O aumento da presença no mercado de crédito de novos players amplia a gama de opções para o investidor nesse segmento, mas acentua a exigência por atenção e cobrança de transparência para evitar cair em furadas.
A avaliação foi ventilada nesta quinta-feira (27) pelos participantes do painel “Crédito – Estruturando retornos consistentes”, parte do evento Tag Summit, promovido pela gestora Tag Investimentos.
Para eles, os maiores obstáculos do setor foram expostos e amplificados pelo choque nos ativos causado pela pandemia do novo coronavírus: fragilidades na marcação a mercado dos preços dos títulos e na capacidade de avaliar – e, se preciso, executar – as garantias por trás de ativos como debêntures e FDICs.
“A emissão por parte das fintechs ainda é incipiente, mas é um caminho para pequenas e médias empresas entrarem nesse segmento e obterem financiamento. Mas o investidor que vai colocar dinheiro nesses créditos precisa demandar muita transparência, entender os riscos que está correndo, e verificar como esse emissor lida com o desafio da precificação dos preços dos títulos”, comentou Marcelo Urbano, diretor de investimentos da Augme Capital, gestora focada em crédito.
A ideia de que o aumento na pluralidade de emissores não necessariamente acompanha um crescimento, na mesma medida, da capacidade de gerir esses créditos e informar os riscos ao público por parte dos novos players foi reforçada por Luis Claudio Garcia de Souza cofundador e presidente da gestora Captalys, também focada no segmento.
“Em uma síntese, os pontos principais são saber quem é o originador do crédito e manter a diligência. O investidor precisa ter certeza de que o gestor vai ficar em cima, mesmo: visitar, saber por que aquilo entrou, acompanhar o crédito, avaliar a qualidade da garantia imobiliária, e principalmente cobrar. Saber cobrar [as garantias por trás dos títulos emitidos] é essencial. E é preciso uma qualidade de sistema, de tecnologia da informação, muito grande para um negócio assim funcionar”, comentou.
Urbano, da Augme, acrescentou à lista de prioridades na avaliação desse tipo de investimento as avaliações de conformidade da empresa emissora e de liquidez do ativo: “A gente divide em dois critérios: crédito por garantia, ou crédito pela companhia. Para entrar pela companhia, só com déficit auditado, negócio que para de pé, governança em alto nível e acesso à liderança da empresa. E não aceitar garantias que dependam da performance da companhia”.
Rafael Fritsch, sócio e gestor na Canvas Capital, que também tem produtos de crédito em seu portfólio, ressaltou outra demanda entre os novos players do segmento: a capacidade de executar as garantias dos títulos em caso de inadimplência.
“Se vai dar crédito com garantia imobiliária, tem que estar preparado para botar a mão no imóvel. Além do risco financeiro, tem o risco jurídico. Nosso Judiciário não é célere, então é importantíssimo ter um corpo jurídico capacitado e com experiência para tomar a garantia quando precisar”.
Ele também ilustrou as perdas que o não atendimento a esses cuidados por gerar a partir da grande variação de desempenho em produtos de crédito de perfis semelhantes durante e após o choque causado pela covid-19.
“Teve fundo de crédito que caiu 10% em março, e fundo que subiu 1%, e você olha a carteira e vê riscos muito parecidos. A diferença é que alguns marcaram seus preços a mercado com eficiência, e outros, não”, afirmou.
Por outro lado, ele chamou a atenção para oportunidades após os danos do novo coronavírus. “Se em dezembro não tinha possibilidade de sobrepreço no crédito, em março esse ‘spread’ foi o triplo, e hoje ainda está no dobro. Tem prêmio por aí. E a liquidez melhorou, como o Urbano mencionou. Nesse sentido, foi importante a decisão do Banco Central de pela primeira vez comprar debêntures, como o Fed fez nos Estados Unidos.Trouxe alguma normalidade para os preços.”
Fonte: Valor Investe