Diante de uma plateia de 30 mil acionistas da Berkshire Hathaway, Warren Buffett falou no último sábado, 4, sobre o futuro do negócio, sucessão, estratégia de investimentos, política monetária e a ausência de Charlie Munger, seu braço direito. Investidores de todo mundo estavam atentos para ouvir uma das maiores lendas do mercado durante a conferência anual da Berkshire, em Omaha (EUA).
Greg Abel: o sucessor
Pela primeira vez, Buffett revelou que Greg Abel, seu sucessor, será o responsável pelas decisões de investimento da empresa. Embora já estivesse claro que Abel, vice-presidente de operações não relacionadas a seguros, assumiria o cargo de CEO, havia dúvidas sobre quem controlaria a carteira de ações públicas da Berkshire. "Acho que a responsabilidade deve ser inteiramente de Greg."
Atualmente, Buffett é o responsável pela carteira de investimentos, contando com a ajuda de Todd Combs e Ted Weschler, gestores de investimentos da Berkshire. Buffett garantiu aos investidores que existe um plano de sucessão e que essa é uma prioridade no negócio, já que sua idade está avançada. Em agosto deste ano, ele completará 94 anos. Apesar da idade, disse se sentir à altura do cargo. "Veremos como a próxima gestão conduzirá a Berkshire. Sinto-me bem, mas conheço um pouco sobre tabelas atuariais", brincou com a plateia.
Ausência de Charlie Munger
A conferência foi a primeira sem Charlie Munger, vice-presidente da companhia, que morreu em novembro do ano passado, aos 99 anos. Munger era o braço direito de Buffett. Buffett lembrou que Munger era um parceiro confiável tanto nos negócios quanto na vida pessoal. "Confio totalmente em meus filhos e em minha esposa. Mas isso não significa que eu pergunte quais ações comprar", disse.
Ele também afirmou que, em relação à gestão de dinheiro e estratégia de negócios, não havia ninguém no mundo com quem fosse melhor conversar do que Munger durante muitas décadas. Uma das características de Munger, segundo Buffett, era a honestidade, tanto na vida profissional quanto nos negócios. "Quando você encontra alguém assim em sua vida, você valoriza essa pessoa e meio que se esquece do resto."
Caixa recorde e opinião sobre o Fed
Na manhã de sábado, a Berkshire Hathaway apresentou seu balanço do primeiro trimestre deste ano. A empresa teve lucro de US$ 11,22 bilhões, um aumento de 39% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando registrou US$ 8,07 bilhões. O caixa da empresa atingiu um recorde de US$ 188,99 bilhões, acima dos US$ 167,6 bilhões do quarto trimestre.
Buffett está obtendo bons retornos ao investir em títulos do Tesouro americano e, por isso, foi questionado sobre a empresa não ter feito novos investimentos. "Só fazemos aportes quando gostamos. Não fizemos agora em 5,4%, mas não usaríamos se estivesse em 1%. Não conte ao Federal Reserve", disse.
Sobre o Fed, Buffett elogiou Jerome Powell por seu trabalho na condução da economia nos últimos anos e disse que o presidente do banco central americano é "um homem muito sábio". No entanto, afirmou que o Fed precisa da ajuda dos legisladores para controlar o crescente déficit dos EUA. Segundo ele, Powell não controla a política fiscal e, de vez em quando, envia um apelo disfarçado, o que pode ser um problema.
Estratégia de investimento
Entre as estratégias de investimento, a Berkshire reduziu sua participação na Apple em 13%. A fatia de Buffett na empresa passou de US$ 174,3 bilhões, em dezembro, para US$ 135,4 bilhões em março, saindo de 905 milhões de ações para 790 milhões. Apesar da redução, a Apple ainda é, de longe, a maior participação da holding no final do trimestre. Este é o segundo trimestre consecutivo que Buffett reduz a participação na fabricante do iPhone.
Buffett também revelou uma estratégia de investimento que deu errado: a Paramount. Buffett vendeu toda a participação da empresa com prejuízo. "A decisão foi 100% minha, vendemos tudo e perdemos bastante dinheiro", disse ele. A empresa era uma das maiores acionistas da Paramount no final de 2023, com cerca de 63 milhões de ações.
A Paramount, como outros estúdios, tem lutado para se recuperar das greves de roteiristas e atores de Hollywood no ano passado, de um mercado publicitário fraco e da queda nas assinaturas de TV a cabo nos EUA, que corroeram seus lucros de TV. A companhia recebeu oferta da Sony Pictures e o fundo de private equity Apollo Global Management para ser vendida por cerca de US$ 26 bilhões.
FONTE: EXAME