O principal índice da bolsa brasileira persegue há anos o patamar de 100 mil pontos e, desta vez, parecia que o objetivo seria alcançado. Afinal, faltavam pouco mais de 2 mil pontos para o Ibovespa atingir a meta. Mas as chances podem ter se esvaído — ao menos, momentaneamente — com a lama de rejeitos que devastou parte do município de Brumadinho, em Minas Gerais.
A tragédia aconteceu, na última sexta-feira, 25, com o rompimento de três barragens de rejeitos da Vale. Nesse dia, não houve pregão na B3 por ser feriado em São Paulo. Por isso, o mau humor dos investidores ficou explícito somente na bolsa de Nova York, onde os recibos de ações da mineradora (chamados de ADRs) chegaram a recuar 13% e encerraram o dia com queda de 8%.
É certo que a reação dos investidores puxará os papéis da Vale para baixo, nesta segunda-feira, 28, o que tende a pressionar o Ibovespa na mesma direção. A mineradora responde por 11,39% do peso do índice, o que significa que se as ações caírem 10% provocam isoladamente um recuo de 1,39% no Ibovespa, de acordo com cálculos de André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos. “O impacto da tragédia no mercado poderá ser calculado melhor nos próximos dias com o decorrer dos fatos e com o posicionamento do governo em relação à Vale”, afirma.
Não é a primeira vez que a mineradora se vê em meio a uma tragédia ambiental e humanitária. Em 2015, um reservatório de rejeitos da Samarco — empresa controlada pela Vale e pela BHP Billiton — se rompeu em Bento Rodrigues, próximo a Mariana, matando 19 pessoas e provocando o maior desastre ambiental deste tipo no país. Nos dois meses seguintes ao estouro da barragem da Samarco, as ações da Vale perderam 45%. De lá para cá, acumulam alta de 257%.
Gestores de investimentos como James Gulbrandsen, da NCH Capital no Brasil, já previam momentos difíceis para a Vale na bolsa em virtude da desaceleração econômica da China. Outro desafio à frente da empresa é o provável rebaixamento de suas notas de risco. No sábado, a agência de classificação Standard & Poors informou que vai colocar a empresa em observação.
O rompimento da barragem tende a afetar a avaliação de risco ambiental da empresa, mas também sua estrutura de capital. Desde sexta-feira três decisões judiciais bloquearam 11 bilhões de reais da empresa.
Fonte: Exame