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Taxas de juros de principais linhas de empréstimo pessoal caíram com a pandemia

Quarta, 09 Setembro 2020

Que a taxa Selic está em seu patamar mais baixo da história - e vem renovando suas mínimas a cada reunião do Copom - não é novidade. Mas, com ela chegando a 2% ao ano, em um período de pandemia e crise econômica, será que os juros cobrados em empréstimos para as pessoas físicas também caíram? Segundo dados do Banco Central, a resposta é positiva. Oito das principais linhas de crédito para pessoas físicas ficaram com os juros mais baratos neste ano.

As linhas analisadas foram: cheque especial, crédito pessoal não consignado, consignado do setor público, consignado do setor privado, consignado do INSS, aquisição de veículos, aquisição de outros bens e cartão de crédito parcelado. E em todas elas houve uma redução nas taxas médias de juros na comparação de janeiro com agosto deste ano, segundo um levantamento do Valor Data.

Em janeiro, a taxa Selic era de 4,5% ao ano. Desde então, foram feitos cinco cortes. Em fevereiro, ela passou para 4,25%; em março, para 3,75%; em maio para 3%; em junho para 2,25% e, por fim, em agosto ela chegou a 2% ao ano. No ano, portanto, a taxa teve um corte de 2,5 pontos percentuais

Nas linhas de crédito, os cortes foram de de 0,42 ponto percentual (no caso da aquisição de veículos) a 35,38 pontos percentuais (no caso do crédito pessoal não consignado).

A influência da taxa Selic nessa queda dos juros dos empréstimos acontece porque ela é a taxa que os próprios bancos usam para captar os recursos. Portanto, se ela está baixa, eles "gastam" menos para pegar o dinheiro e emprestar ao tomador. Portanto, eles podem "repassar" esses custos menores ao tomador, emprestando a juros mais baratos. Pelo menos é isso que sempre deveria acontecer em momentos de cortes da Selic.

Não é só a Selic

A queda da taxa básica de juros, no entanto, não é a única explicação para as taxas de juros menores, segundo Rafael Schiozer, professor de economia da Fundação Getulio Vargas. Para ele, além da taxa básica de juros, houve também uma mudança no mix dos tomadores de crédito durante a pandemia.

"As estatísticas de concessão também caíram bastante. Isso significa que os bancos estão selecionando melhor seus tomadores e deixando de fora os piores e isso pode fazer com que as taxas praticadas caiam", afirma. Segundo a explicação do professor, é possível que os bancos pratiquem taxas de juros menores já que estão emprestando apenas para clientes cujas chances de inadimplência são menores.

Segundo Rubens Sardenberg, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as quedas das taxas de juros podem ser divididas em dois momentos: antes e depois da pandemia.

Antes, Sardenberg afirma que havia um otimismo em relação ao ambiente econômico e, assim, um crescimento do crédito. Com a demanda mais forte e a Selic menor, as taxas já vinham caindo. Com a pandemia, no entanto, o impacto inicial foi "potencialmente altista", já que com ela veio uma crise econômica, junto com uma chance maior de inadimplência. No entanto, não foi o que aconteceu e as taxas continuaram caindo devido a queda na demanda.

"Na prática, não houve aumento. Ele foi compensado por um certo movimento dos bancos de tentar acomodar a situação em função da retração, dos fatores de deflação, de queda da atividade e da consequente queda da demanda por crédito por parte da pessoa física", afirma.

Para Sardenberg, a pandemia trouxe "um aumento muito grande no crédito para pessoas jurídicas e uma redução no crédito para pessoas físicas", o que também influenciou nas taxas praticadas.

Segundo dados da nota de crédito do Banco Central, as concessões de cinco das oito modalidades analisadas diminuíram em junho (dado mais recente da autoridade monetária) ante janeiro: cheque especial, consignado dos servidores públicos, consignado dos servidores privados, aquisição de veículos e cartão de crédito parcelado. Já as concessões para crédito pessoal não consignado, consignado do INSS e aquisição de outros bens aumentaram.

Taxas vão cair mais?

Embora ainda haja chances de a taxa Selic passar por mais um corte (já que o Copom manteve um certo "suspense" em seu último documento de divulgação), isso não deve se refletir de maneira tão significativa nas taxas dos empréstimos, segundo o professor Schiozer. Para ele, "não será mais 0,25 ponto de corte na taxa básica que fará com que os juros dos empréstimos caiam de forma significativa".

"A taxa básica pode ter mais influência no crédito para grandes empresas, nas taxas que essas companhias se financiam no mercado financeiro, mas para pessoa física, ela é um elemento quase secundário, não é o principal", afirma.

Para ele, apesar de as taxas terem passado por uma queda, esse não é necessariamente o melhor momento para se fazer uma dívida.

"É claro que essa é uma decisão muito individual. Neste momento, é importante o consumidor avaliar sua capacidade de pagamento no médio e longo prazo, porque é um momento de instabilidade econômica. Ele precisa ver se é realmente necessário fazer aquele empréstimo", afirma.

 

Fonte: Valor Investe