O mercado de ações no Brasil em 2018 viu o melhor e o pior em muito tempo. O Ibovespa caminha para mais um ano de ganhos, o terceiro consecutivo, algo que não acontece há uma década. Ao mesmo tempo, os investidores estrangeiros retiraram R$ 11 bilhões (US$ 2,9 bilhões) em recursos ao longo do ano.
Salvo uma grande mudança de rumo nos últimos dias de 2018, será a maior saída anual desde a crise financeira global, quando saíram mais de R$ 24 bilhões do mercado acionário local, de acordo com dados da B3.
Os agentes do mercado deram várias explicações para a saída, tanto externas (preocupações relacionadas a relações comerciais e ao crescimento global, crises em outros mercados emergentes) quanto domésticas (greve dos caminhoneiros de maio, eleições de outubro e, ultimamente, até notícias negativas veiculadas pela imprensa sobre o novo presidente Jair Bolsonaro).
Embora o desfecho eleitoral tenha agradado os investidores locais, levando as ações para novos recordes em meio à esperança de que o capitão reformado do Exército cumpra com as promessas de consertar a maior economia da América Latina, os estrangeiros ainda não compraram o novo governo. É um contraste gritante com a visão dos brasileiros, que nunca estiveram tão otimistas sobre a economia.
“Entendemos o ceticismo, considerando que o Brasil não entregou o suficiente no front de políticas na última década, pelo menos”, escreveram os estrategistas do JPMorgan liderados por Emy Shayo em relatório deste mês.
Um dos potenciais gatilhos para espalhar o otimismo também entre os investidores estrangeiros é o progresso na reforma da Previdência, que fracassou durante o mandato do presidente Michel Temer e que é vista como chave para consertar as contas fiscais deterioradas do Brasil.
A reforma planejada por Bolsonaro tem o objetivo de economizar até R$ 1 trilhão em 10 anos, de acordo com duas pessoas envolvidas nas negociações que não estão autorizadas a discutir o assunto publicamente. A equipe econômica entrante também planeja usar grande parte da proposta de Temer, segundo as pessoas — uma estratégia que aceleraria sua aprovação no Congresso.
Os estrangeiros também foram responsáveis pela maior parte do volume total de negócios em ações brasileiras neste ano, com cerca de 50% das compras e vendas. Os investidores pessoa física responderam por cerca de 18% das negociações, ante 17% em 2017. Segundo uma análise do BTG Pactual, os investidores institucionais foram responsáveis pela maior contribuição positiva.
Tanto o JPMorgan como o BTG Pactual esperam que o fluxo estrangeiro para ações brasileiras melhore no próximo ano, vindo de um posicionamento muito leve em 2018. O BTG estima que R$ 193 bilhões poderiam fluir para ações brasileiras, de acordo com um relatório da Carlos Sequeira, Bernardo Teixeira e Claudio Ferraz.
Pelo menos por enquanto, é improvável que os investidores estrangeiros vejam muito progresso concreto na agenda de reformas: Bolsonaro toma posse em 1º de janeiro, mas o Congresso está em recesso até fevereiro, e a atividade deve desacelerar novamente no início de março para o feriado de Carnaval.
Fonte: Exame