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Com pandemia, uso de cartões pré-pagos cresce

Segunda, 10 Agosto 2020

O fechamento de lojas físicas visto durante o período mais severo do isolamento social impulsionou as vendas pela internet e serviços on-line, como os pedidos de delivery por aplicativo. Porém, muitos desses negócios exigem o pagamento por meios eletrônicos, como cartões de crédito. A saída encontrada por muitos consumidores foram os cartões pré-pagos, que registraram um aumento no uso durante o período de pandemia.

A bandeira Visa tem cerca de 60 parceiros emissores de cartões pré-pagos. De março, mês em que o isolamento começou, até junho o número de transações na modalidade pré-pago cresceu mais de 20%. Só no mês de junho, a alta foi de 48% em relação ao mês anterior e o ticket médio cresceu 6%. No comércio eletrônico, as transações pré-pagas cresceram 30% ao mês desde março.

"A pandemia contribuiu para a digitalização dos pagamentos, porque se pensarmos que muitas pessoas antes não tinham acesso a um meio de pagamento eletrônico e estavam mais habituadas com dinheiro, elas precisaram se digitalizar para fazer parte desse mundo, dado que os estabelecimentos físicos praticamente todos fecharam", afirma Ana Melo, diretora de soluções da Visa.

Na Acesso, fintech que tem o cartão pré-pago como um dos seus serviços financeiros, as transações cresceram 9,5% entre abril e junho comparado com os mesmos períodos do ano passado. O crescimento foi mais acentuado entre os meses de maio e junho, com alta de 20%.

Na operadora de cartões Blackhawk Network, a alta das vendas por esse meio nos canais físicos e digitais aumentou 25% de janeiro a julho ante o mesmo período do ano passado.

A empresa de cartões pré-pagos BPP, por outro lado, afirma ter registrado um decréscimo ou estabilidade no número de transações feitas em segmentos chamados "tradicionais" entre março e junho deste ano ante o mesmo período do ano passado. Esse segmento inclui gastos como lazer, vestuário, transporte, combustível, academia e serviços diversos.

Por outro lado, as transações em meios virtuais, como em pedidos de delivery e compras em e-commerces, tiveram um crescimento bastante significativo, com alta entre 80% e 100% na comparação anual. Segundo a empresa, o pedido de cartões virtuais (normalmente usados para compras on-line) aumentou, no mesmo período, mais de 150%.

Os pré-pagos e o processo de bancarização

Segundo especialistas, o uso dos pré-pagos ajuda a aumentar o processo de bancarização da população. Isso porque ele permite que pessoas que não tinham acesso a uma conta corrente ou a crédito no banco, usem um meio de pagamento eletrônico.

Para entender esse processo, no entanto, é preciso entender como funciona um cartão pré-pago. Esses cartões geralmente estão associados a uma conta de pagamentos.

Diferente das contas-correntes (que só podem ser administradas por um banco e normalmente não têm limite de saques e depósitos), as contas de pagamentos podem ser administradas por outras instituições, desde que sejam reguladas pelo Banco Central. Nas contas de pagamentos, o cliente também pode realizar operações básicas, como pagar contas, transferir dinheiro e, inclusive, ter um cartão associado a ela.

Como o próprio nome sugere, esses cartões funcionam como os celulares pré-pagos: você só consegue usá-lo quando há um dinheiro depositado na conta de pagamentos associada a eles. Um exemplo mais comum são os cartões de benefícios, como o vale-alimentação e refeição, em que a empresa deposita um dinheiro naquela conta e, a partir daí, o trabalhador pode usar o cartão.
Segundo Carlos Ogata, presidente da Pagos, Associação de Gestão de Pagamentos Eletrônicos, a principal vantagem desses produtos é a facilidade. Diferente do que acontece nos bancos, o cliente não precisa passar por tantos processos para abertura de uma conta de pagamento, principalmente por não necessitar de análise de crédito, já que a maioria das instituições que oferecem essas contas não são autorizadas a fazer empréstimos.

"Hoje muitas fintechs oferecem contas digitais, que são contas de pagamentos. E elas têm lá um cartão pré-pago associado a essa conta que o cliente usa normalmente, como se fosse um cartão bancário", afirma. Um exemplo de uso é justamente o uso em e-commerces e aplicativos de serviços, que muitas vezes não aceitam o pagamento em dinheiro ou outros meios como boleto bancário.

Outra razão para o aumento das contas de pagamentos e, consequentemente, dos cartões pré-pagos foi a chegada de novas adquirentes (empresas de "maquininhas de cartão").

"Muitas dessas contas são associadas a um recebível, um POS, uma maquininha. São microempreendedores que antes não tinham maquininha e agora passam a ter uma. E ela normalmente é associada a uma conta de pagamentos, a um cartão pré-pago", explica Melo, da Visa.

Novos entrantes

A popularização dessas contas de pagamentos digitais fez com que outras empresas passassem a lançar produtos semelhantes e, com elas, também os cartões pré-pagos. Um exemplo mais recente foi o da Ame Digital, conta de pagamentos da B2S (dona de marcas como Lojas Americanas e Submarino).

A companhia lançou o cartão, com bandeira Mastercard, no final de julho. Em sua divulgação, a companhia destacou que o cliente "não precisa ter conta em banco" e com o plástico ele pode fazer compras em estabelecimentos comerciais e usá-lo "em compras on-line e planos de assinaturas de serviços como o Spotify, Netflix e outras plataformas digitais".

Segundo Melo, da Visa, esses lançamentos serão cada vez mais recorrentes. " Cresceu muito a procura por digitalização, principalmente por conta das novas fintechs ou startups. E isso acontece em diversos segmentos. Muitas empresas têm nos procurado porque querem ter um cartão associado à marca e à empresa", afirma a executiva.

Ogata, da Pagos, concorda e destaca que outro movimento importante que está acontecendo devido à pandemia é a busca das empresas por cartões pré-pagos para seus trabalhadores. "Agora, com o isolamento, com o home office, muitas empresas estudaram trocar o cartão de vale-alimentação por outro tipo, que dê para o funcionário gastar em outros estabelecimentos que faça mais sentido", afirma.

Segundo os especialistas, esse movimento deve fazer com que mais empresas lancem alternativas de serviços financeiros e, assim, mais pessoas tenham acesso aos meios eletrônicos de pagamentos.

 

Fonte: Valor Investe