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JBS, Vale e Magazine Luiza devem brilhar no 3º tri; veja o que esperar dos balanços

Quinta, 15 Outubro 2020

Os resultados corporativos do terceiro trimestre, que começam a sair hoje, devem mostrar que o pior dos impactos da pandemia de covid-19 nos negócios das empresas brasileiras ficou realmente para trás, nos (em grande parte) desastrosos números do segundo trimestre.

"É um trimestre de alívio em que tudo melhora", avalia Marcelo Audi, gestor da Cardinal Partners, em live do Valor Investe, que tratou das expectativas para a temporada de balanços.

O período de julho a setembro foi marcado pelo dólar em alta frente ao real (+3,28%), inflação oficial medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) sob controle e taxa básica de juros na mínima histórica, em 2% ao ano.

"Foi um trimestre de começo de melhora do nível de atividade em geral, comparado com o segundo trimestre. Mas, na maioria dos casos, ainda em um nível inferior ao anterior à pandemia, e com setores que bombaram", explica Marcelo Audi, gestor da Cardinal Partners.

JBS, Vale e Magazine Luiza estão nos setores que mais bombaram e devem entregar os melhores resultados da temporada, segundo o gestor.

"Carnes e commodities são alguns dos setores mais beneficiados, depois de e-commerce, porque têm a combinação de câmbio muito forte, mix de produtos muito bom, no caso de carnes, e, no caso de Vale, um preço da commodity (minério de ferro) muito alto. É um alinhamento das estrelas para alguns setores de commodities, em particular carnes e minério de ferro. Esses setores terão resultados extraordinários, resultados que vão ficar para a historia como os melhores dessas empresas", avalia Audi.

Alguns setores realmente se beneficiaram do novo cenário social trazido pela pandemia. Mas o choque da crise de covid-19 afetou os segmentos da economia de maneiras diferentes. E não foi tudo flores para todo mundo.

"O consumo das famílias viveu a seguinte situação: não tinha aonde gastar em serviços em geral (turismo, lazer e alimentação fora de casa, ou seja, bares e restaurantes), e havia a necessidade de melhorar o seu bem estar. Assim, houve o redirecionamento do orçamento das famílias para bens de consumo e, em contrapartida, houve queda forte com gastos em serviços", explica Audi.

Difícil de decifrar

Se as companhias vencedoras e perdedoras do terceiro trimestre são delineadas de forma clara, o segmento de saúde, novato no Ibovespa, que inclui empresas de serviços de medicina diagnóstica e operadoras de planos de saúde, é o mais enigmático dessa temporada.

Audi explica que as operadoras de planos de saúde têm em seu modelo de negócios a receita, que vem dos valores que os beneficiários pagam, e os sinistros, que é o uso do serviço médico e tem custo para a empresa.

"Pode ser que o sinistro continue baixo, o que pode continuar a ser muito bom para as operadoras. Mas pode vir surpresa negativa. Porque, com a demanda reprimida, as pessoas estejam voltando a fazer consultas e exames laboratoriais", explica o gestor.

Nas empresas de medicina diagnóstica o cenário é semelhante. "Acredito que venha ruim. Mas pode ter uma surpresa positiva, porque essas companhias estão fazendo muito exame de covid-19, que é muito rentável, e pode mais do que compensar a piora de volume que estão vendo por conta do medo de as pessoas fazerem exames", avalia Audi.

Varejo

Depois de um segundo trimestre de resultados fortes, as empresas de varejo com grande exposição às vendas on-line devem mostrar mais um período de receitas e lucros altos. Audi destaca que a renda proporcionada pelo benefício do auxílio emergencial deve continuar impactando o segmento positivamente.

Com a reabertura gradual dos estabelecimentos comerciais, passadas as restrições mais fortes para contenção da covid-19, outras empresas devem mostrar melhora em seus números em relação ao segundo trimestre, como as companhias de vestuário.

Apesar da expectativa de números melhores, Audi acredita que empresas como Marisa, Renner e C&A ainda devem entregar resultados cerca de 20% abaixo do observado antes da pandemia.
“Eletroeletrônico dá para comprar pela internet, mas produto de beleza e vestuário você precisa experimentar, depende mais de mobilidade”, explica o gestor.

Os supermercados e as farmácias devem dar sinais de acomodação da demanda e uma pista dessa desaceleração pode ser vista nos dados de varejo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No dado mais recente, de agosto, as vendas do setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, encolheram 2,2% impactadas pela inflação dos alimentos. As vendas de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos caíram 1,2% em agosto.

“As pessoas perceberam que não precisam mais acumular estoques de alimentos, não precisam comer tanto em casa porque vão voltar a comer em restaurante e também porque vão voltar a gastar em lazer e turismo e outros itens como cabeleireiro e serviços domésticos. Eles vão redirecionar o orçamento e os supermercados e farmácias voltam à normalidade”, diz Audi.

Petrobras e distribuidoras

Uma das gigantes do Ibovespa, a Petrobras “está navegando bem em mares revoltos, mas não é exatamente uma situação super benigna”, segundo Audi.

O gestor aponta que as refinarias da estatal estão com nível de utilização muito baixo e isso é fator negativo nas operações da empresa. Outro ponto é que o preço do petróleo continua baixo no mercado internacional.

“O setor continua com ciclo ruim globalmente, então não é exatamente uma situação maravilhosa e nem desastrosa. Vai ter um resultado bom, mas nada excepcional”, diz Audi.

O gestor aponta a alavancagem (dívida) da Petrobras como um ponto importante a ser avaliado no balanço. “A Petrobras precisa vender as refinarias e a participação que ela tem em BR Distribuidora porque ela precisa desse caixa para se desalavancar e poder continuar com o programa de investimento. O preço do petróleo está ruim e isso é ruim para a operação da empresa”, diz.

Para as distribuidoras de combustíveis, os efeitos não recorrentes, como ganhos de estoque, podem exercer um papel importante nos resultados do terceiro trimestre após o primeiro semestre muito afetado pela queda na mobilidade e variação nos preços do petróleo. A avaliação é dos analistas do Credit Suisse, Caio Ribeiro e Gabriel Galvão, em relatório.

“Até agora, só temos os dados de preços de venda até meados de agosto. No entanto, esperamos que as margens de reposição compensem parcialmente os ganhos de estoque no terceiro trimestre. Em geral, os preços de venda e os preços na bomba não aumentam ou diminuem em conjunto com o custo para os distribuidores”, diz o relatório desta semana.

Como os custos com combustível para as distribuidoras aumentaram no terceiro trimestre, as margens de reposição devem ser pressionadas. O lado positivo, segundo o banco, é que a maior parte da queda nas margens é temporária devido aos aumentos dos preços de refinaria, e não se trata de uma guerra de preços.

Carnes

O setor de proteínas é especialmente beneficiado pela alta do dólar em suas exportações, impulsionada pela peste suína africana que atingiu os rebanhos de porcos na China.

“A gripe suína eclodiu no segundo trimestre de 2018 e achava-se que o pico desse choque seria em 2019 e estamos em 2020 ainda vivendo isso”, lembra Audi. A maior demanda por carne de porco pela China, além de aumentar os preços do produto, beneficia empresas como a JBS e a BRF.

A demanda no exterior segue alta também por carne bovina, cenário em que Marfrig e Minerva, além da JBS, saem ganhando. Com menos produtos no mercado doméstico em favor da exportação, o preço interno também subiu, o que é ótimo para essas companhias.

“É um alinhamento das estrelas raro de acontecer que já vimos no segundo trimestre e vai voltar a ver no terceiro trimestre. São momentos que vão ficar para a história de tão positivos", diz o gestor.

No segundo trimestre, a JBS liderou o ranking de melhores resultados entre 231 empresas de capital aberto, com exceção de bancos. Para Audi, a companhia deve repetir o bom resultado do segundo trimestre e ficar novamente entre os destaques positivos da temporada.

O gestor relata o aumento de vendas da marca Seara, da JBS, que tem sido uma surpresa positiva para o mercado. A alta se deve ao maior consumo de alimentos processados com as pessoas passando mais tempo em casa.

“Uma suspeita que temos é que talvez as pessoas incorporem esse novo hábito de ter uma comida mais elaborada em casa. Trocar um pouco o restaurante pelo o que faz em casa. “Para uma JBS isso é excelente, porque ela consegue ter uma margem melhor para um mesmo volume de vendas”, avalia Audi.

Os resultados de Marfrig também devem ser bons devido à sua operação eficiente e forte exposição ao mercado de carne bovina. Já a BRF ainda patina em seu processo de reestruturação interna e segue menos competitiva que as demais empresas de proteínas.

Mineração e siderurgia

Outro importante destaque positivo no terceiro trimestre ficará com as empresas de siderurgia e mineração. “A Vale estará entre os mais extraordinários resultados que veremos no terceiro trimestre e na história da empresa”, diz Audi.

O cenário benéfico para a mineradora é composto por dólar e preço do minério de ferros nas alturas. A produção da Vale abaixo do que entregava antes da tragédia de Brumadinho, antes 400 milhões de toneladas e hoje 300 milhões, também colabora para a alta de preço do minério a níveis recordes diante da menor oferta da commodity.

“O preço do minério em US$ 100 é extraordinariamente bom para Vale e ele está em US$ 120, US$ 130 por tonelada. Veremos uma geração de caixa e desalavancagem brutal”, diz o gestor.

As siderúrgicas, após um desempenho abaixo da média no segundo trimestre devido à pandemia, devem apresentar os melhores resultados da cobertura do Credit Suisse diante da melhora considerável da demanda por aço e das condições de preços.

“O setor de aço está extremamente resiliente e com um crescimento bastante benigno, com a China começando a ter necessidade de importação de aço, o que era uma coisa inimaginável”, diz Audi.

A CSN se beneficia do bom momento no mercado de minério de ferro, com boa parte de suas operações ligadas à mineração.

“Esperamos que a CSN registre o melhor conjunto de resultados em nosso universo de cobertura impulsionado pelos altos preços do minério de ferro no trimestre, juntamente com embarques mais fortes de minério de ferro e aço, bem como preços mais altos do aço no mercado doméstico”, estimam os analistas do Credit Suisse.

O banco projeta também que a Gerdau e a Usiminas apresentem um forte conjunto de resultados, ajudados pelas melhorias sequenciais nos volumes e preços do aço. Os resultados da Usiminas também devem ser impulsionados pelo forte desempenho da divisão de minério de ferro.

 

Fonte: Valor Investe