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Abrir capital no Brasil tem custo equivalente ao de IPO nos EUA

Terça, 15 Dezembro 2020

Abrir o capital nos Estados Unidos não é significativamente mais caro do que na B3 quando se analisa as taxas cobradas das companhias no processo de oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês). Levantamento feito pela Alvarez & Marsal (A&M) com base em algumas das maiores operações de abertura de capital realizadas por empresas brasileiras em bolsas americanas e na B3 indicam cobrança de taxas de emissão muito próximas, em média.

A partir de dados dos IPOs das varejistas Grupo Mateus e Lojas Quero Quero, da empresa de logística Hidrovias do Brasil e da rede de petshops Petz, a consultoria americana calculou um custo médio de 5,1% incidente sobre o valor dessas operações, realizadas no Brasil, entre janeiro e novembro deste ano. Já as aberturas de capital da XP Inc, da Stone, da Afya Educacional e da Arco Educação, ocorridas nos últimos dois anos na Nasdaq, tiveram comissões de 5%, em média, segundo a A&M.

No entanto, o valor — em dólar — das ações colocadas no mercado foi quase 50% superior no caso das empresas que abriram capital nos Estados Unidos. A média das ofertas no Brasil, considerando as quatro empresas pesquisadas, foi de US$ 609 milhões, contra US$ 908 milhões captados por XP, Stone, Afya e Arco (em média).

“Em termos de fees (honorários fixos), não são mercados tão distintos”, ressalta Carlos Priolli, sócio-diretor da área de finanças Corporativas da A&M. “Mas o mercado [de capitais] americano tem, naturalmente, um nível de maturidade maior, mais investidores e um maior volume negociado.”

Isso não significa, frisa ele, que os benefícios de abrir o capital na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) ou na Nasdaq sejam “tão superiores” aos de realizar um IPO na B3. “A Rede D’Or está aí para provar isso”, argumenta. “O importante não é o local da abertura de capital, mas o momento da economia e a liquidez do mercado.”

O IPO da Rede D’Or, na semana passada, levantou R$ 11,5 bilhões. Em valores corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o IPO da companhia do setor de saúde foi o segundo maior do país.

Em 2020, de janeiro a outubro, ocorreram 21 IPOs no Brasil, de acordo com a A&M. Juntas, as ofertas somaram R$ 29,9 bilhões. Desse total, R$ 15,1 bilhões foram de ofertas primárias e R$ 14,8 bilhões, de secundárias. Segundo a consultoria americana, o volume e a quantidade de IPOs no país em 2020 serão os maiores dos últimos sete anos.

Nos Estados Unidos, a Nyse vem batendo sucessivos recordes em termos de ofertas públicas iniciais. Só em setembro foram realizados 27 IPOs, num total de US$ 14 bilhões em recursos captados. Ambos os recordes históricos foram quebrados em outubro, quando ocorreram 34 ofertas, no valor de US$ 16 bilhões.

A estratégia para manter esse dinamismo em 2021 passa, em parte, por atrair companhias estrangeiras para Nyse, explica Alex Ibrahim, diretor de mercados de capitais internacionais da Bolsa de Valores de Nova York. “A Nyse está focada em tecnologia”, diz Ibrahim, acrescentando que a bolsa também busca atrair empresas brasileiras neste segmento.

Novo filão

O executivo destaca que em julho, em meio à pandemia, foi realizado a primeira oferta de uma Spac — sigla em inglês para empresa de aquisição de propósito específico — voltada para um negócio no Brasil. A HPX Corp levantou US$ 220 milhões na bolsa americana. Em linhas gerais, as Spacs equivalem a um cheque em branco: investidores aportam dinheiro para uma futura aquisição de negócios reais e lucrativos no futuro.

Inicialmente um produto mais voltado para o mercado americano, a Spac ganhou relevância na Nyse a partir da flexibilização das regras da própria bolsa nova-iorquina há cerca de três anos. “Esse produto está ficando cada vez mais global”, constata Ibrahim. “Acredito que vamos ver Spacs da América Latina e do Brasil vindo para o mercado no início de 2021.”

O dinamismo atual contrasta com a situação experimentada no início da pandemia nos EUA. “Em março, achamos que o ano tinha acabado. As transações sumiram, a volatilidade era enorme”, lembra Ibrahim. As perspectivas para o primeiro semestre de 2021 são positivas, na visão dele. “O pipeline [fila de companhias interessadas em abrir capital] para o ano que vem, para o primeiro e o segundo trimestres, é superforte”, frisa.

No Brasil, até o fim de outubro havia 42 pedidos de IPO em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Três dessas ofertas são exclusivamente primárias e 39, primárias e secundárias, segundo dados compilados pela A&M.

Para Priolli, da Alvarez & Marsal, apesar da “fila muito grande” de empresas interessadas em fazer IPO, o início do próximo ano pode ser difícil no Brasil. Não só por causa da pandemia, mas também devido a preocupações no âmbito fiscal.

“A bola de cristal está bem turva”, resume. O fim do auxílio emergencial e a cobrança pelos bancos de dívidas cujo pagamento havia sido postergado em função da pandemia também tendem a impactar negativamente a economia, argumenta Priolli.

 

Fonte: Valor Investe