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9 em cada 10 COEs têm retorno esperado abaixo do que poderia ser o ganho no Tesouro Direto

Segunda, 05 Outubro 2020

Os Certificados de Operações Estruturadas (COEs) são investimentos complexos que vêm sendo distribuídos em grande escala para pequenos investidores no Brasil. No entanto, informações sobre o retorno esperado dos COEs não são fornecidas aos seus compradores, segundo um estudo da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Os pesquisadores, então, calcularam o retorno esperado para 284 COEs vendidos aos investidores de varejo. A conclusão foi que nove em cada dez deles, ou seja, 252 desses produtos, foram vendidos com retorno esperado abaixo da taxa livre de risco. Ou seja, o comprador de um COE típico investiu seu dinheiro em uma aplicação financeira com retorno esperado abaixo do que poderia ser obtido no Tesouro Direto.

O retorno esperado de um COE é uma média dos retornos dos possíveis cenários, ponderada pelas probabilidades de cada cenário. O retorno esperado médio dos 50 COEs de maior volume, dentre os que foram vendidos para mais de 100 indivíduos entre 2016 e 2019, é de 5,98% ao ano, de acordo com o estudo. Já o retorno esperado médio dos 234 COEs distribuídos por uma grande corretora entre os anos de 2019 e 2020 é de 4,94% ao ano.

Para se ter ideia, o título prefixado à venda no Tesouro Direto com vencimento em 2031 atualmente oferece retorno de 7,70% ao ano. Já o mesmo papel com vencimento em 2026 se propõe a pagar 7,42% ao ano, e o de 2023, 4,99% ao ano.

Além do retorno esperado não ser animador, segundo os pesquisadores, eles destacam que o produto é ilíquido, ou seja, a pessoa não consegue resgatar o dinheiro quando quiser, e não é coberto pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGV), uma espécie de seguro que remunera o investidor se a instituição financeira emissora quebrar.

Os COEs são uma versão brasileira das notas estruturadas, muito comuns nos Estados Unidos e Europa. Em geral, o COE é um título com um prazo de vencimento que varia entre um e cinco anos, que une produtos de renda fixa e renda variável. O retorno depende de uma série de condições definidas em torno desses produtos.

"Apesar de informações sobre as condições e retornos dos diversos cenários serem divulgadas, as probabilidades de cada cenário não são. Isto significa que o investidor do COE precisa inferir, por conta própria, qual o retorno esperado do produto. No entanto, essa conta é muito complexa para ser feita pelo investidor de varejo típico", afirmam os professores da FGV no estudo.

A crescente popularidade dos COEs entre investidores de varejo chama a atenção dos pesquisadores. Atualmente, o estoque investido em COEs supera a marca dos R$ 20 bilhões. Esse valor é praticamente um terço do total investido em títulos públicos na plataforma do Tesouro Direto.

"É bem possível que a grande maioria desses investidores tenha decidido comprar um COE sem saber qual era seu retorno esperado. Há evidência de que a complexidade desses produtos estruturados é utilizada pelos emissores para atrair compradores desavisados e, ao mesmo tempo, produzir produtos com mark-up [diferença entre o custo do produto e seu preço de venda] elevados para bancos e distribuidores", alertam.

 

Fonte: Valor Investe