O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deve indicar hoje que o cenário fiscal e as expectativas de inflação vão guiar os próximos passos da taxa básica de juros. Também pode colocar mais obstáculos para cortes adicionais na Selic em um ambiente de incerteza com o rumo das contas públicas. É o que apontam analistas ouvidos sobre o teor do comunicado que acompanhará a decisão do Copom. A grande maioria do mercado projeta que o juro básico permanecerá nos atuais 2% anuais. Esses são alguns dos pontos a serem observados no comunicado:
“Forward guidance”
Partindo do princípio de que ainda houve pouco tempo para avaliar plenamente os efeitos do instrumento, introduzido pela primeira vez em agosto, o comitê não deve alterar o “forward guidance”, tendo em vista, também, que as condicionantes para a ferramenta - situação fiscal e perspectivas de inflação - não sofreram alteração relevante desde o último encontro. Analistas também não esperam que o Copom feche a porta para novos cortes nos juros, mas notam que é possível que o “sarrafo” para redução adicional da Selic seja colocado em níveis ainda mais altos.
Balanço de riscos
Por outro, os dirigentes podem ajustar a comunicação para reforçar, como fez o diretor de política monetária, Fabio Kanczuk, em live do Valor há duas semanas, que o forward guidance está condicionado à manutenção do regime fiscal e do teto de gastos e que o balanço de riscos está inclinado para cima devido à deterioração das perspectivas para contas públicas.
Atividade econômica
As recentes surpresas para cima dos indicadores de atividade vão em direção ao entendimento do Copom de que havia espaço para uma surpresa positiva nesse quadro e o comunicado pode levar em conta esses desenvolvimentos. O comitê pode, contudo, reforçar que a retomada se dá de forma desigual, já que o setor de serviços tem ficado para trás em relação à recuperação da indústria e do varejo.
Inflação
A alta nos preços de alimentos e o debate em torno do descolamento entre o IPCA e os IGPs podem fazer com que o Copom comente a pressão nos preços do atacado. Alguns analistas, inclusive, esperam que o comitê se mostre atento aos choques primários de oferta, mas que reforce que a política monetária não atua em resposta a eles, mas sim em relação aos possíveis impactos secundários.
Projeções de inflação
Analistas esperam que o comunicado traga alterações nas projeções de inflação. Os economistas do Itaú, por exemplo, acreditam que o cenário híbrido, de câmbio constante e juros de acordo com a pesquisa Focus, deve mostrar a inflação passando de 1,9% para 2,1% neste ano, de 3,0% para 3,1% em 2021 e de 3,4% para 3,5% em 2022. Já no cenário de referência, com câmbio e juros constantes, a inflação deve passar de 1,9% para 2,1% neste ano, de 3,0% para 3,1% em 2021 e de 3,7% para 3,8% em 2022.
Cenário externo
O Copom deve manter a sinalização do comunicado de agosto, quando apontou que, apesar dos sinais promissores de retomada da atividade nas principais economias do globo, o ambiente para as economias emergentes segue desafiador. Além disso, o comitê deve abordar a maior volatilidade observada nos mercados globais nas últimas duas semanas.
Fonte: Valor Investe