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Banco Central reforça que espaço para novos cortes na Selic, ‘se houver, deve ser pequeno’

Terça, 03 Novembro 2020

O Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou nesta terça-feira que o espaço para novos cortes na taxa básica de juros, "se houver, deve ser pequeno". A mensagem está presente na ata referente à reunião da semana passada, quando o colegiado manteve a Selic em 2% ao ano.

"O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno", disse.

A decisão de manter a Selic em 2%, reiterou também o colegiado, "é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2021 e 2022".

O Copom também reforçou "que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia".

"Questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia", disse, em referência à taxa de juros que permite o máximo de crescimento da economia sem que a inflação acelere.

Inflação

O Copom também afirma que mantém seu diagnóstico de que a alta recente de preços seja temporária.

“Espera-se a reversão na elevação extraordinária dos preços de alguns produtos, afetados por redução provisória na oferta em conjunção com um aumento ocasional na demanda”, diz o documento, que detalha decisão tomada na semana passada pelo colegiado de manter os juros em 2% ao ano e o seu “forward guidance”.

Segundo a ata, as últimas leituras de inflação foram acima do esperado, e o Comitê elevou sua projeção para os meses restantes de 2020.

“Contribuem para essa revisão a continuidade da alta nos preços dos alimentos e de bens industriais, consequência da depreciação persistente do real, da elevação de preço das commodities e dos programas de transferência de renda”, diz o documento. “Por um lado, a normalização parcial dos preços ainda deprimidos deve continuar, em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade.”

O colegiado conclui que dessa forma, “apesar de a pressão inflacionária ter sido mais forte que a esperada, o comitê mantém o diagnóstico de que esse choque é temporário, mas monitora sua evolução com atenção”.

Retomada

A baixa previsibilidade a respeito da pandemia e do ajuste fiscal "necessário" a partir do ano que vem elevam "a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica" no Brasil, afirmou o Copom. A própria falta de previsibilidade, por sua vez, é um fator que pode tornar a retomada ainda mais gradual, na avaliação do colegiado.

"Prospectivamente, a pouca previsibilidade associada à evolução da pandemia e ao necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021 aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica", diz o Copom na ata referente à reunião da semana passada. "Essa imprevisibilidade e os riscos associados à evolução da pandemia podem implicar um cenário doméstico caracterizado por uma retomada ainda mais gradual da economia."

Por enquanto, o colegiado enxerga "uma recuperação desigual da atividade econômica" no Brasil. "Os programas governamentais de recomposição de renda têm permitido uma retomada relativamente forte do consumo de bens duráveis e do investimento", afirma. "Contudo, várias atividades do setor de serviços, sobretudo aquelas mais diretamente afetadas pelo distanciamento social, permanecem bastante deprimidas."

Em relação ao cenário externo, o Copom considera que a "ressurgência da pandemia e o consequente aumento do afastamento social em algumas das principais economias [EUA e Europa] podem interromper a recuperação da demanda".

"Uma possível redução abrupta e não organizada dos estímulos governamentais também adiciona risco à retomada econômica", afirma.

Ainda assim, por enquanto, "a moderação" na volatilidade dos ativos financeiros faz com que o ambiente siga "relativamente favorável" para emergentes. "Há, contudo, bastante incerteza sobre a evolução desse cenário", afirma.

 

Fonte: Valor Investe