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Operações do Pix começam hoje. Veja prós e contras do novo sistema de pagamentos

Segunda, 16 Novembro 2020

O novo sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, chamado de Pix, entra em operação nesta segunda-feira, 16 de novembro. Antes disso, alguns clientes selecionados participaram da fase de testes do produto, que agora será aberto para todos.

Para utilizar o Pix, os interessados devem realizar um breve cadastro no seu banco ou carteira digital. É importante sempre usar seu login (nome de usuário) e senha em instituições que você já conhece para realizar o registro das chaves Pix e evitar cair em fraudes.

Ele é gratuito para transferências feitas pela internet entre pessoas físicas (quem possui conta com CPF) com contas em diferentes instituições. Poderão ser taxados os que realizarem Pix em operações presenciais ou por telefone.

Também pode haver cobranças para empresas (CNPJ) e microempreendedores individuais (MEI), mas as estratégias de tarifas e limites serão definidas pelos próprios bancos, a partir de uma oferta mínima gratuita definida pelo Banco Central.

O porta-voz do grupo de segurança da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Ivo Mósca afirma que a tendência é ter um ambiente mais competitivo que deverá fazer com que as tarifas do Pix para empresas e comerciantes sejam bastante atrativas, possivelmente mais baratas que as de cartões de crédito ou débito.

O Pix também amplia a gama de concorrentes, dado que o banco Central autorizou 762 instituições a realizarem este tipo de operação.

"Há uma expectativa de todo o mercado que as taxas sejam menores que do cartão de débito e uma vez que você vai ter um preço menor, você vai ter um mercado bastante agressivo para conquistar clientes. Imagino que vai haver uma concorrência em relação aos custos transacionais", afirma.

Se por um lado, os bancos e instituições poderão adotar diferentes tarifas e limites de transferência, de acordo com o que julgam ou não seguro, a concorrência pode fazer com que haja uma moderação em comportamentos abusivos.

De uma forma geral, o custo da operação via Pix é bem menor que por cartões, por exemplo. Ela é mais direta e não tem de remunerar banco, adquirente, etc. Dessa forma, pode acabar se tornando um meio de pagamento mais barato, se comerciantes ou prestadores de serviço decidirem repassar os custos transacionais para os clientes.

O que pode ocorrer é ofertarem descontos ou algum outro tipo de vantagem, como recompensas ou pontos, quando o pagamento for por Pix.

Além de tudo, o Pix permite fácil portabilidade de chaves, que é quando você decide que quer receber o dinheiro dos pagamentos e transferências em outra instituição se seu banco não estiver com as melhores condições.

"É mais fácil que portabilidade de celular. Pode ser feito com alguns cliques apenas", afirma Mósca.

Vantagens

  • Gratuito e instantâneo para transações on-line interbancárias (bancos diferentes) entre pessoas físicas;
  • Deverá gerar menos custos a empresas, MEIs e prestadores de serviços;
  • Funciona fora do horário comercial, também nos fins de semana e feriados;
  • Irá permitir, em breve, possibilidade de saques sem cartão em pontos comerciais;
  • Facilidade de portabilidade de chaves;
  • Reduz a necessidade de pagar cestas mensais nos bancos;
  • Elimina a necessidade de pagar tarifas avulsas TED/DOC.

Desvantagens

  • Não aceita crédito;
  • Não há possibilidade de parcelamento;
  • Para o pagamentos em estabelecimentos, exige mais passos que simplesmente usar cartão ou sistema NFC no celular. Também demanda acesso à internet;
  • Cada banco pode adotar política de cobrança e limitações diferentes;
  • Pode ser tarifado quando feito por telefone ou atendimento presencial;
  • Não há possibilidade de estorno nas transferências.

É bom mesmo?

O Pix promete ser uma forma democrática e rápida de transferir dinheiro e realizar pagamentos a qualquer hora e de qualquer lugar.

No entanto, o novo sistema terá restrições de valores e horários de transações na primeira fase de funcionamento que vai até o dia 28 de fevereiro de 2021.

Incialmente, o valor limite para transferências entre contas com diferentes titulares precisam ser de pelo menos 50% do valor permitido para TED. Outras operações terão o limite máximo do cartão de débito (cuidado para não entrar no cheque especial, uma vez que o dinheiro é subtraído imediatamente da conta).

Em março, alguns desses valores poderão ser expandidos.

O Pix permite somente débitos. Não há previsão de pagamentos de Pix por crédito ou mesmo o parcelamento de compras. Por isso, ele seria uma alternativa aos boletos e ao cartão de crédito na hora de efetuar pagamentos.

Também há possibilidade de realizar o pagamento via Pix por meio de QR code. Após digitar nome/número de usuário e senha, o pagante aponta a câmera do celular para o código do lojista e finaliza a transação.

O problema é que isso exige um celular relativamente rápido e conexão com a internet. Ao passo que o pagamento com cartão ou mesmo por tecnologia NFC (de encostar o celular para pagar) são mais práticos.

Em vez de desbloquear o celular, digitar senha, fazer leitura de código para só depois confirmar o pagamento, você pode simplesmente sacar o cartão e pagar pelas compras ou serviços.

Ainda não se sabe se o sistema vai apresentar instabilidades nos primeiros dias ou meses de uso, com o aumento da demanda por esse tipo de pagamento.

Por outro lado, o Pix deixa o consumidor menos refém de restrições de horários de um modo geral. Antes as transferências TED ou DOC e boletos dependiam de dias úteus e horário bancário para serem descontados.

Com o Pix, isso muda. Ele deverá funcionar até na madrugada embora com restrições de valores, a depender da política de cada banco.

Também vale mencionar que as cestas dos bancos perdem um pouco do propósito agora. A menos que o cliente queira pagar por algum tipo de atendimento exclusivo ou ter mais vantagens no cartão de crédito.

Já não vai mais valer a pena pagar por cestas que permitem transferências interbancárias ou mesmo se submeter às tarifas avulsas de TED e DOC.

Pix para MEI

A priori, pessoas físicas e até MEIs não devem ser cobrados quando não houver fim comercial na transação. Mas, segundo Mósca, da Febraban, ainda é um desafio entender quais contas com cadastros de CPF são simplesmente pessoa física e quantas fazem operações de negócios.

Segundo o especialista, um entendimento dentro da Febraban é que o número de transações pode dar uma pista de quem atua como pessoa jurídica e como pessoa física. Atualmente, diz ele, 95% dos clientes pessoa física são atendidos com 10 transferências por mês.

"Hoje com 30 transações mensais, atendemos 99,7% dos clientes pessoa física. A gente entende que uma proposta como essa é facilmente comunicável pelo mercado. Você pode receber uma transação por dia na sua conta de forma gratuita", diz. A Febraban é formada pelos maiores bancos do Brasil, por isso, reune dados de uma imensa fatia do mercado.

Daniel Mazini, chefe de produtos da Neon, entende que, na competição por clientes, o diferencial vai ser na oferta justamente para os microempreendedores individuais. (MEI). A ideia é que eles também tenham o Pix gratuito. Ele explica que o modelo de negócios tem uma política de cobrar o mínimo possível dos clientes e ganhar com o número de transações.

"MEI precisa de muita ajuda para transacionar e cobrar coisas extras não ajuda. Como é um serviço com custo mais barato a gente não vê sentido cobrar pelo PIX. TED e boletos também continuarão sendo gratuitos. A maioria dos nossos serviços são gratuitos, quanto mais o cliente usa nosso banco a gente ganha nas transações, que é pequeno valor cobrado do lojista", afirma.

A estratégia é esperada também de outros bancos pequenos e até maiores. O Banco Original, por exemplo, já anunciou que não cobrará taxas para transações do PIX pelos empreendedores.

O diretor executivo da Capco, consultoria de tecnologia e negócios financeiros, Luciano Sobral, diz ainda que o Pix acaba saindo mais barato para pequenos empreendedores por exigir menos investimentos. Não é preciso comprar uma maquininha de cartão, nem alugá-la. Tudo é mais simples e barato.

"O potencial disruptivo do Pix irá trazer uma simplificação da cadeia de pagamentos, permitindo interações diretas entre negócios e consumidores, sem a necessidade de intermediadores. Será muito simples para um pequeno negócio aceitar pagamentos Pix, pois não é necessário nenhum equipamento adicional. Já acompanhamos o sucesso do uso de QR Codes na China e entendemos que há um grande potencial do Brasil seguir esta mesma tendência", afirma.

O que é chave Pix?

A chave Pix é como se fosse um apelido, uma identidade de cada pessoa ou empresa dentro do sistema novo.

Em vez de passar informações como sua conta, sua agência e seu CPF, você só precisa informar a chave Pix para quem for transferir o dinheiro para você.

O melhor é que essa chave pode ser uma informação que você já sabe de cor. Todo mundo tem direito a pelo menos três chaves:

  • Número do seu celular
  • Endereço do seu e-mail
  • CPF ou CNPJ (se for empresa)

Se você não quiser nenhuma dessas chaves, a instituição pode gerar um número aleatório para a sua chave Pix. O problema desta opção é que você vai ter de memorizar este número para passar para quem for transferir o dinheiro para você.

O cadastro das chaves é completamente gratuito para pessoas e empresas de todo tamanho. E, para pessoa física, também não há custo tanto para enviar como para receber dinheiro por esse novo sistema de pagamentos. Ele pode ser feito a qualquer momento. Não há data limite para se cadastrar.

Quer testar?

Para quem ainda está um pouco inseguro em relação ao Pix, uma alternativa para realizar um teste é efetuar uma transferência para você mesmo em diferentes instituições. Inclusive, as transferências de mesma titularidade de conta são até menos restritas.

Basta entrar no aplicativo do seu banco/carteira digital, colocar seu login e senha, buscar a opção "Pix" dentro do próprio aplicativo.

Após clicar, você deverá informar o valor e também informações da chave do contato para quem deseja transferir. No caso, você mesmo, portanto a chave registrada em outro banco, como CPF, número de telefone ou e-mail.

Você deverá confirmar que quer realizar a transferência. Depois da confirmação, as duas pontas devem receber um comprovante de que a operação foi efetuada.

CUIDADO! Assim como transferências via TED ou DOC, o Pix não possui mecanismo de estorno. Uma vez que o valor é enviado, a única maneira de recebê-lo de volta é se o destinatário decidir realizar uma nova transação.

 

Fonte: Valor Investe