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BNDES reduz empresas na carteira de ações em 30% em dez anos; veja os principais investimentos do banco

Sexta, 18 Janeiro 2019

Em dez anos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reduziu em cerca de 30% o número de empresas nas quais é acionista. É o que aponta a lista de participações societárias divulgada nesta sexta-feira (18) pela instituição.

Em dezembro de 2008, o banco de fomento possuía ações em 145 empresas, de diversos segmentos. Este número foi reduzido para 101 empresas até setembro de 2018 – uma redução de 30% no período.

Ao longo de todo este período, o BNDES manteve o foco de seus investimentos nos setores de energia e tecnologia da informação. Mas mesmo ambos sofreram cortes. Em 2008, o banco tinha ações em 20 empresas de energia e 19 de TI. Dez anos depois, possuía participação acionária em, respectivamente, 15 e 13 empresas.

O setor no qual o BNDES mais desinvestiu nestes dez anos foi o de telecomunicações. Ele era acionista de 12 empresas em 2008 e cortou dez delas no período. Também foram feitos cortes significativos nos setores de petróleo e gás (reduziu de 8 para duas as empresas nas quais investia), e de alimentos e bebidas (passou de 11 para sete).

Também desinvestiu nos setores químico e petroquímico, de bens de capital e bens de consumo, de bancos e financeiras, de papel e celulose, siderurgia e metalurgia, mineração, na cadeia automobilística e em saúde.

Em contrapartida, ampliou, mesmo que pouco, os investimentos em logística e transporte e saneamento. Além disso, passou a investir em negócios imobiliários – em setembro de 2018 tinha ações em cinco empresas do setor, enquanto dez anos antes não investia em nenhuma.

A lista foi divulgada juntamente com a relação dos 50 maiores clientes do banco de fomento em 15 anos. Tais medidas fazem parte da promessa do governo Bolsonaro de dar maior transparência às operações do banco estatal.

Durante a campanha à Presidência da República, o presidente Jair Bolsonaro afirmou diversas vezes em discursos e publicações em redes sociais que o BNDES é uma "caixa-preta" e afirmou que daria clareza às atividades do banco.

Principais empresas que têm o BNDES como acionista
Dentre as 101 empresas nas quais o banco de fomento mantinha participação acionária até setembro de 2018, destacam-se:

  • Setor de energia - Eletrobras, Light, Eletropaulo e Cemig
  • Setor de TI - LINX S.A., PADTEC S.A., Quality Softare e BRQ Soluções em Informática
  • Setor de alimentos e bebidas - JBS S.A. e S/A Indústria e Comércio Chapecó
  • Setor imobiliário - BR Malls Participações
  • Setor de bens de consumo - Braspérola Indústria e Comércio
  • Setor de bens de capital - Embraer S.A.
  • Setor de petróleo e gás - Petrobras e Companhia Distribuidora de Gás do RJ (CEG)
  • Setor de saneamento - Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa)
  • Setor de logística de transportes - Transnordestina Logística
  • Setor de siderurgia/metalurgia - Companhia Siderúrgica Nacional e Gerdau
  • Setor de saúde - Recepta Biopharma

Menos investimentos em debêntures
O BNDES também diminuiu em mais da metade, em dez anos, o número de empresas das quais possui títulos de dívida, as chamadas debêntures de renda variável, bem como em fundos de investimento.

Em 2008, o banco possuía debêntures de 27 empresas nos setores de energia, TI, bens de capital, bens de consumo, telecomunicações, siderurgia e metalurgia, logística e transportes, cadeia automobilística, mineração, saneamento e serviços diversos.

Já em 2018, tinha títulos de dívidas de apenas 12 empresas nos setores de energia, TI, papel e celulose, bens de consumo, serviços de apoio à infraestrutura, siderurgia e metalurgia, sucroalcooleiro, mineração e telecomunicações. São elas:

  • Contém 1g S.A.
  • Energisa S.A.
  • Hypera S.A.
  • Inepar S.A. - Indústria e Construções
  • Klabin S.A.
  • Liq Participações S.A.
  • Metalúrgica Gerdau S.A.
  • Odebrecht Energia Participacoes
  • Salobo Metais S.A.
  • Telis Participações S.A.
  • Totvs S.A.
  • Vale S.A.

Aumento da participação em fundos de investimento
Em contrapartida, nestes dez anos o banco decidiu o númeo de fundos de investimento dos quais participa – eram 29 em 2008 e chegaram a 42 em 2018.

Dentre os 42 fundos ativos em setembro de 2018, o BNDES tinha a maior participação em três deles:

  • Fundo de Investimento em Participações Inseed Fima (81,82% de participação) - criado em 2012 pelo BNDES e gerido pela Inseed Investimentos, este fundo é destinado à aplicação em empresas emergentes inovadoras com atuação sustentável.
  • FMIEE CRIATEC (80% de participação) - Criado também por iniciativa do BNDES e co-gerido pela Antera Gestão de Recursos e a Inseed, também é destinado à investimentos em novas empresas inovadoras.
  • FIP Empresas Sustentáveis da Amazônia (80% de participação) - Foi criado em 2013 como sendo o primeiro fundo privado de investimentos em empresas da chamada“Economia Verde” na Amazônia, destinado a gerir investimentos via a aquisição de participações societárias em companhias de setores sustentáveis.

Dentre os outros fundos, destacam-se o Bozano Educacional, um dos braços da Bozano Investimento, da qual o economista Paulo Guedes, superministro da Economia do governo Bolsonaro era presidente. O BNDES possuía, em setembro de 2018, 15% das ações deste fundo.

Há ainda nesta carteira participações em fundos voltados à produção cinematográfica, como o Funcine Rio Fundo de Investimento na Indústia Cinematográfica Nacional, com 49,87% das ações, e no setor aeroespacial, como o Fundo de Investimento em Participações Aeroespacial, com 30,77% de participação.

Valor de mercado 14,8% menor
O BNDES também divulgou o seu fluxo de caixa das operações de renda variável entre dezembro de 2011 e o mesmo mês de 2017 – o de 2018 não foi divulgado porque ainda não houve o fechamento do balanço financeiro do ano. Nesse período de seis anos, o valor de mercado dos ativos nos quais o banco investia caiu 14,8%.

Segundo o relatório, considerando toda a carteira de renda variável do Sistema BNDES, como ações, debêntures e fundos de investimentos, o valor de mercado das ações era de R$ 114,191 bilhões em dezembro de 2011. Em dezembro de 2017, este valor caiu para R$ 97,297 bilhões.

O volume anual de investimentos também sofreu forte recuo. Em 2012, foram R$ 11,797 bilhões; em 2017, R$ 289,359 milhões. Os desinvestimentos também diminuíram: no primeiro ano do período, o banco se desfez de R$ 10,435 bilhões em ativos; em 2017, foram R$ 7,624 bilhões.

Com os desinvestimentos, ou seja, a venda das participações acionárias, a remuneração também foi sendo reduzida ano a ano. Em 2012, o banco lucrava mais de R$ 5,2 bilhões por anos com sua carteira. Em 2017, esse rendimento caiu para R$ 1,8 bilhão - uma redução de 63,87%.

O BNDES destacou que a maioria de suas operações de investimento no mercado primário e secundário, incluindo desinvestimentos e a remuneração recebida pela carteira de renda variável, é realizada por meio da BNDESPAR.

Ressaltou, também, que o calor de mercado da carteira de renda variável é "uma estimativa gerencial caso a totalidade da carteira fosse marcada a mercado, podendo diferir do valor contábil das participações acionárias apresentado no balanço das Empresas do Sistema BNDES no caso de empresas coligadas".

Estratégia para desinvestimentos indefinida
Ao tomar posse na presidência do BNDES, Joaquim Levy disse, ao ser questionado, que ainda não está definido o plano de desinvestimentos do banco. O principal objetivo, segundo ele, é observar a reação do mercado frente à conjuntura econômica atual.

“Nossa estratégia, obviamente, vai ser primeiro fazer um levantamento para definir exatamente as metas [da venda de participações acionárias]. Nesse sentido, vamos revisar o balanço financeiro do banco. Já temos alguma ideia [de quais ativos e segmentos pretendem abrir mão], mas não queremos adiantar antes desse estudo”, disse Levy em entrevista coletiva após a cerimônia de posse.

"À medida que o governo for entregando algumas reformas, a começar pela reforma da previdência, o apetite do investidor internacional e nacional vai se desenvolver e isso nos facilita", acrescentou.

Engenheiro Naval com doutorado em Economia pela Universidade de Chicago, Levy foi ministro da Fazenda na gestão Dilma Rousseff, e secretário do Tesouro no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Antes de assumir o BNDES, estava na diretoria do Banco Mundial.

 

Fonte: Exame