Os Certificados de Operações Estruturadas (COEs) são investimentos complexos que vêm sendo distribuídos em grande escala para pequenos investidores no Brasil. No entanto, informações sobre o retorno esperado dos COEs não são fornecidas aos seus compradores, segundo um estudo da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Os pesquisadores, então, calcularam o retorno esperado para 284 COEs vendidos aos investidores de varejo. A conclusão foi que nove em cada dez deles, ou seja, 252 desses produtos, foram vendidos com retorno esperado abaixo da taxa livre de risco. Ou seja, o comprador de um COE típico investiu seu dinheiro em uma aplicação financeira com retorno esperado abaixo do que poderia ser obtido no Tesouro Direto.
O retorno esperado de um COE é uma média dos retornos dos possíveis cenários, ponderada pelas probabilidades de cada cenário. O retorno esperado médio dos 50 COEs de maior volume, dentre os que foram vendidos para mais de 100 indivíduos entre 2016 e 2019, é de 5,98% ao ano, de acordo com o estudo. Já o retorno esperado médio dos 234 COEs distribuídos por uma grande corretora entre os anos de 2019 e 2020 é de 4,94% ao ano.
Para se ter ideia, o título prefixado à venda no Tesouro Direto com vencimento em 2031 atualmente oferece retorno de 7,70% ao ano. Já o mesmo papel com vencimento em 2026 se propõe a pagar 7,42% ao ano, e o de 2023, 4,99% ao ano.
Além do retorno esperado não ser animador, segundo os pesquisadores, eles destacam que o produto é ilíquido, ou seja, a pessoa não consegue resgatar o dinheiro quando quiser, e não é coberto pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGV), uma espécie de seguro que remunera o investidor se a instituição financeira emissora quebrar.
Os COEs são uma versão brasileira das notas estruturadas, muito comuns nos Estados Unidos e Europa. Em geral, o COE é um título com um prazo de vencimento que varia entre um e cinco anos, que une produtos de renda fixa e renda variável. O retorno depende de uma série de condições definidas em torno desses produtos.
"Apesar de informações sobre as condições e retornos dos diversos cenários serem divulgadas, as probabilidades de cada cenário não são. Isto significa que o investidor do COE precisa inferir, por conta própria, qual o retorno esperado do produto. No entanto, essa conta é muito complexa para ser feita pelo investidor de varejo típico", afirmam os professores da FGV no estudo.
A crescente popularidade dos COEs entre investidores de varejo chama a atenção dos pesquisadores. Atualmente, o estoque investido em COEs supera a marca dos R$ 20 bilhões. Esse valor é praticamente um terço do total investido em títulos públicos na plataforma do Tesouro Direto.
"É bem possível que a grande maioria desses investidores tenha decidido comprar um COE sem saber qual era seu retorno esperado. Há evidência de que a complexidade desses produtos estruturados é utilizada pelos emissores para atrair compradores desavisados e, ao mesmo tempo, produzir produtos com mark-up [diferença entre o custo do produto e seu preço de venda] elevados para bancos e distribuidores", alertam.
Fonte: Valor Investe