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Para Tony Volpon, ex-BC, já está na hora de os juros voltarem a subir

Quinta, 14 Janeiro 2021

Em meados de março, quando economistas passaram a prever uma situação muito pior do que a vista na economia e no ritmo do consumo, eram raras as vozes dissonantes em relação à necessidade de se baixar os juros da taxa básica, a Selic.

Atualmente, num cenário bastante diferente do desenhado lá atrás, a taxa em sua mínima histórica de 2% ao ano parece inadequada para a realidade do país, na opinião de Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central (BC) e estrategista-chefe da WHG, gestora recém-criada por ex-executivos do Credit Suisse.

“(A queda da taxa) era algo que as condições do momento apoiavam. Mas, hoje, temos uma retração econômica menor do que a visualizada, devido ao pacote fiscal anunciado em meio à crise, um dos maiores entre os emergentes, além de um impulso forte pelo qual a inflação passou, de maneira inesperada”, disse o economista ao CNN Brasil Business.

No pior momento da crise causada pelo novo coronavírus, os analistas chegaram a prever uma queda de 10% para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2020, cuja retração deve ter ficado em torno de 5%, segundo a maior parte das estimativas. Naquele momento, economistas chegaram a considerar também a chance de a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) furar o piso da meta, influenciado por uma esperada retração do consumo.

Não foi o que aconteceu. Levado pela alta no câmbio e pela distribuição do auxílio emergencial a mais de 50 milhões de brasileiros, o índice fechou o ano com a variação de 4,52% — a maior desde 2016 —, furando o centro da meta perseguida pelo BC, de 4%, com margem de 1,5 ponto para cima (5,5%) ou para baixo (2,5%).

Nesse cenário, Volpon defende que chegou a hora de a autoridade monetária ao menos sinalizar um processo de normalização dos juros. “Isso teria um efeito benéfico no câmbio, na curva de juros e ajudaria a economia”, diz.

 

Retomada nas mãos do BC

Na visão de Volpon, a sinalização de que haverá uma normalização na política extremamente acomodatícia que o BC adotou ao longo do ano passado contribuiria para estabilidade cambial e achatamento da curva de juros. Essa última, destaca, já prevê a Selic indo a 6% ao ano em 12 meses, o que aumenta muito o peso da dívida pública.

“Uma coisa que talvez não seja muito intuitiva é que, muitas vezes, quando o BC tem uma postura mais conservadora na política monetária, acaba fazendo o nível de juros cair. Nessa onda, os juros futuros também caem”, diz.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) se reúne na semana que vem para decidir sobre o futuro da Selic, mas a expectativa do mercado, de uma maneira geral, é que a taxa ainda seja mantida no atual patamar.

A primeira coisa que deve acontecer é a retirada do ‘forward guidance’, que já está vencido, e cujo processo de abandono começou na penúltima reunião", Tony Volpon, ex-BC

O forward guidance é uma espécie de orientação que o BC dá em relação aos seus próximos passos e que tem sido usado durante a crise para indicar o compromisso da instituição em não subir os juros. “Agora, espero que ele seja retirado completamente da comunicação do BC”, diz o economista.

Volpon prevê que, se o BC começar até março esse processo de normalização, é possível que a Selic fique entre 4% e 5% ao ano no fim de 2021.

"Se o BC relutar em começar esse processo, quando começar é possível que a taxa tenha que subir ainda mais, já que terá permitido a formação de mais pressões inflacionárias"

 

Volpon

Para essa análise, o economista destaca, porém, que parte do pressuposto que haja, de fato, uma solução para a questão fiscal, pendente nesses últimos meses. “Não sabemos muito bem nem qual será o orçamento a ser executado pelo governo federal neste ano. Esse cenário depende da PEC Emergencial e do Pacto Federativo serem aprovados, assim como do início da vacinação contra a Covid-19.

 

Impacto no câmbio

O principal motivo defendido por Volpon para que o BC volte a subir os juros é a influência que o atual ritmo da política monetária vem tendo nos mercados, sobretudo no de câmbio, que tem trazido preocupação. A moeda brasileira se desvalorizou quase 30% no ano passado em relação ao dólar, num dos piores desempenhos entre os países emergentes.

“É um fato surpreendente, principalmente se levarmos em conta que o Brasil tem um dos maiores níveis de reservas cambiais entre seus pares”, diz Volpon.

O excesso de volatilidade  da moeda, destaca o economista, impede a entrada de investimentos estrangeiros no país: “Se tivéssemos um câmbio mais estável, a entrada de dólares poderia ser maior num momento em que gostaríamos que a curva da inflação caísse”, diz.

 

Fonte: CNN Brasil Business