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Balanços do terceiro trimestre mostram abalo de gigantes

Quarta, 21 Novembro 2018

Passado o feriado que fechou o mercado nesta terça-feira, a semana curta recomeça com uma grande incerteza para os investidores. O copo do mercado financeiro está meio cheio ou meio vazio? Ontem, as bolsas americanas caíram mais uma vez para zerar os ganhos no ano. Por aqui, o índice Ibovespa acumula alta de 14% no ano, mas está no zero a zero nas últimas duas semanas.

De um lado, a euforia política deu lugar à realidade da formação de governo; de outro, os resultados de empresas tidas como apostas seguras vieram abaixo do previsto, levando investidores a questionar o potencial de retomada.

Uma das decepções foi a fabricante de bebidas Ambev. A empresa informou, em 25 de outubro, que o seu lucro caiu 10% entre julho a setembro deste ano em comparação com o mesmo intervalo de 2017, para 2,9 bilhões de reais. Suas ações chegaram a despencar 7% naquele dia e ainda estão 20% abaixo do início do ano. A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, também desapontou os acionistas ao anunciar em 8 de novembro um prejuízo de 812 milhões de reais no terceiro trimestre, enquanto no mesmo período de 2017 havia registrado lucro de 138 milhões de reais. Desde aquela data, seus papeis perderam 9,4% em valor.

A Cielo, outra queridinha do mercado acionário, divulgou em 31 de outubro ter registrado baixa de 20% no lucro, para 813 milhões de reais. Suas ações caíram 27% em vinte dias, para 9,26 reais. Nesse mesmo intervalo, o papel da Raia Drogasil perdeu 3,4%. A rede de farmácias informou que seu lucro diminuiu 5,6% no terceiro trimestre de 2018 frente igual intervalo de 2017.

Essas ações eram unanimidade nas carteiras dos gestores de investimentos do país porque, na avaliação deles, se beneficiavam de uma forte barreira de entrada e tinham boas perspectivas para a retomada da economia. Mas tal realidade vem mudando. “Um ponto comum na piora do desempenho dessas companhias é que elas estão sofrendo com o aumento da competição nos seus segmentos”, diz Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos.

A Ambev se vê cada vez mais ameaçada pela Heineken, que há quase dois anos comprou a Brasil Kirin, fabricante da cerveja Schin.

A BRF abriu espaço para a Seara, da JBS, e frigoríficos regionais ao adotar estratégias de negócios equivocadas que desorganizaram a sua cadeia de produção nos últimos dois anos. Em meio a uma briga de sócios, a BRF também sofreu um baque duro com a Operação Trapaça da Polícia Federal, que investiga a empresa pela suposta adulteração de laudos sanitários para esconder a presença de salmonela na carne de frango. Essa suspeita levou a Europa e a Rússia a fecharem as portas aos produtos da produtora brasileira, que agora negocia um acordo de leniência com o Ministério Público Federal para tentar virar a página.

Já o problema da Cielo está na acelerada proliferação de maquininhas e novos sistemas de pagamento. Só na segunda-feira a ação da empresa, que é controlada pelo Bradesco e pelo Banco do Brasil, perdeu 5% depois de o banco de investimentos Credit Suisse recomendar a clientes que vendam o papel por conta do aumento da competição nesse mercado com a entrada da Stone. “Em uma guerra de preços, ninguém ganha”, escreveu um time de analistas liderado por Lucas Lopes em relatório.

A Raia Drogasil segue na sua trajetória agressiva de abertura de lojas nas regiões norte, nordeste e centro-oeste. Só não contava que as pequenas farmácias do país fossem se juntar para comprar conjuntamente medicamentos, reduzindo os seus custos e assim se fortalecendo para brigar com a gigante. “A Raia Drogasil sempre entregou resultados consistentes, mas vem perdendo lucratividade. O caminho para o grupo, no que diz respeito ao seu plano de expansão, parece muito mais incerto agora”, diz Pedro Guilherme Lima, analista da corretora Ativa Investimentos.

O fim da temporada de divulgação de resultados, com a publicação do balanço da fabricante de autopeças Randon, deve levar a uma grande reavaliação das carteiras de investimento levando em conta a nova realidade que as grandes companhias têm vivido. O iShares MSCI Brazil Index, fundo de índice de ações brasileiras negociado em Wall Street, recuou 3,4% no pós-mercado, antecipando um dia ruim para a bolsa brasileira hoje.

 

Fonte: Exame