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Investidores buscam ações 'baratas' sem deixar riscos fiscais e de covid-19 fora do radar

Quarta, 18 Novembro 2020

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O dólar valendo agora 33% mais no Brasil do que no fim do ano passado trouxe a atenção - e o dinheiro - dos investidores estrangeiros de volta à bolsa brasileira e o Ibovespa fechou ontem em 107.249 pontos, no maior patamar desde 21 de fevereiro, ou seja, antes do estouro da pandemia em terras nacionais.

Foi uma bela corrida atrás de pechinchas que beneficiou a porta de entrada clássica dos estrangeiros, as ações de Vale e Petrobras, mas a verdade é que nenhum investidor - nem gringo nem local - se esqueceu do ambiente caótico em que essas "promoções" se encontram.

Lá fora, a expectativa ainda é por novos estímulos econômicos diante de uma segunda onda de contaminação de covid-19 na Europa e nos Estados Unidos, que traz junto dela novas medidas de restrição de circulações e mais pressão sobre as economias.

Ontem, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que a economia americana tem um “longo caminho a percorrer” antes de retornar aos níveis pré-pandêmicos e alertou que “os próximos meses podem ser muito desafiadores”.

O alento positivo vem das notícias sobre a eficácia das vacinas contra a covid-19, mas ainda sem data para conclusão dos testes e a distribuição para a população. A novidade otimista nesse sentido vem da vacina que está sendo desenvolvida pela fabricante chinesa Sinovac, que mostrou-se segura e com capacidade de produzir anticorpos 28 dias após sua aplicação em 97% dos casos.

A notícia tende a ser especialmente positiva para o público brasileiro, já que o Instituto Butantan tem parceria com a Sinovac, mas sem deixar de lado a grande preocupação fiscal.

A expectativa por aqui segue na aceleração dos trâmites para que a situação fiscal seja resolvida, mas ela esbarra nas negociações em Brasília. "Não dá mais para ignorar os fatos, o problema agora é simplesmente político, mais do que qualquer outro", diz André Machado, sócio-fundador do Projeto Os 10%, escola de trades.

Onyx Lorenzoni, ministro da Cidadania, disse ontem que as mudanças no Bolsa Família, que o transformarão no Renda Cidadã, devem ser anunciadas após o segundo turno das eleições municipais, Contudo, a fonte de recursos para bancar o programa de transferência de renda mais amplo - e mais caro - ainda segue sendo um mistério.

O mercado financeiro continua na expectativa de reformas estruturais que arrumem a casa e deem espaço para comportar o programa, mas a preocupação, além da agenda apertada, é o risco de o presidente Jair Bolsonaro optar pela saída mais populista.

"Para rolar votação tem que ter acordo muito bem costurado com governo e o Congresso e eu duvido que isso vá acontecer, porque o Bolsonaro deve estar com a mão coçando para aprovar o Renda Cidadã independente de corte de gastos e de onde virá a receita, principalmente depois dessa derrota nas urnas", diz Machado. Bolsonaro teve poucos apoiados eleitos nas eleições de prefeitos e câmaras de vereadores.

A necessidade de um programa de transferência de renda e de uma extensão do auxílio emergencial ganha mais força à medida que os casos de covid-19 voltam a crescer também no Brasil, o que pode nos levar para o mesmo caminho de outros países, que voltaram a limitar o funcionamento do comércio, afetando a renda dos trabalhadores.

Bolsas internacionais

Os índices asiáticos fecharam sem direção depois que Wall Street caiu, já que as preocupações com o impacto de longo prazo da pandemia diminuíram o entusiasmo sobre o desenvolvimento de vacinas.

O Nikkei, índice de referência da Bolsa de Tóquio, terminou o dia com queda de 1,10%, enquanto o Kospi, da Bolsa de Seul, avançou 0,26%. Na Bolsa de Hong Kong, o Hang Seng subiu 0,49%. Na China, o Xangai Composto teve alta de 0,22%, e o Shenzen Composto caiu 0,34%.

Anúncios de que duas empresas podem estar fazendo progresso em uma vacina contra o novo coronavírus encorajaram os investidores, mas a alta do número de infecções nos Estados Unidos e na Europa aumentou a ameaça de novas restrições aos negócios e à mobilidade.

Agenda

A agenda do dia não traz grandes destaques entre indicadores econômicos no Brasil, com a segunda prévia do IGP-M de novembro sendo o único dado a ser divulgado pela manhã.

Comentários do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, devem ser monitorados, assim como a participação do diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, na Live do Valor, no momento em que a inflação tem estado no foco dos investidores.

No exterior, dirigentes do Federal Reserve (Fed) participam de diversos eventos, em um dia de agenda relativamente fraca nos Estados Unidos. O presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, discursa às 12h, e o presidente do Fed de Nova York, John Williams, profere discurso às 14h15. O presidente do Federal Reserve de Saint Louis, James Bullard, discursa às 15h20, e às 21h o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, faz discurso.

As construções de moradias iniciadas e as permissões para novas obras, às 10h30, são os principais dados a serem acompanhados pelos investidores, no momento em que as discussões sobre um pacote de estímulos econômicos continuam a todo vapor no Congresso americano.

Empresas

A credenciadora de cartões Stone deu ontem um passo importante em sua estratégia de avançar no varejo ao obter a aprovação dos acionistas da Linx para a aquisição da empresa de software. Com uma oferta de quase R$ 6,8 bilhões, a companhia venceu uma disputa travada ao longo de quatro meses com a Totvs pela compra do ativo.

A BK Brasil, operadora no país da rede de restaurantes Burger King, informou que foram aprovados o preço por ação de R$ 10,80 no âmbito da oferta pública com esforços restritos de distribuição primária de ações, e o efetivo aumento do capital social da companhia em R$ 510,3 milhões, mediante a emissão de 47.250.000 ações ordinárias.

Os bancos Itaú, Santander, Banco do Brasil e Caixa tentam na Justiça suspender a venda de ativos da Oi ou bloquear recursos provenientes dessas alienações. A operadora, em recuperação judicial, quer vender cinco grandes blocos de ativos e estima que possa arrecadar R$ 26,9 bilhões.

A Vittia Fertilizantes e Biológicos, protocolou pedido de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A oferta será primária — quando os recursos vão para o caixa da companhia — e secundária, quando os recursos vão para os vendedores.

O Conselho da Gafisa ratificou a emissão de 9.944.150 ações ordinárias da companhia, e aprovou a consequente homologação do aumento do capital social da companhia, dentro do limite do capital autorizado, passando este para R$ 1.083.248.395,33, representados em 300.676.101 ações ordinárias.

 

Fonte: Valor Investe