A instabilidade política causada pela saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça na última semana pressionou ainda mais os ativos no mercado financeiro que já vinham caindo em meio à pandemia de coronavírus (covid-19). Em cinco pregões, o Ibovespa, principal indicador da Bolsa, acumulou perdas de 4,63%, enquanto o dólar subiu 8,11% no mesmo período.
Com a deterioração do cenário, os gestores de fundos tiveram ajustar posições para tentar amenizar as perdas. A estratégia adotada pelas gestoras foi buscar proteção e internacionalização da carteira para evitar a concentração do risco-Brasil. É o que aponta o relatório “Uma crise dentro da outra, uma nova ronda no mercado” realizado pela Exame Research e divulgado nesta quarta-feira, 29. Foram analisadas as estratégias adotadas pelos fundos de ações, macro (multimercado) e crédito privado.
Fundos de ações e macro
No caso dos fundos de ações, houve redução de posições em empresas que podem sofrer impacto maior com incerteza política, como estatais. Também houve aumento de exposição em empresas com menor aderência a esse fator de risco. Os gestores têm optado, por exemplo, em ter ou elevar exposição na carteira ações de empresas exportadoras devido à valorização do dólar frente ao real. Os papéis dos bancos e das empresas de proteína também lideram as indicações.
Outro destaque de indicações foram as ações de empresas de telecomunicações, que ganharam relevância com o isolamento social e devem seguir neste ritmo nos próximos meses.
“A visão de longo prazo da maioria dos gestores recomendados por nós, porém, não mudou. Afinal, haverá vida após a tormenta e, por isso, um dos maiores erros seria mudar a tese de investimento fundamentalista em função de eventos como esse (seja a pandemia, seja a crise política)”, afirmam os analistas Renato Mimica e Juliana Machado, que assinam o relatório.
Entre os fundos com estratégia macro ( fundos de investimentos de multimercado), o relatório aponta que gestoras analisadas optaram por ativos mais líquidos, possibilitando o desmonte de posições em caso de agravamento da crise e aumento de exposição em títulos e ações de outros países, como México.
Fundos de Crédito
Em relação aos fundos de crédito privado, a equipe de analistas da Exame Research destacou que por um longo período esse tipo de investimento foi erroneamente avaliado pelos investidores como imune ao risco. “Não é porque o produto está na renda fixa que ele é livre de riscos.”
Entre as estratégias adotadas pelos gestores estão alteração das metas de retorno dos fundos de crédito privado, em vez de utilizar a visão expressa como um percentual do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), alguns fundos passaram a perseguir um guidance expresso em CDI+ (CDI somado com um percentual). Outra mudança foi aumentar a exposição em títulos ‘triplo A’ e ‘double A mais’ [com classificação de risco AAA e AA+, os mais altos do mercado], além de reduzirem posição em setores diretamente afetados pela pandemia.
Diversificação internacional
Em relação à diversificação internacional, a equipe de analistas da Exame Research destaca que as limitações regulatórias para produtos focados em ativos no exterior ainda são frustrante ao investidor, já que a maioria destinado a investidor qualificado (aqueles com mais de 1 milhão de reais em investimentos). Entretanto, existem algumas possibilidades como ETF de S&P 500 e BDR (Brazilian Depositary Receipts).
“Quem for capaz de fazer isso já sai na frente de boa parte dos investidores de mercado dominados pelo chamado olhar doméstico, concentrado apenas no risco-país. Mas atenção: vale o reforço de que esse tipo de investimento traz para o portfólio dois riscos – cambial e internacional.
Fonte: Exame