A expectativa de que o último trimestre seria marcado por um grande volume de follow-ons perdeu força nos últimos dias. A volatilidade dos mercados voltou a crescer, alimentada pela perspectiva de que os juros nos Estados Unidos e, como consequência, no Brasil, fiquem altos por mais tempo. Quadro que compromete o fluxo destinado a ações, afeta o preço dos papéis e, consequentemente, reduz o espaço para novas ofertas.
“Não é um mercado ideal para uma transação, então não é para qualquer empresa”, afirma Vanessa Fiusa, sócia de mercado de capitais do Mattos Filho. Ela explica que, em um momento como esse, de preços descontados na bolsa e de muita cautela por parte dos investidores, apenas casos muito específicos de ofertas fazem sentido. Basicamente, por parte de empresas que precisam muito de capital e que vejam vantagem, ainda assim, em levantar os recursos nessa condição.
Para IPOs, ofertas públicas iniciais de ações, a perspectiva de retomada de operações é ainda mais remota. Segundo Vanessa, que trabalha junto a empresas e bancos na estruturação das ofertas, tudo indica que essas operações voltem a acontecer a partir do segundo trimestre do ano que vem.
Em 2023, houve 17 follow-ons que, juntos, movimentaram R$ 29,3 bilhões. A previsão de alguns players do mercado era de que, nos últimos meses do ano, esse volume praticamente dobrasse. Mas, a julgar pela movimentação que se vê por parte das companhias, o mais provável é que haja apenas ofertas pontuais. Uma delas pode ser a da Ambipar, que anunciou na semana passada que quer levantar R$ 1,1 bilhão por meio de um follow-on.
O pano de fundo desse cenário muito mais volátil é a perspectiva de que os juros nos Estados Unidos fiquem altos por mais tempo do que se imaginava. A guerra no Oriente Médio, observa Vanessa, também não ajuda, pois eleva o grau de incerteza para os investidores. Tudo isso afeta diretamente o Brasil que, embora esteja em um processo de ciclo de alívio monetário, também pode ver sua taxa de juros estacionar em um patamar mais alto do que se previa.
“É muito difícil competir com um juro de dois dígitos”, diz. Tudo isso explica o fato de não haver dinheiro novo para a bolsa e, portanto, diminuir o espaço para novas ofertas. “Metade das ofertas que aconteceram este ano foram absorvidas por meio de realocação de recursos. Não teve dinheiro novo, foi uma troca de bolsos”, diz.
A questão é que as empresas continuam operando e precisam de capital. Com o mercado de ações mais avesso às ofertas, muitas acabam recorrendo ao mercado de dívida, que voltou a funcionar com mais vigor nas últimas semanas, mas ainda a custos altos para as companhias. “A empresa entra em um dilema: tomar dinheiro no mercado de dívida e pagar caro ou aceitar o desconto na bolsa”, explica.
O caminho do follow-on, portanto, pode ser uma escolha em algumas situações – como a necessidade de desalavancagem, ou necessidade de adequação aos covenants estabelecidos, ou mesmo aumento de liquidez do papel “É um momento de análises muito sofisticadas”, diz.
FONTE: MONEYTIMES