A MSK Invest, que se intitula uma assessoria de criptomoedas, apresentou um pedido de recuperação judicial depois de não cumprir com os pagamentos devidos a clientes que investiram nesses ativos por meio dela. A empresa, que teria levantado R$ 700 milhões junto ao grupo de clientes, fez um acordo com o Procon-SP em janeiro para ressarcir no valor integral os investidores que tiveram os contratos desfeitos de forma unilateral no fim do ano passado. Apesar do compromisso, os pagamentos que já deviam ter iniciado não foram efetuados.
O processo de recuperação judicial com data de 11 de abril, apresentado perante a 3ª Vara de Falências do Foro Central de São Paulo, solicita, entre outros pontos, a suspensão de todas ações e execuções pelo prazo de 180 dias. Uma das alegações da defesa da empresa é de que o alto número de processos bloqueando ativos contribuíram para o não pagamento dos valores acordados.
"A recuperação judicial permite organizar quem tem direito a receber de maneira equânime ao invés de atender quem tem primeiro acesso a uma liminar. Há mais de 500 ações de arresto e bloqueio por conta dos contratos de investimento com data de pagamento que não foram momentaneamente cumpridos", afirma o advogado Kaiser Motta Júnior, do escritório Motta Advogados, patrono da empresa ao ser questionado sobre o assunto pelo Valor Investe.
Outras duas razões pesaram para a decisão, segundo Motta. O primeiro foi o encerramento de contas usadas pela empresa para as operações de curto prazo (serviço de trading). Conforme as informações da petição do pedido de recuperação judicial, o volume negociado nas corretoras (exchanges) pelo Grupo MSK era da ordem de R$ 7 milhões por dia.
"Dado o alto volume, travas bancárias começaram a ser acionadas e as contas encerradas sem justificativa. O dinheiro para pagar a rentabilidade aos investidores existe e estava alocado nessas contas correntes. Com isso, foi criado um enorme obstáculo à movimentação financeira", sustenta Motta Júnior. O processo cita os bancos Santander, Digimais, Plural Invest, Bradesco, Sicoob, entre outros.
Somado a isso, a empresa sustenta que houve uma apropriação indébita da gestão da carteira de criptoativos pelo ex-trader diretor de operações, Saulo Gonçalves Roque. A situação, que estaria inviabilizando o repasse dos rendimentos financeiros dos investidores, segundo a alegação, gerou a instauração de um inquérito policial na 96° Distrito Policial –Brooklin.
"O acordo com o Procon-SP foi feito com o intuito de acalmar os investidores. O dinheiro estava nas mãos da MSK e o planejamento do pagamento foi feito com base nisso. Mas próximo do pagamento da primeira parcela os criptoativos ethereum foram apropriados pelo sr. Saulo. Conseguimos ver isso pela tecnologia blockchain", argumenta o advogado. Como ainda não há um processo instaurado pela Justiça sobre o caso, o Valor Investe não encontrou a atual defesa de Saulo para comentar o assunto até a publicação desta matéria.
O pedido de recuperação judicial, que corre em segredo de justiça, engloba as cinco empresas do Grupo MSK: MSK Operações e Investimentos Ltda., MSK Administração e Corretagem de Seguros Ltda., MSK Serviços Digitais Ltda., MSKonforto Sofás e Colchões Ltda., e Vivva Comércio Varejista de Cosméticos Ltda. As atividades das empresas envolve cerca de mais de 300 pessoas. Durante o exercício financeiro de 2021, o grupo teve uma receita bruta total de mais de R$ 300 milhões, com uma base de mais de 3.800 contratos ativos de investidores, segundo a defesa.