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Empresas familiares lucram mais e dão mais retorno aos acionistas na pandemia, diz Credit Suisse

Quarta, 16 Setembro 2020

Empresas que têm membros da família fundadora na gestão estão apresentando um desempenho financeiro e lucro melhores durante a pandemia do novo coronavírus em relação às que têm outros profissionais na gestão. Além disso, elas são mais alinhadas com critérios sustentáveis (ESG, ambiental, social e de governança corporativa) e têm visão de mais longo prazo para os investimentos do negócio. Essa é a conclusão do estudo Family 1000 feito pelo banco suíço Credit Suisse.

O estudo analisa o comportamento de empresas que têm a família fundadora ainda na gestão e compara com o de negócios que não têm os fundadores à frente da tomada de decisão, todos com capital aberto. Foram avaliadas companhias em vários países, incluindo o Brasil e sob três óticas: resultados ao longo dos anos, desempenho na pandemia e alinhamento com princípios sustentáveis.

Longo prazo

Segundo o banco, negócios familiares têm uma estratégia de investimento de prazo mais longo do que as demais. Na prática, isso traz mais estabilidade e lucratividade, além de, em última instância, também proporcionar mais dinheiro aos acionistas (lucro que se traduz em dividendos e potencial de valorização das ações na bolsa).

Desde 2006, as empresas familiares vêm consistentemente tendo um retorno para os acionistas acima das demais. Seus papéis se valorizaram, em média, 3,7 pontos percentuais anualmente a mais.

É na região da Ásia e Pacífico que o efeito é mais visível: desde 2006, as empresas familiares desses continentes deram retornos anuais 5 pontos percentuais superiores às outras. Por outro lado, a América do Norte é a região que representa o retorno mais moderado, de 2,6 pontos percentuais acima.

Para o Credit Suisse existe um "efeito-família" no alfa dos investimentos em ações. Ou seja, parte do retorno acima da média do mercado (alfa, excesso de retorno) é explicada por quem senta na cadeira da gestão.

Mas e agora, com esse novo e imprevisível desafio, a pandemia?

“A pandemia de covid-19 tem tido um significante impacto nos retornos do mercado de ações e na volatilidade dos ativos este ano. No estudo anterior, nós destacamos que os negócios familiares tendem a ter características mais defensivas, que os permite performar bem, particularmente durante períodos de estresse no mercado”, explica o banco no relatório.

O retorno dos primeiros seis meses deste ano evidencia isso. Desde o início de 2020 para cá, as empresas de dono se valorizaram 3 pontos percentuais acima das demais.

Apesar de a maioria das empresas, familiares ou não, afirmar que seus negócios foram impactados pelo vírus, as que não têm ‘donos’ na gestão são mais pessimistas. “Curiosamente, notamos que empresas familiares têm recorrido menos a demissões de seus funcionários do que as outras (46% versus 55%)”, diz.

Em um momento de crise forte, historicamente, comenta o Credit Suisse, os negócios de dono tendem a se agarrar no que já conhecem e em se reestruturar a partir do que já conhecem e já fazem, enquanto as não-familiares são mais inovadoras, buscando novos produtos e serviços, soluções diferentes como resposta aos problemas.

Ambos os grupos, porém, acreditam que a forma de fazer negócio vai mudar e mais da metade não se vê com o mesmo nível de quadro de funcionários do período pré-crise

Retornos financeiros

Não é apenas na bolsa que essas companhias se destacam. O estudo do Credit Suisse estima que desde 2006 o crescimento da receita das empresas familiares é 2 pontos percentuais maior do que seus pares. E isso vale tanto para as grandes quanto para as pequenas. Ao mesmo tempo, também sugerem que seu lucro e retorno do fluxo de caixa também são superiores.

“Quando conversamos com investidores sobre empresas familiares, nós frequentemente escutamos que um dos motivos é o foco no longo prazo quando se trata de investimentos comparado às companhias que não têm família fundadora na gestão”, diz. “Nossa análise sugere que realmente este é o caso.”

Os analistas citam como exemplo que as empresas familiares têm taxas de alavancagem mais baixas que as não familiares, o que sugere que preferem financiar suas atividades mais por meio de recursos internos do que de emissão de dívida ou empréstimo.

“Observamos também que as empresas familiares tendem a se concentrar mais em pesquisa e desenvolvimento, o que é indiscutivelmente um indicador de longo prazo”, completa.

Sustentabilidade

Outro destaque do estudo Family 1000 é que essas companhias também se mostraram mais alinhadas com os critérios ESG, sigla que se refere a princípios de sustentabilidade (ambiental, social e de governança corporativa).

Usando um processo de análise próprio de grau de comprometimento com ESG, o Credit Suisse identificou que empresas familiares, em média, tendem a ter resultados ligeiramente melhores do que empresas não familiares.

“O que é interessante em nossa opinião é que o desempenho relativo é um fenômeno mais recente, que tem se fortalecido nos últimos quatro anos. O melhor desempenho geral é principalmente liderado por melhores pontuações ambientais e sociais. Mas, as empresas familiares ficam um pouco para atrás do que as não-familiares no quesito governança”, diz.

Em termos regionais, as empresas europeias são as mais engajadas com as causas sustentáveis. Já as asiáticas ranqueiam melhor que as americanas.

Outro ponto analisado é que as companhias mais velhas são mais alinhadas com esses três princípios – social, ambiental e governança - do que as novatas.

“Talvez o fato de as empresas familiares mais antigas terem mais processos estabelecidos permitem que elas incorporem ou se concentrem em áreas de seus negócios que não estão diretamente relacionados à produção, mas que são relevantes em termos de manter a sustentabilidade geral do negócio em termos de governança”, avalia o banco.

Empresas brasileiras

O estudo leva em consideração dados levantados pelo próprio Credit Suisse sobre empresas familiares. Para compor a lista as companhias precisam ser listadas na bolsa e atender um ou dois dos critérios estipulados pela análise para propriedade familiar:

  • O fundador ou sua família devem ter ao menos 20% do capital social da empresa;
  • O fundador ou sua família devem controlar ao menos 20% dos direitos de voto da empresa.

Apenas 6% do total das 1061 companhias da base de dados do estudo são de empresas da América Latina (aproximadamente 63). Há somente duas empresas brasileiras listadas, mas são as duas mais bem classificadas com base nas pontuações ESG: MRV e SulAmérica.

Elas foram as únicas do país que entraram neste recorte feito pelo Credit Suisse, seguindo os critérios globais de ESG scores e que apresentaram crescimento superior de receita e retorno de fluxo de caixa.

 

Fonte: Valor Investe