Ao fomentar empresas que utilizam tecnologia para solucionar problemas econômicos e sociais, a indústria de venture capital gera valor e ajuda a melhorar a vida das pessoas. Para além dos nossos investimentos em empreendedorismo na América Latina, temos acelerado nos últimos meses a implementação de práticas ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), que resultaram em um framework para monitorar variáveis relacionadas ao tema no nosso ciclo de investimentos.
Como primeiros investidores institucionais de empresas e, por isso, agentes com participação direta na implementação da governança de muitas startups, os fundos de venture capital têm a oportunidade de incentivar as práticas ESG desde o princípio. Com isso, podemos ajudar a construir uma cultura de gestão de riscos e oportunidades com foco na proteção dos ativos e aumento do valor dos negócios.
Estudos sobre investimento responsável, como o Responsible Investing in Tech and Venture Capital Advancing Public Purpose in Frontier Technology Companies, da Harvard Kennedy School, têm mostrado que o bom desempenho em métricas ESG está relacionado à melhora do desempenho financeiro das empresas, visto que resulta em aumento da confiança do consumidor, do valor da marca, e protege a empresa contra controvérsias relacionadas ao tema.
Para as startups, a boa administração de fatores ESG pode também refletir na sua capacidade de captação, especialmente junto a grandes bancos globais de fomento, uma vez que esse é um critério cada vez mais relevante para alocadores de capital. Entendemos que começar a jornada da empresa já levando aspectos ambientais, sociais e de governança em consideração e ir evoluindo conforme o progresso do próprio negócio traz benefícios a todos os envolvidos.
Neste sentido, em parceria com a NINT, uma das maiores consultorias do segmento na América Latina e Caribe, a Igah desenvolveu um conjunto de parâmetros para incorporar o tema em todo seu ciclo de investimentos, desde a prospecção até a saída dos ativos. Uma metodologia consistente para identificar, avaliar, monitorar e reportar a performance ESG das empresas nas quais investimos, além de incentivar a adoção dessas práticas entre elas. Para dar início a implementação, escolhemos a Axenya, ecossistema inteligente de saúde corporativa que usa dados para otimizar a contratação de plano de saúde e reduzir custos, a qual faz parte do nosso portfólio desde 2021.
“A iniciativa está nos ajudando a identificar oportunidades para promover práticas sustentáveis e responsáveis. Também vai aprimorar nosso gerenciamento de riscos, alinhando nossa organização com as expectativas dos stakeholders e potenciais investidores em um mundo cada vez mais consciente e interconectado” - diz Mariano García-Valiño, founder e CEO Axenya.
Além de compartilhar com as nossas investidas, queremos demonstrar nosso compromisso com a agenda ESG e, potencialmente, incentivar a adoção de metodologias semelhantes no nosso ecossistema.
Framework ESG passa a ser decisivo na tomada de decisão e direciona planos de ação para as investidas
Antes da análise de qualquer startup, verificamos se a atividade fim da empresa não se enquadra na nossa lista de exclusão (seguimos a Lista de Exclusão do IFC/Banco Mundial) e se a companhia não figura em listas restritivas do governo federal. Além disso, checamos se há mídia negativa e antecedentes negativos da empresa e seus fundadores. É importante ressaltar que essas etapas são eliminatórias para receber nosso investimento.
Se a empresa passar pelos primeiros requisitos da nossa análise, iniciamos uma etapa crucial que contempla a identificação da gestão interna de práticas ESG da companhia e sua intencionalidade na geração de impacto relevante para a sociedade.
Para a gestão interna das práticas ESG, desenvolvemos uma avaliação que engloba entre 33 e 69 perguntas, a depender do estágio da empresa, segmentadas entre ambiental, social e governança. O objetivo é fazer uma avaliação da maturidade da startup e, conforme a resposta, desenhar planos de ação em conjunto e acompanhar a evolução dessas práticas.
Para citar alguns exemplos do nosso questionário, quanto a questões ambientais, a empresa vai responder, entre outras coisas, se tem iniciativas para redução de consumo de energia. Na área social, vai dizer se tem mecanismos implementados contra práticas discriminatórias e assédio. No quesito governança, vai informar se possui políticas ou documentos que regulamentam transações com partes relacionadas, por exemplo. Para essas questões, algumas práticas são eliminatórias e consideramos que outras podem ser implementadas ao longo da jornada da startup, considerando que empresas em sua etapa inicial de investimento nem sempre têm todas as políticas já formalizadas e implementadas.
Nas empresas que têm potencial de impacto positivo e mensurável na sociedade, vamos utilizar a metodologia IMP+ACT. O intuito é avaliar tanto o impacto positivo atual, antes do aporte, quanto o potencial impacto que suas ações podem gerar no futuro, quando a companhia estiver recebendo investimento e suporte da gestora.
Nosso trabalho de monitoramento vai seguir com a coleta anual de 80 KPIs ESG para avaliar o amadurecimento das práticas das companhias do nosso portifólio. Eles incluem consumo de água, consumo de energia elétrica, emissão de gases do efeito estufa, número de acidente de trabalho, número de trabalhadores que representam algum grupo minoritário, percentual da receita que é investido em inovação, entre outros. Iremos também monitorar KPIs de impacto conforme o setor de atuação das empresas, como saúde, educação, mitigação ou adaptações climáticas. No caso da Axenya, por exemplo, KPIs de impacto incluem número de pacientes atendidos e número de pacientes que recebem tratamentos preventivos.
Com a coleta sistemática desses indicadores, vamos conseguir quantificar a evolução das empresas do nosso portfólio e mensurar a real contribuição de cada uma delas e da nossa gestora para a economia regional, a população da qual fazemos parte e o planeta em que vivemos.
FONTE: EXAME