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BC reduz projeção de queda do PIB em 2020 de -6,4% para -5%

Quinta, 24 Setembro 2020

O Banco Central revisou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020 de -6,4% para -5%, informou a autoridade monetária no Relatório de Inflação (RI) publicado nesta quinta-feira.

Apesar do forte recuo da atividade no segundo trimestre, o conjunto de indicadores disponíveis mostra que a retomada da atividade econômica após a fase mais aguda da pandemia, ainda que parcial, está ocorrendo mais rapidamente do que antecipado, diz o BC, acrescentando, porém, que a heterogeneidade da recuperação entre os segmentos continua sendo uma característica marcante.

“A nova projeção considera crescimento acentuado no terceiro trimestre, influenciado pelas medidas governamentais de combate aos impactos econômicos da pandemia e pelo retorno gradual a patamares de consumo vigentes antes do período de isolamento social", afirma o BC no relatório.

"Para o último trimestre do ano, a partir de quando vigora incerteza acima da usual sobre o ritmo da recuperação, espera-se arrefecimento da taxa de crescimento, associado, em parte, à diminuição esperada de transferências de recursos extraordinários às famílias.”

Do lado da oferta, o crescimento esperado pelo BC para a agropecuária ficou praticamente igual ao apresentado no último relatório (1,3%, ante 1,2%). A previsão para a evolução da atividade industrial no ano foi revisada de -8,5% para -4,7%, com elevação nas projeções em todos os segmentos.

Segundo o BC, apesar da semelhança das previsões para o setor de serviços (de -5,3% no relatório anterior para -5,2%), houve alterações relevantes nas estimativas para os componentes. A autoridade monetária destaca a melhora na previsão para o comércio (de -10,8% para -4%), setor bastante relacionado à atividade industrial e ao consumo de bens pelas famílias e, em sentido oposto, os recuos esperados para outros serviços (de -9,4% para -13,5%), sobretudo para administração, saúde e educação públicas.

“O segmento de ‘outros serviços’ engloba atividades que continuam bastante afetadas pelo distanciamento social, como alojamento, alimentação fora de casa e atividades artísticas, enquanto o setor de administração, saúde e educação públicas foi impactado pela redução na prestação de serviços de saúde e, principalmente, pelo fechamento de creches e interrupção parcial do ensino em escolas e universidades públicas.”

Pelo ótica da demanda, a estimativa para o consumo das famílias passou de -7,4% para -4,6%, "em decorrência da recuperação acentuada de indicadores do comércio varejista, atenuada por restabelecimento mais lento do consumo de serviços", diz o BC.

A previsão para a formação bruta de capital fixo (FBCF) foi revista de -13,8% para -6,6%, refletindo desempenho melhor do que o esperado na construção civil e na produção de bens de capital.

Em sentido contrário, o BC espera pior desempenho no consumo do governo (-4,2%, ante 0,2%), em decorrência das reduções já mencionadas em serviços de educação e saúde públicas.

As exportações devem variar -1,8%, contra projeção anterior de -8,1%. A estimativa para as importações foi mantida em -11,1%. Segundo BC, a melhora esperada no desempenho das exportações resulta, sobretudo, das vendas de produtos básicos.

Já a manutenção da expectativa para as importações, a despeito da melhora nas previsões para indústria de transformação, consumo das famílias e investimentos, reflete resultados mais negativos do que os esperados, "incluindo os dados parciais observados do início do terceiro trimestre", afirma a autoridade monetária.

“Tendo em vista as novas estimativas para os componentes da demanda agregada, as contribuições da demanda interna e do setor externo para a evolução do PIB em 2020 são estimadas em -6,4 pontos percentuais (p.p.) e 1,4 p.p., respectivamente”, conclui o BC.

2021

O Banco Central (BC) espera crescimento de 3,9% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, “ainda com incerteza acima da usual”, segundo o Relatório de Inflação (RI) divulgado nesta quinta-feira.

Essa perspectiva, no entanto, está condicionada ao “cenário de continuidade das reformas e de manutenção do atual regime fiscal, assegurando o equilíbrio de longo prazo das contas públicas, e pressupõe arrefecimento da pandemia, com gradativa elevação da mobilidade e volta progressiva aos padrões de consumo vigentes antes do período de distanciamento social”.

Pelo lado da oferta, as atividades da agropecuária, da indústria e de serviços devem avançar 3,4%, 4,5% e 3,7%, respectivamente, na avaliação do BC.

A projeção para a agropecuária repercute prognósticos favoráveis para a safra 2020/2021 e recuperação da produção de carne, em especial de bovinos. Para o setor secundário, projeta-se recuperação disseminada, com a produção voltando ao longo do ano aos patamares do período pré-pandemia, em linha com a gradual recuperação do mercado de trabalho e aumento das demandas interna e externa.

“Para o setor de serviços, as atividades mais severamente impactadas pelo distanciamento social — como comércio; transporte, armazenagem e correio; outros serviços; e administração, saúde e educação públicas — devem ter as maiores altas devido, em parte, às bases de comparação deprimidas de 2020.”

No âmbito dos componentes da demanda interna, as taxas de crescimento esperadas para consumo das famílias, consumo do governo e FBCF são 5,1%, 3,8% e 3,9%, respectivamente.

“Apesar da redução das transferências governamentais esperada para 2021, o consumo das famílias deve ser favorecido pelas expectativas de: i) recuperação progressiva do mercado de trabalho; ii) aumento da mobilidade; iii) maior acesso a serviços com oferta limitada durante a pandemia; e iv) volta da taxa de poupança das famílias para níveis pré-crise.”

Na avaliação do BC, o consumo do governo deve crescer em 2021 devido ao gradual retorno dos serviços de saúde e educação públicas à normalidade, enquanto a FBCF deve apresentar crescimento em linha com a expectativa de recuperação da indústria de transformação e da construção civil.

Exportações e importações de bens e serviços devem crescer 4,9% e 0,2%, respectivamente, no ano que vem.

“O desempenho das exportações, em linha com a melhora da demanda global, deve ser influenciado pelas vendas das indústrias de transformação e extrativa. Já a modesta recuperação das importações, em cenário de elevação da atividade econômica, é explicada principalmente por dois fatores, além da taxa de câmbio real mais elevada do que a vigente no período pré-pandemia. O primeiro é a expectativa de menor importação de equipamentos para a indústria de óleo e gás, em grande parte no âmbito do Repetro, cujo pico deve ocorrer em 2020. O segundo é que a retomada das importações em 2020 se inicia mais tardiamente que a dos componentes da demanda doméstica, produzindo carregamento estatístico menor para o ano seguinte.”

As contribuições respectivas das demandas interna e externa estão estimadas em 3,3% e 0,6%.

 

Fonte: Valor Investe