É hoje, às 15h, que o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) anuncia como ficará a taxa de juros nos Estados Unidos nos próximos meses. O esperado pelo mercado é que a autoridade monetária americana, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), mantenha os juros inalterados no intervalo de 5,25% a 5,5%.
Dessa forma, como a manutenção dos juros já no preço dos ativos, será o comunicado, divulgado simultaneamente, com as justificativas da decisão, que irá mover os mercados – ao menos por meia hora. Isso porque, às 15h30, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, concede entrevista, detalhando o resultado da reunião, o que deverá trazer mais volatilidade.
De acordo com o CME FedWatch, 99,4% do mercado aposta na manutenção dos juros na reunião de hoje. Para a reunião de julho, 91,1% enxergam também que as taxas fiquem paradas.
Em setembro, no entanto, 48,3% já enxergam um corte, enquanto 47,4% veem o Fed ainda parado.
E vai ser exatamente nas expectativas de setembro que o comunicado e as falas de Powell devem mexer.
São nessas projeções futuras que o comunicado terá um impacto inicial, com o mercado posteriormente reagindo às mudanças.
Decisão do BC dos EUA
“É amplamente esperado que a taxa de juros seja mantida, não há muita dúvida quanto a isso. O elemento de destaque, então, fica para a comunicação. Novas altas não estão em discussão por agora e o mais importante é a revisão das projeções, do gráfico de pontos”, contextualiza André Diniz, economista da Kinea.
Desde a última reunião, alguns dados mostraram que a economia norte-americana está desacelerando, enquanto outros trouxeram números que devem fazer o Fed ainda ficar um pouco desconfortável com o nível de atividade econômica.
Exemplo do primeiro grupo é o PCE (índice de preços de gastos com consumo) de abril, enquanto o Payroll de maio, na época da sua publicação, foi apontado como um número que pode manter o Fed trazendo um tom hawkish, mais duro.
Gráfico de pontos do Fed
“Se o Fed antecipar no gráfico que ele espera só um corte, a tendência é que a curva de juros do mercado fique mais próximo desse um corte. Você teria um aumento na taxa de juros esperada para o fim do ano. Mas se o Fed mantiver ou fizer um ajuste mais marginal, mudando só de três para dois cortes esse ano, por exemplo, aí deveria ser algo que impacta um pouco menos”, explica.
No caso de o Federal Reserve ser mais duro, o esperado é que os mercados americano e brasileiro sofram um pouco. Nesse cenário, investidores devem manter suas posições — ou até aumentá-las — em títulos públicos norte-americanos, que são considerados os papéis “mais seguros do mundo”.
Isso fortalece o dólar, com o dinheiro ficando nos EUA, e gera fluxos menores para ativos de risco, o que enfraquece as bolsas.
Tom duro do Fomc já precificado?
Enrico Cozzolino, head de análise da Levante, no entanto, enxerga que falas mais hawkishs já estão precificadas no Ibovespa e no mercado brasileiro e que algo nessa linha já é esperado.
“A inflação ainda preocupa, porque está longe da meta. Os dados de emprego ainda estão vindo fortes, bem como a inflação de serviços. Acho que isso está no consenso. Não vejo afetando tanto o preço”, fala o especialista.
Desde a semana passada, após a publicação do Payroll, os rendimentos dos treasuries para dois anos, por exemplo, saíram de cerca de 4,72% para 4,83%.
Matheus Spiess, analista da Empiricus, também enxerga que o Payroll criou uma “preocupação adicional” quanto às sinalizações do Fed.
“A minha leitura é que essa decisão virá dura, refletindo ainda os dados fortes da economia americana. Por mais que estejam relativamente melhores do que a gente observou no primeiro trimestre, está robusta”, explica.
Em março, ele lembra que o Fed ainda trazia a possibilidade de três cortes de juros em seu gráfico de pontos.
“Nem quero pensar no pior cenário, que seria a queda para um. Não acredito que seja o caso, mas acredito que dois cortes devem ser apontados predominantemente”, diz.
Fed e Powell Dowish?
No caso de o Fed e Jerome Powell serem mais brandos, no entanto, o esperado é que o mercado reaja positivamente.
Bolsas devem subir, com capital indo para ativo de risco, e fluxos de saída de dinheiro dos Estados Unidos devem ser criados, com ativos e moedas emergentes ganhando força.
Mas a perspectiva geral, porém, ainda é de um tom duro.
“Os investidores vão procurar pistas na reunião do FED se teremos uma ou duas quedas de juros ainda este ano. Acreditamos num tom mais duro. Em outros momento que o Banco Central americano cantou vitória sobre a inflação, as condições econômicas se afrouxaram bastante dificultando o trabalho de combate à inflação”, argumenta Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos.
FONTE: INFOMONEY