A taxa de juros baixa e a forte demanda por ativos de risco e diversificação de carteiras em 2020 fez a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro) acelerar projetos para aumentar a transparência e facilitar o entendimento do mercado financeiro pelos investidores menores. Entre eles, a criação de uma espécie de ‘cadastro positivo’ de instituições e profissionais de investimentos para ajudar o investidor, em especial o pequeno, a escolher assessoria financeira.
“Um projeto que viemos acelerando este ano é um Cadastro Anbima de instituições e profissionais, semelhante ao cadastro positivo de crédito. O objetivo é dar acesso para o público em geral à consulta sobre instituições financeiras, quem são seus profissionais, se são certificados e, em um segundo passo, olhar informação da pessoa física e do profissional certificado. Queremos dar informação ao investidor”, explicou Carlos Ambrósio, presidente da Associação durante painel do Congresso Internacional Planejar 2020.
Ele explica que a ideia partiu do entendimento de que o mercado de aconselhamento de investimentos deve ganhar ainda mais espaço e rapidamente, que vai, segundo ele, “ser preenchido de alguma forma”. A Associação quer, com isso, ajudar no combate a fraudes e crimes financeiros.
Outra frente de trabalho da Anbima é a da transparência. “A gente vem acelerando discussões que existiam dentro da Associação sobre transparência. Informação além da educação financeira é muito importante. Transparência da remuneração, forma como a atuação do profissional junto com o investidor é feita, se é remunerado pelo produto ou investidor, e também a portabilidade de ativos. São alguns exemplos de temas que temos acelerado”, diz.
Ambrósio destaca ainda que a Associação está acompanhando de perto os estudos e análise sobre as “dinâmicas envolvendo prestadores de serviço, a cadeia de distribuição e remuneração”, se referindo, por exemplo, aos agentes autônomos de investimentos. Está, inclusive, em conversas constantes com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre regulamentações da profissão e a discussão de exclusividade de plataforma.
“Havendo qualquer dinâmica de alteração com relação a prestadores de serviço [financeiro] em geral, é importante a luz das experiências. Focamos na experiência e não no conflito; no cliente como protagonista. Existem alguns núcleos regulatórios e nuances que não se trata de alterar, e de maneira uniforme, tudo; mas penso que é algo interessante para o processo de reflexão no mercado”, finaliza.
Sobre a abertura de mais produtos para investidores de varejo, Ambrósio diz que a Associação está constantemente estudando novas propostas para serem levadas à CVM.
“Usando o arcabouço atual e a classificação de investidores e produtos, viemos tentando atender a demanda. Exemplo recente é a liberação de BDRs [papéis de empresas listadas na bolsa americana e negociadas na B3]. A própria audiência pública dos fundos de investimento [colocada mês passado em pauta pela CVM] vai ter alguma alteração de investimento no exterior. Mas de uma maneira mais estrutural é que a gente na Associação está provocando, está tendo uma discussão interna para tentar construir uma proposta para levar para a CVM e utilizaria o 'suitability' [avaliação de perfil de investidor] mais como uma obrigatoriedade legal e mais uma ferramenta de planejamento”, conta.
Ele reforça que essa não é um pleito formal ainda da Anbima e que a preocupação por trás é que, em um ambiente de juros básicos a 2% ao ano, viabilizar alternativas de investimento que o investidor independente do tamanho possa ter retorno de acordo com a necessidade. “Já temos BDRs e agora a questão dos fundos. Se conseguirmos chegar a uma proposta que o ‘suitability’ se torne uma ferramenta para isso seria o ideal”, finaliza.
Fonte: Valor Investe