Economistas e analistas do mercado esperam que o Banco Central eleve a Selic na quarta-feira, dia 16, em 1 ponto percentual, para 11,75% ao ano, sem descartarem uma decisão mais agressiva diante da piora do cenário para a inflação.
Analistas consultados pela Bloomberg acreditam que o BC adotará um tom hawkish (mais rigoroso) no comunicado da decisão, mas que deixará em aberto a sinalização dos próximos passos em razão do cenário de incertezas. Na reunião passada, no início de fevereiro, o BC indicou que iria desacelerar o ritmo de aperto monetário.
As apostas em alta de juros foram reforçadas pelo reajuste dos preços dos combustíveis pela Petrobras (PETR3, PETR4), em meio à disparada dos preços do petróleo e de outras commodities com a invasão da Ucrânia pela Rússia.
A projeção para o IPCA em 2022 na última pesquisa Focus divulgada antes do Copom, nesta segunda-feira, dia 14, avançou de 5,65% para 6,45%, enquanto a inflação implícita de dois anos atingiu 6,68%.
A maioria dos 30 economistas consultados pela Bloomberg prevê que o Copom elevará a Selic de 10,75% para 11,75% ao ano, mas dois esperam alta para 12% e outros dois estimam que o ritmo de 1,5 ponto percentual (p.p.) será mantido, levando a taxa para 12,25%.
A curva de juros precifica uma alta de 115 pontos base (o equivalente a 1,15 p.p.) da Selic nesta semana, com a taxa a 13,75% no fim do ciclo de aperto monetário, em agosto. Na B3, as opções de Selic apontam 65% de chances de alta de 1 p.p. e cerca de 35% de probabilidade de alta ainda maior.
Veja os comentários de alguns dos economistas consultados:
Mario Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú
- Com o aumento das pressões inflacionárias e o consequente risco de desancoragem de expectativas, o Copom deve realizar um aperto mais prolongado que o esperado antes da escalada das tensões entre Rússia e Ucrânia
- A Selic deve subir 1 p.p. nesta reunião, 0,75 p.p. em maio e 0,50 p.p. em junho, encerrando o ciclo em 13%
- Antes da guerra na Ucrânia, o Itaú acreditava que a taxa terminaria o ciclo em 12,50%
- O balanço de riscos ficou mais complexo
- A pressão adicional vinda dos preços de energia e de grãos irá resultar em inflação significativamente mais alta em 2022.
Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, economistas do JPMorgan
- “Embora não possamos descartar um movimento mais hawkish, julgamos que o BC vai elevar a taxa em 1 p.p. e reforçar a comunicação de que vai esperar por maior clareza para decidir o próximo movimento, abrindo espaço para outra alta de 1 p.p. em maio”
- Em circunstâncias normais, a alta da inflação levaria a um aperto mais agressivo, mas o BC já elevou o juro em 875 pontos base (8,75 p.p.) nos últimos 12 meses, colocando a taxa em território restritivo
- Também são incertos a extensão do impacto e a duração do choque global no crescimento e inflação.
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- O Copom deve elevar a taxa Selic em 1 p.p.; há 30% de chance de um aumento mais ousado, de 1,25 p.p.
- O BC deve endurecer linguagem sobre a inflação e o balanço de risco
- “Esperamos que o balanço de riscos para a inflação permaneça assimétrico para o lado positivo”
- O Copom provavelmente não oferecerá guidance para a reunião de maio; caso ofereça, não deve ser uma sinalização ampla.
Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse
- O BC deve elevar o juro em 1 p.p. e deixar em aberto o cenário para passos seguintes diante das elevadas incertezas
- Deve alterar o trecho no qual diz que, em seu cenário de referência para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções
- “A possibilidade de uma reversão do aumento nos preços das commodities, que produziria trajetória de inflação abaixo do cenário de referência, agora está na direção oposta”
- Estima a Selic final a 13,25% ao ano, mas o cenário desafiador ao longo do ano deve continuar colocando em risco a expectativa para a taxa.
Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador da Mauá Capital
- A possibilidade de 1,25 p.p. estará na mesa do Copom, mas a decisão deve ser de 1 p.p.
- O “BC não pode se antecipar demais; é cedo demais para fazer uma mudança no passo da política monetária”
- O passo seguinte do BC na política monetária deve ficar em aberto diante de tantas incertezas
- A autoridade monetária deve deixar claro que vai responder da forma que for necessária, mas que precisa ter mais informações.
Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual
- O BCB deve manter o racional do último comunicado, elevando a Selic em ritmo menor em relação à última reunião
- Mas o inesperado conflito entre Rússia e Ucrânia deverá ser pauta, uma vez que os preços das commodities
estão pressionando revisões altistas para a inflação - Dado o nível de incerteza, o BCB pode atuar mais firme no discurso, posicionando o balanço de riscos desfavorável de forma que sinalize um alongamento do ciclo de ajuste monetário
- Com tudo na mesa, alteramos a visão de ajustes nas próximas reuniões para 100 pontos base/50/50/50, com Selic terminal em 13,25% ao ano
Vladimir do Vale, estrategista-chefe do CA Indosuez Brasil
- “Desde o começo do conflito na Ucrânia, passei a esperar 100 pontos base (1 p.p.) de alta e não ficaria surpreso se o BC viesse até com 125 pontos”
- O Brasil não pode se dar ao luxo de postergar um pouco o ajuste de política monetária, porque já estava em processo de lutar para trazer expectativas de volta às metas
- O caminho mais seguro para o BC no momento é não se afastar do discurso duro sobre a inflação.
Roberto Secemski, economista para Brasil do Barclays
- Prevê que o BC desacelerará o ritmo de aperto monetário para 1 p.p., embora o tamanho do reajuste dos combustíveis tenha superado as expectativas
- Considerando os aumentos consideráveis dos últimos 12 meses, BC pode preferir estender o ciclo de aperto monetário, para ganhar mais tempo para coletar informações
- “Não esperamos que seja muito assertivo em relação ao tamanho de um aumento de maio, preferindo manter algum grau de liberdade, mas é possível que possa aludir a ‘próximos passos’ no plural, sugerindo pelo menos mais dois aumentos depois de março.”
Gustavo Brotto, CIO da Greenbay Investimentos
- “Esperamos uma alta de 1 p.p. no Copom, mas obviamente a chance de 1,25 p.p. aumentou”
- O Copom deveria deixar a decisão seguinte mais dependente de dados em razão da grande incerteza sobre o cenário, e não sinalizar explicitamente o próximo passo.
FONTE: EXAME