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Renda do brasileiro deve piorar mais do que na grande maioria dos países

Terça, 02 Junho 2020

A perda de renda do brasileiro sob impacto da pandemia da covid-19 será maior do que a da grande maioria dos países, mostra levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) feito com base em dados do FMI.

Pela previsão do Fundo Monetário Internacional, o PIB per capita do Brasil – usado aqui como sinônimo de renda per capita -, que foi de US$ 14,1 mil em 2019, deve recuar 5,9% neste ano.

Esse movimento coloca o país atrás de 121 das 191 economias monitoradas pelo FMI, ou de 63% delas, segundo dados compilados pelo economista Marcel Balassiano.

“Hoje nós temos muitas incertezas, sobre praticamente tudo. Uma certeza que temos é que todos, ou praticamente todos, vão sair desta crise mais pobres do que entraram”, diz Balassiano. “Mas a maior parte dos países ainda vai ter um desempenho melhor do que o Brasil”, completa.

A previsão de queda no Brasil supera a de outros países emergentes, como Rússia (-5,3%), e de pares na América Latina, como Uruguai (-3,3%), Peru (-5,4%), Colômbia (-3,3%) e Paraguai (-2,3%).

Na Europa, que já foi epicentro da pandemia, as economias devem sofrer mais. A previsão de queda na renda per capita da Itália, por exemplo, é de 8,9% neste ano, no Reino Unido, -7,04% e Alemanha, -6,9%. Já a previsão para os Estados Unidos é de um recuo de 6,4%.

Em 2021, para quando é esperada a recuperação de parte das perdas, a taxa de crescimento brasileira nesse quesito está prevista em 2,2%. Desta forma, o país ficará atrás de 73% de 190 economias (o número total de países monitorados pelo FMI muda de acordo com o ano).

O resultado piora ainda mais quando analisado o biênio 2020-2021, que vai da recessão a uma possível recuperação. Neste intervalo, a taxa de crescimento da renda do brasileiro perde para 77% de 190 países.

Mesmo com essas variações, porém, a posição do Brasil no ranking de PIB per capita não muda tanto. Segundo Balassiano, em 2019, 45% dos países (86, de uma amostra de 192) tinham um nível de renda maior do que o Brasil. As projeções para a mesma medida são de 44% em 2020 e 45% em 2021.

Números otimistas

De acordo com as projeções do FMI, 64 países, que representam mais de 60% da economia mundial, devem apresentar seu pior desempenho econômico das últimas décadas. Balassiano destaca, porém, que o cenário, pelo menos no Brasil, já deve estar bem pior, já que os números do órgão são de abril.

“De lá para cá, a situação piorou consideravelmente aqui, muito em função da incerteza política somada à crise da Saúde”, diz.

Na época das projeções, a expectativa do FMI para o PIB brasileiro (-5,3%) era melhor que a do mercado, medida pelo Boletim Focus, de -3%. Hoje, a projeção do mercado já converge para – 6,3%. O FMI deve anunciar seus novos números em julho.

É preciso considerar também a deterioração esperada no mercado de trabalho, que deve se acentuar ainda mais ao longo do ano, refletindo também na renda do trabalhador. E sem previsão clara de volta. “A taxa de desemprego é sempre o último indicador a apresentar melhora após uma recuperação geral da economia”, diz o economista.

Pouco antes da última recessão que o Brasil teve, do segundo trimestre de 2014 até o final de 2016, a taxa de desemprego era de 6,8%. Três anos depois do fim da recessão, a variável ainda está longe de recuperar e atingiu uma média de 12% em 2019.

“Somando os desocupados, desalentados e subocupados, o país já tinha quase 70 milhões de brasileiros vulneráveis no mercado de trabalho antes do início da pandemia”, diz Balassiano. “Dessa vez, a crise pegou todo mundo de surpresa, e é muito forte”.

A década já estava perdida

O Brasil já caminhava, mesmo antes da pandemia, para concluir uma década perdida em termos de crescimento. Caso o PIB confirmasse a alta de 2% neste ano esperada por grande parte dos analistas em janeiro, a década de 2011 a 2020 teria um crescimento médio de 0,8% ao ano.

“Esse resultado já seria o pior dos ultimos 120 anos”, diz Balassiano. Agora essa média tende a zero, diz.

A chamada década perdida faz alusão aos anos 80, quando o PIB cresceu, em média 1,6% ao ano. Apesar das óbvias diferenças em índices como inflação e na vulnerabilidade externa, economistas veem paralelos no mix conjuntural das décadas perdidas, como piora da situação internacional, crises de liquidez, queda nos preços das commodities e políticas econômicas ineficientes.

 

Fonte: Exame