O Equity Risk Premium (ERP) é medido pela diferença entre o retorno esperado para a bolsa e o juro da T-note, título do Tesouro americano de dez anos
Uma boa maneira de se observar essa piora da percepção de risco do investidor é o Equity Risk Premium (ERP), medido pela diferença entre o retorno esperado para a bolsa e o juro da T-note, título do Tesouro americano de dez anos. Segundo cálculos do Opportunity, em agosto deste ano, o ERP da bolsa brasileira estava em 8,1%.
Uma maneira de se ler esse dado é que, para ter disposição em aplicar na bolsa, o investidor espera receber essa taxa de retorno acima da taxa considerada livre de risco (T-note). É uma taxa superior à exigida pelo investidor na bolsa do México (7,1%), da bolsa do Chile (6,1%), da Colômbia (6,9%) e do Peru (6,2%). E muito menor do que o EPR das bolsas americanas, que está em 4,70%.
No auge da crise provocada pela pandemia, em março deste ano, o EPR das bolsas globais alcançou seu ápice. No caso brasileiro, a taxa chegou a 9,7% e, no mexicano, a 9,1%. No mercado americano, o EPR atingiu 5,54%.
O fato de essa medida de risco ter caído muito menos aqui é resultado grande da incerteza sobre o futuro das contas públicas, afirma o economista do Opportunity, Marcelo Fonseca. “O Brasil fez uma expansão fiscal sem nenhum paralelo no mundo emergente e permanece essa dúvida sobre como essa questão será encaminhada”, afirma. “O país está chegando nos limites da sustentabilidade.”
O EPR leva em consideração a relação entre a projeção do lucro das companhias e seu preço. A diferença em relação ao juro de dez anos dos Estados Unidos revela, portanto, um claro termômetro de risco do país: qual é a taxa de retorno esperada para que a alocação na bolsa se torne atraente. “O desconto dos ativos brasileiros ante o resto do mundo reflete as incertezas gigantescas que o país enfrenta”, conclui.
Diante disso, Fonseca diz que a hora “não é de ter alocação substancial em Brasil”, porque o cenário base ainda é de manutenção do regime fiscal, mas com alguma flexibilização no teto. Desde agosto, diz, o fundo macro do Opportunity vem reduzindo exposição em ativos brasileiros.
Já o fundo “long biased” segue comprado em bolsa brasileira, mas não no seu limite máximo. Segundo o gestor Luiz Constantino, hoje 70% do patrimônio do fundo estão alocados em ações. “A questão fiscal é um risco importante; é para estar comprado em bolsa, mas não no máximo de exposição.”
Fonte: Valor Investe