Com os juros a 2% ao ano, quem tem ou deseja montar uma reserva de emergência vem enfrentando um desafio: aplicações tradicionalmente recomendadas, como títulos do Tesouro Selic e fundos DI, vêm registrando retornos cada vez menores, e até negativos. Enquanto o Tesouro Selic registra queda de 0,32% nos últimos 30 dias até esta segunda-feira, 28, cotas dos fundos de renda fixa indexados estão rodando abaixo do CDI no acumulado do mês. O que fazer?
A volatilidade do Tesouro Selic e seu retorno negativo não são incomuns: apenas ganham mais destaque em um momento de juros muito baixos e de maior necessidade de financiamento do governo. É o que afirmam Renato Mimica e Juliana Machado, analistas da EXAME Research, em relatório. O movimento acontece porque os títulos sofrem a marcação a mercado, que é a atualização periódica do preço do ativo. Por essa razão, o desempenho não deve espantar os investidores.
Mas isso significa que se você comprar os títulos neste momento terá prejuízo? Só se vendê-los antes do vencimento. Para quem carregar o título até a data de vencimento, a rentabilidade será a da Selic mais um valor adicional. Para quem ainda assim quiser ou precisar vender agora, é preciso ter em mente que outros investidores atualmente só estão aceitando comprar o título por um prêmio maior — e isso significa um valor de face mais baixo. O mesmo acontece com os fundos DI, que registram desvalorização de suas cotas.
Isso acontece porque a crise econômica aumentou diante das recentes sinalizações do governo de que o reequilíbrio fiscal já não é mais uma prioridade absoluta. Como consequência, o Tesouro emite mais títulos no mercado em um cenário de maior risco. Resultado: os investidores passam a exigir um maior retorno no título ou cota para compensar esse risco.
Títulos com prazo menor sofrem menos com a desvalorização nesse cenário. Isso porque, em horizontes mais curtos, é mais fácil prever o que irá acontecer. Em fundos, o desempenho fica mais difícil de prever: vai depender do que carregam na carteira e eventuais ajustes.
E aí? Onde investir agora?
Nesse cenário, o que vale mais a pena para fazer frente a gastos imprevistos? O Tesouro Selic, fundos DI, a poupança ou contas de bancos digitais que pagam 100% do CDI?
É importante ressaltar que todas as alternativas, com exceção da poupança, sofrem o efeito da marcação a mercado. Apesar de prometerem 100% do CDI, as contas de bancos como podem comprar Tesouro Selic com o dinheiro aplicado. Ou seja, também podem ser expostas aos altos e baixos do mercado.
Portanto, o indicado é que o cliente verifique as regras do banco digital para saber onde o dinheiro está aplicado. Algumas podem aplicar o dinheiro em CDBs ou RDBs, que são títulos com maior risco. Como consequência, a rentabilidade será maior. Vai depender, portanto, do risco que o investidor quer tomar. Caso a conta invista em Tesouro Selic, não há grandes diferenças do que aplicar no título diretamente.
E a poupança? Continua sendo desaconselhável para montar a reserva de emergência porque continua a render, no cenário atual, apenas 70% da taxa Selic. Além disso, seu risco é maior do que o risco soberano dos títulos públicos. A poupança tem o risco de crédito da instituição financeira onde está aplicada, ainda que seja coberta pelo FGC, assim como CDBs. Por fim, falta liquidez na aplicação para que ela seja indicada para a reserva de emergência: seu rendimento é estável apenas no aniversário do investimento. Fora dele, a rentabilidade é comprometida.
Portanto, os analistas seguem recomendando fundos DI que tenham taxa zero de administração como escolha para a reserva de emergência, caso os valores aplicados ultrapassem 10.000 reais. Se o montante for menor, tanto investir em um fundo com taxa zero quanto aplicar diretamente no Tesouro Selic são as melhores alternativas para montar ou reforçar a reserva de emergência. Isso porque, abaixo de 10.000 reais, as taxas de custódia para quem aplica no Tesouro Selic foram zeradas desde o início de agosto.
Mesmo sendo aconselhável, o investidor deve entender que, caso precise do dinheiro no atual cenário, diante de um imprevisto, pode ter prejuízo ao resgatá-lo, diz Juliana Machado, especialista em fundos da EXAME Research. “Quem começou a dar os primeiros passos na hora de investir deve aproveitar essa volatilidade para aprender algo importante no mundo financeiro: não há como neutralizar todo o risco.”
A recomendação de Machado é que, mais do que tentar fugir de todos eles, o investidor entenda quais são os riscos adequados e quais são desproporcionais ou inadequados no momento.
Fonte: Exame