O número de fintechs, empresas que oferecem serviços financeiros (fin) de modo digital, usando tecnologia (tech), saiu de 604 em junho do ano passado para 771 em agosto deste ano. O crescimento é de quase 28%, segundo a pesquisa Radar Fintechlab. Segundo o estudo, foram abertas 258 empresas, enquanto 92 fecharam.
A maioria das novas fintechs está no setor de pagamentos. Dentro desse segmento são incluídas as adquirentes (companhias que oferecem 'maquininhas' de cartão ou outra forma de aceitação de pagamento eletrônico), empresas de cartão, companhias que oferecem cashback e ainda as que oferecem contas de pagamentos, as populares "carteiras digitais". Considerando esse universo, 77 empresas foram abertas e 32 fechadas no período. Segundo o levantamento, existem 190 fintechs desse tipo no Brasil.
Segundo Fábio Gonsalez, cofundador do FintechLab, essas companhias representam, historicamente, um terço do total de fintechs no país e o número delas tende a continuar aumentando. Ele explica, por exemplo, que é possível que um empreendedor encontre um nicho específico de consumidor ou até mesmo de empresas que precisem de alguma solução de pagamento.
"Esse empreendedor consegue pensar em diferentes soluções que podem atender a diferentes pessoas. E é mais simples de criar algo do que montar um banco, por exemplo", afirma.
Segundo o levantamento, empresas de gestão financeira ocupam a segunda colocação. Surgiram 44 novas companhias, enquanto sete foram fechadas. Ao todo, são 122 fintechs desse segmento. Para Gonsalez, as principais oportunidades dentro dessa área são as de gestão de fluxo de caixa para empresas, especialmente as micro e pequenas.
"Gestão financeira cresceu em relação ao ano passado e continua relevante. E isso é um diagnóstico da necessidade que temos, principalmente para pequenos empreendedores, para que eles façam uma gestão de caixa de forma mais eficiente", afirma.
As companhias que oferecem empréstimos surgem na terceira colocação, com 39 novas empresas contra 17 que fecharam, totalizando 114. Já as de negociação de dívida somam 21, com seis abertas e três fechadas.
Para Gonsalez, o setor tem se tornado mais forte a medida que a tecnologia evolui. "No campo de empréstimos existe uma sofisticação do ponto de vista dos algoritmos, da escolha dos tomadores de crédito e isso mantém a relevância desse setor. Ele é rentável, e ele conta com conhecimento e tecnologia interessantes do mercado, então tende a continuar bem", diz.
As fintechs de investimento somam 59 companhias, com 24 abertas no último ano contra três fechadas. Já as de criptomoedas são 55, com 30 abertas e nove fechadas.
Segundo Gonsalez, a oportunidade nesses setores também vem dos avanços tecnológicos, principalmente na blockchain. Essa tecnologia funciona como um "livro de caixa criptografado", em que tudo que é registrado nela é imutável e enviado da mesma forma e no mesmo momento para todas as partes envolvidas, o que evita fraudes e dá credibilidade àquela informação.
"Há uma coisa interessante em relação a blockchain. Eu tinha essa tese no ano passado. Eu achava que os empreendedores estavam achando soluções relevantes para usar a tecnologia blockchain e isso continua. E estamos vendo muito o uso da blockchain em outras coisas além da criptomoeda", afirma.
As de "funding" (que reúnem investidores para financiarem algum projeto ou negócio) somam 26, com seis abertas contra seis fechadas. As de "TechFin" (ou seja, as que fornecem tecnologia ou softwares para companhias financeiras) somam 22, sendo 15 criadas no período e nenhuma fechada. As de Multisserviços (que oferecem várias soluções para um mesmo consumidor) também somam 22, sendo sete abertas no período analisado e uma fechada.
No último ano também foram abertos cinco novos bancos digitais, enquanto nenhum foi fechado. Ao todo, existem 17 companhias do setor no Brasil. Já as empresas de câmbio e remessas somam 13, foram três abertas contra três fechadas.
As fintechs de seguros (chamadas de 'insuretechs') somam 28. No entanto, elas foram as únicas que tiveram mais fechamentos do que aberturas no último ano. Foram 11 companhias que encerraram suas atividades contra duas empresas abertas.
Para Gonsalez, a explicação vem do perfil conservador desse setor, embora haja muita oportunidade. "Esse mercado tem muitas oportunidades em termos de coberturas diferentes, adequação de interfaces diferentes, agilidade, penetração em outros segmentos. E por que não explode como os outros? Porque existe um certo conservadorismo do modelo de negócios, há pouca penetração, há um caminhar um pouco atrasado do ponto de vista regulatório", afirma.
O estudo ainda mapeou as empresas de eficiência financeira, que geralmente oferecem serviços antifraude, de blockchain, de dados e de softwares às fintechs. No período, foram abertas 12 novas empresas e oito foram fechadas. Ao todo, existem 82.
Fonte: Valor Investe