A bolsa brasileira tem leve alta nesta terça-feira, 29, com os investidores buscando por pechinchas, após as ações terem apresentado fortes desvalorizações no pregão anterior, com os investidores repercutindo negativamente o anúncio do programa Renda Cidadã. Apesar da recuperação, o mercado segue preocupado com a condução fiscal do país. No exterior, o clima é de cautela antes do primeiro debate entre Donald Trump e Biden também pressiona negativamente. Às 11h04, o Ibovespa subia 0,15% para 94.812 pontos. Mais cedo, o índice chegou a ficar abaixo dos 94.000 pontos, o que não ocorria desde junho.
Recolhendo cacos
Ainda que os temores fiscais ainda estejam presentes, parte dos investidores aproveitam o momento de baixa para comprar ações que se desvalorizaram, o que ajuda a sustentar o tom menos negativos dos índices de ações. “Há muitas empresas boas na bolsa, o problema é que o macro está contaminando o micro”, comenta Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos.
Exportadoras
Em meio ao cenário negativo interno, a principal alternativa dos investidores tem sido empresas com produção voltada para o exterior, que tendem a se beneficiar da alta do dólar, que segue próximo das máximas em quatro meses. Na ponta do Ibovespa, as ações das empresas de papel e celulose Klabin e Suzano avançam 3,28% e 1,49%, respectivamente. Os frigoríficos Marfrig, JBS e BRF têm respectivas altas de 2,26%, 1,18% e 1,12%. “Além de aproveitarem a alta do dólar, esse setor também tem se beneficiado do preço elevado da proteína animal, com a China ainda abalada pela gripe suína e segue recompondo estoque”, comenta Eduardo Watanabe, sócio da CMS Invest.
Risco Fiscal
O mercado segue temeroso com a condução fiscal, após o presidente Jair Bolsonaro anunciar que seu programa assistencialista fará uso do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e de recursos para pagamentos de precatórios. “As duas fontes de recursos para o programa não estão dentro do guarda-chuva do teto fiscal. Então, o mercado entendeu que tem uma maquiagem contábil para conseguir acomodar o programa”, afirma Abdelmalack.
“O mercado segue digerindo esse anúncio do governo. Essa parte do não pagamento de precatório pode ser associado até a uma ‘contabilidade criativa’, dado que é um não pagamento de um débito que a União já tem. O mercado aguarda algumas explicações”, comenta Watanabe.
Trump x Biden
Se o ambiente local ainda é de tensão, o exterior também não ajuda, com os mercados globais à espera do primeiro debate entre os presidenciáveis. “O mercado quer entender o que está por vir nas pesquisas, depois do primeiro debate, que devem trazer um recorte mais realista de como está a corrida eleitoral por lá”, diz Abdelmalack.
Fonte: Exame