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Ibovespa colhe frutos de 'chuva de dinheiro' sem tirar o olho dos problemas fiscais

Quarta, 09 Dezembro 2020

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O apetite ao risco dos investidores (especialmente estrangeiros) parece não ter fim, salvo algumas rápidas pausas para retomar fôlego, e os mercados globais vêm mantendo o ritmo de alta desde novembro. A enxurrada de fluxo de dinheiro no mundo fez o Ibovespa desviar de todas as desconfianças fiscais e fechar aos 113.793 pontos ontem, renovando patamar máximo desde o início da pandemia de covid-19.

"Claramente o bom humor do mercado ainda vem com uma grande e inequívoca liquidez mundial. Essa liquidez está agora vazando para os mercados emergentes e o Brasil tem aproveitado isso de uma maneira muito boa. Não é À toa que a bolsa está nas máximas dos últimos meses", diz Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos.

Esse "pique", que já coloca os índices futuros dos Estados Unidos e bolsas europeias no campo positivo nesta manhã, continua sendo alimentado pelo noticiário positivo envolvendo as vacinas contra a covid-19 e o avanço nas negociações do pacote de estímulos para a economia americana.

De acordo com o "The Wall Street Journal", o governo republicano de Donald Trump propôs um pacote de estímulo de US$ 916 bilhões na noite de ontem, incluindo uma proteção de responsabilidade para os empregadores, outra rodada de pagamentos diretos aos americanos de pelo menos US$ 600 por pessoa e ajuda aos governos estaduais e locais.

Ontem também a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) afirmou que a vacina da Pfizer contra a covid-19, produzida em parceria com a BioNTech, é eficaz. Com isso, a agência pode sinalizar em breve a aprovação para produção da vacina, o que abre o caminho para a imunização dos americanos. A FDA faz nova reunião amanhã para debater sobre a vacina.

Hoje cedo, a agência Dow Jones informou que uma vacina contra a covid-19 produzida pela estatal chinesa Sinopharm apresentou uma eficácia de 86% nos estudos de fase 3 realizados nos Emirados Árabes Unidos, de acordo com a agência de notícias estatal local.

No Brasil, os investidores acompanham os preparativos para a eleição dos próximos presidentes da Câmara e do Senado e como isso vai impactar a negociação sobre as reformas que o mercado tanto quer e a busca por uma solução para os problemas fiscais do país, afirma Morelli.

Hoje cedo, em participação gravada no evento 2020 Asia Summit, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a concentração de vencimentos de títulos de dívida do governo brasileiro nos primeiros meses de 2021 não preocupa, já que metade dos cerca de R$ 600 bilhões que precisam ser pagos até abril estão provisionados.

Hoje também é dia de decisão sobre a Selic, a taxa básica de juros, após o fechamento do pregão, e a ampla expectativa do mercado é pela manutenção em 2% ao ano.

"É esperada alguma mudança no comunicado, trazendo para o radar de uma maneira um pouco mais explícita a pressão inflacionária que temos vivenciado nos últimos meses e que pode de alguma maneira influenciar a inflação do ano que vem e, principalmente, influenciar também as decisões futuras de taxa de juros por parte do Copom", diz Morelli.

Bolsas internacionais

As bolsas asiáticas fecharam sem direção única, com fortes ganhos em Tóquio e Seul, mas também fortes perdas em Xangai e Shenzen, na China. Após novos recordes em Wall Street ontem, o Nikkei, índice de referência da Bolsa de Tóquio, subiu 1,33%, e o Kospi, da Bolsa de Seul, avançou 2,02%. Em Hong Kong, o Hang Seng teve ganhos de 0,75%.

A probabilidade de que a distribuição de uma ou mais vacinas contra o novo coronavírus possa começar nos EUA nas próximas semanas manteve os investidores em um clima de compra, aumentando o otimismo sobre uma recuperação econômica no próximo ano.

Além disso, o Japão divulgou dados mostrando fortes encomendas de máquinas em outubro, adicionando sinais de que sua economia está se recuperando.

Por outro lado, na China, o Xangai Composto caiu 1,12%, e o Shenzen Composto recuou 1,88%, depois que a China informou que seu índice de preços ao consumidor caiu 0,5% em novembro em comparação com o ano anterior.

Economistas disseram que a primeira queda do país em deflação desde 2009 não é motivo para alarme. O índice de preços ao consumidor foi prejudicado pela queda nos preços dos alimentos devido a melhorias no fornecimento de carne suína, que foram interrompidas enquanto as autoridades lutavam contra surtos de peste suína africana, enquanto outros preços aumentaram conforme a atividade econômica se recuperava da pandemia de covid-19.

Agenda

Principal destaque do dia, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) não deve trazer grandes novidades, com a esperada manutenção da taxa básica de juros em 2% e a continuidade do “forward guidance”. Essa comunicação, especialmente em relação às pressões inflacionárias recentes e à questão fiscal, deve continuar no centro das atenções dos investidores.

Em relação à inflação, inclusive, a agenda de hoje traz a primeira leitura de dezembro do IGP-M, que ficou em 1,28%. Com este resultado, a taxa em 12 meses passou de 23,79% para 23,52%.

No exterior, a agenda continua fraca, especialmente em relação a indicadores. O principal destaque do dia fica com a decisão de política monetária do Banco do Canadá (BoC), que também deve manter a taxa básica de juros na mínima histórica de 2%.

Empresas

A Rede D’Or concluiu a alocação dos lotes adicional e suplementar em sua oferta pública inicial de ações (IPO), captando um total de R$ 11,5 bilhões. Com isso, o IPO é o segundo maior da história no país, em termos nominais, atrás apenas da oferta do Santander Brasil em 2009.

A provedora de índices de mercado S&P Dow Jones decidiu retirar o Carrefour Brasil de sua carteira do índice S&P/B3 Brazil ESG. O referencial busca espelhar o desempenho de empresas brasileiras com atenção particular para os critérios ambientais, sociais e de governança (ESG na sigla em inglês).

 

Fonte: Valor Investe