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Em meio à pandemia, empresas de saúde devem divulgar alta nos lucros

Quarta, 06 Maio 2020

O mundo enfrenta em 2020 o maior desafio de saúde das últimas décadas com a pandemia do novo coronavírus, que já deixou 7.921 mortos no Brasil. E algumas das principais empresas do setor de saúde divulgam nesta semana seus resultados para o primeiro trimestre. Apesar dos desafios e da falta de leitos no setor público, os números do setor privado por enquanto devem sofrer apenas alguns arranhões.

Isso porque a crise do coronavírus começou quando o trimestre já estava no final e pegou as companhias em meio a um forte movimento de consolidação. Para analistas do banco BTG Pactual, a crise será negativa para todos, mas as empresas de saúde de capital aberto “devem emergir com uma vantagem competitiva ainda maior”. Operadoras menores devem sofrer bem mais.

O Grupo Notredame Intermédica divulga resultados hoje, após o fechamento do mercado. Em relatório publicado na semana passada, analistas do BTG afirmam esperar alta de 29% na receita da companhia, para algo em torno de 2,4 bilhões de reais, em parte devido à incorporação de operações recém-adquiridas. Se desconsideradas as aquisições, a expectativa ainda é de aumento de 15% na receita. O lucro deve ficar em 150 milhões de reais, alta de 45% na comparação com o primeiro trimestre de 2019. A empresa vem operando em um ritmo acelerado de aquisições e terminou 2019 com lucro líquido de 423,6 milhões de reais.

A semana também terá os resultados da administradora de planos Qualicorp, com divulgação prevista para quinta-feira, e da operadora Hapvida, cujos números devem sair na sexta. Para a Qualicorp, o BTG Pactual estima receita de 490 milhões, alta de 5% na comparação com o ano anterior, mas queda de 1% no Ebitda, devido a maiores custos de comercialização. Cabe lembrar que a Rede D’Or, de capital fechado, maior rede de hospitais particulares do país, comprou 10% da Qualicorp no final do ano passado.

Já para a Hapvida, que tem forte presença no Nordeste, o BTG espera alta de mais de 60% na receita do trimestre, impulsionada por aquisições recentes. O número de beneficiários deve crescer 50% na comparação com o ano anterior – esse aumento é de 4,5% se excluídas as aquisições. O lucro esperado é de 247 milhões de reais, 20% a mais que no ano anterior.

Após abrir capital em 2018, a Hapvida foi às compras em 2019. Com a crise da covid-19, porém, suspendeu todas as negocioações que mantinha para novas fusões e aquisições, a fim de garantir liquidez. A empresa terminou 2019 com lucro de 866,6 milhões de reais, alta de 9,9% ante 2018.

As empresas do setor têm evitado falar sobre internações e mortes causadas pela pandemia. Em parte devido à pressão cada vez maior para que o poder público controle leitos privados, devido à lotação das UTIs no Sistema Único de Saúde.

Mas a Hapvida está divulgando boletins diários sobre casos de Covid-19 entre seus clientes. Até ontem foram 5.101 casos confirmados e 275 mortes. Entre internados havia 156 na UTI e 292 na enfermaria. A operadora investiu 65 milhões de reais no combate à pandemia. Dentre as ações, criou 116 novos leitos de UTI, chegando a 671 leitos, e diz que tem possibilidade de criar mais 154 caso haja necessidade.

A operadora não descarta que a pandemia afete sua taxa de sinistralidade, índice que mede a relação entre quanto a empresa recebe e quanto ela gasta com serviços de saúde. A Hapvida tem a melhor taxa do mercado, com 60%. Dentre os pontos que podem levar a um aumento do indicador estão a demanda por internações da Covid-19 e a demanda por procedimentos eletivos, que foram adiados devido à pandemia e devem retornar assim que a situação do coronavírus se normalizar.

Um risco para as empresas do setor é que o coronavírus aumente a inadimplência e leve clientes a encerrar contratos, já que muitas empresas estão cortando custos para sobreviver. Outro, de imagem, é passar a impressão de estar fazendo menos que o possível para auxiliar no combate ao coronavírus. Em meio à pandemia, os riscos são para todos.

 

Fonte: Exame