Quando tudo parecia resolvido, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, colocou o mercado em polvorosa novamente.
Em um evento realizado na noite de segunda-feira (5), o dirigente da autoridade sinalizou que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) – que tem reunião agendada para os dias 20 e 21 deste mês – está em aberto e que o colegiado vai avaliar “um possível ajuste final” da taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Rapidamente, a curva de juros passou a refletir as chances de que o fim do ciclo de elevação dos juros tenham ainda mais um capítulo daqui a duas semanas.
Às 9h desta terça-feira (6), os contratos futuros de DI indicavam elevação em diversos vencimentos. Os maiores avanços, de 0,13 pontos percentuais, eram registrados nos contratos com vencimento em 2024 e 2025, que marcavam taxas de 12,95% e 11,81% ao ano, respectivamente.
Acompanhando o movimento, a remuneração dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto também disparou. As taxas dos papéis atrelados à inflação já haviam voltado à casa dos 5,80% ao ano nesta manhã; à tarde, as dos prefixados se aproximavam dos 12% ao ano uma vez mais.
“Observando os números, parece haver uma boa justificativa para um alívio nos juros”, diz a Levante em relatório. Mas considerando que boa parte da queda recente dos índices de preço – que chegaram a registrar deflação em julho, o que deve se repetir referente a agosto – veio da redução dos preços dos combustíveis, tanto pelas concessões da Petrobras quanto pelo corte de impostos, os analistas da Levante ainda não enxergam necessidade de afrouxar a política monetária.
“Assim, é incorreto considerar que Campos Neto foi hawkish em suas declarações da segunda-feira. Ele apenas deixou claro que a inflação segue estruturalmente elevada e que, como o programa do Chacrinha, seu combate só acaba quando termina”.
O mercado de câmbio também sentiu o baque. Um rali levou o dólar de volta aos R$ 5,24. E na B3, o Ibovespa recuou mais de 2% ao longo do dia.
A piora nos ativos domésticos contrastou com o comportamento mais positivo das últimas semanas, patrocinado, em parte, pela perspectiva de que os juros por aqui parariam de subir.
Os comentários de mercado logo depois do último comunicado de política monetária do BC, no começo de agosto, foram de que o Brasil ficaria mais atrativo a partir de então, uma vez que as taxas de juros tenderiam a ir na direção de queda.
Mas as falas de Campos Neto trouxeram de volta a perspectiva de que os juros demorem mais a cair reverteu essa visão. Na Bolsa, as ações de consumo discricionário, mais vulneráveis ao encarecimento do crédito, despencaram.
Enquanto o mercado reage fortemente às declarações, há algumas análises de que a fala não foi dura quanto pode parecer num primeiro momento.
FONTE: INFOMONEY