame