O forte crescimento do primeiro trimestre devido ao efeito de base de comparação, fez economistas preverem uma queda do PIB brasileiro no segundo trimestre, que será divulgado nesta sexta-feira, 1. Mas dados de alta frequência têm levado à revisão das expectativas para cima. O consenso da Refinitiv para o PIB do segundo trimestre, agora, é de alta de 0,3% em relação ao trimestre anterior. Um dos fatores que contribuíram para o maior otimismo foram os números de junho do Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o IBC-Br, que saíram acima das projeções.
"O IBC-BR mostrou um crescimento maior que o esperado, que deve se traduzir em um PIB mais forte no segundo trimestre", disse o economista André Perfeito.
Teses por trás do maior crescimento
Algumas teses têm sido criadas para responder por que o mercado tem frequentemente subestimado o potencial de crescimento da economia brasileira. Entre as que mais circulam nas mesas de negociação é de que o país já estaria colhendo os frutos de reformas aprovadas nos últimos anos. Por serem ainda relativamente novas, os modelos desenhados pelos economistas não estariam capturando os efeitos provocados na economia.
A tese é defendida por grandes gestoras, como a Dahlia Capital e a Jive Investments.
Em entrevista recente à EXAME Invest, o economista e presidente do Conselho de Administração da Jive, Luiz Fernando Figueiredo, explicou que é muito difícil capturar os efeitos dessas reformas microeconômicas nos modelos econométricos. "O Brasil fez muitas nos últimos anos e elas têm impactos relevantes em trazer mais crescimento sustentável", disse Figueiredo.
Entre essas reformas estaria o novo marco do saneamento, a lei das estatais, a autonomia do BC, e as reformas trabalhista e da previdência. "Na prática, estamos crescendo bem mais. Se aprovar a reforma tributária, embora tenha efeitos só a partir de 2026, parte será antecipado pelo ganho de confiança."
Já a Dahlia Capital, em sua última carta, classificou o Brasil como uma "Ilha do Tesouro", dada a capacidade de crescimento. Pelas contas da casa o país cresceu 5 pontos percentuais acima do projetado pelo mercado nos últimos três anos. "Dependendo das políticas do atual governo, a surpresa de crescimento não parará por aí", disse a carta.
Outra explicação, que cabe especificamente para a surpresa deste ano, são as concepções políticas dos economistas do mercado. "A vitória de um governo de esquerda na última eleição elevou o pessimismo entre os economista. O mercado é mais de direita. Talvez isso tenha gerado uma má vontade, mas não é algo sistemático", afirmou Sobral.
Efeito oposto, vale ressaltar, ocorreu em 2018, quando um candidato de direita venceu a eleição presidencial pela primeira vez neste século. No fim daquele ano, o consenso de mercado para o crescimento do PIB de 2019 era de 2,55%, mais que o dobro do crescimento registrado naquele ano, que ficou em 1,2%.
Crescimento daqui para frente
Apesar das recentes surpresas positivas, o mercado espera por alguma desaceleração a partir do segundo semestre – ainda mais se o crescimento do segundo trimestre voltar a superar as estimativas em divulgação desta sexta. "Vários fatores apontam para um crescimento mais forte, como a queda das taxas de desemprego e de juros. Mas, devido a uma base de comparação mais alta, vai ficar mais difícil crescer em um ritmo elevado", avaliou Perfeito.
FONTE: EXAME
LINK: https://exame.com/invest/mercados/por-que-o-mercado-erra-tanto-as-projecoes-do-pib-do-brasil-teses-surgem-entre-economistas/